O Violando, programa apresentado pelo músico e pesquisador de ‘viola urbana’ João Araújo, é um espaço para a música de viola aparecer fora dos horários convencionais oferecidos pelas poucas rádios que tocam: manhãs de domingo e madrugadas durante a semana. Apresentado ao vivo todas as segundas, 21hs, pela rádio Inconfidência de Belo Horizonte, AM, o programa tem uma hora de muita prosa e cantoria boa.
— Recebo violeiros normalmente daqui da região, porque ainda não há verba para trazer gente de outros estados, para uma conversa boa e música ao vivo, que é um diferencial que estou tentando implantar, já que os programas de rádio geralmente trabalham com músicas já gravadas. Aqui cada um traz o seu instrumento, cantamos, tocamos, falamos de viola, contamos causos e o que surgir na hora, tendo muito improviso — fala.
O programa, que estreou em junho último, tem recebido muita resposta positiva por parte do povo, com participação intensa através de mensagens e ligações sugerindo e comentando trechos.
— Venho tentando há muito tempo um lugar para a viola na mídia tradicional de rádio, televisão e jornal, o que é muito difícil. O Violando é o primeiro espaço que consigo para falar exclusivamente do gênero, buscando uma integração com os violeiros. Na verdade não sou radialista e sim um artista que faz um programa no rádio, com a intenção de ajudar outros artistas e a própria arte. Fui contratado exatamente por causa da minha atividade de músico, compositor e intérprete — explica.
João começou a aprender tocar viola, violão e cavaquinho há 30 anos, como músico autodidata, mas, para sobreviver trabalhou por tempos como bancário e agente de turismo, e tocou por cinco anos em bares e festas, assumindo ‘voz e violão’, algo comum quando se toca nas noites, contudo sempre manteve seu envolvimento com a viola caipira. Em 1999, pôde enfim assumir a condição de músico profissional e gravar seu primeiro cd.
Através do seu trabalho, João Araújo procura criar uma rede de pessoas que amam a cultura brasileira e querem se dedicar em favor da sua valorização e permanência.
— Existe um grande volume de pessoas nesse Brasil que ainda acha que a cultura é uma das formas de melhorarmos nosso país, e principalmente a valorização da cultura nacional. Procuro me aproximar dessa gente e, juntos vamos vencendo barreiras — diz.
Além do Violando, João se dedica à carreira de músico, compositor, cronista, pesquisador. Apresenta-se em shows por todo o país, e sempre está envolvido com algo mais que tenha a ver com cultura.
A viola da cidade
O Violando é fruto da pesquisa Viola Urbana, que João iniciou a partir de 2004, em torno do universo da viola, investigando suas influências na música e nas pessoas das grandes cidades, sendo ele mesmo, nascido e criado em Belo Horizonte, um violeiro urbano, e também a viola caipira tradicional, mostrando que a música caipira excede ao meio rural.
— O nome Viola Urbana é exatamente porque queria ser bastante autêntico e não assumir nada que não conhecesse. É uma pesquisa popular voluntária, baseada nas minhas experiências de vida, depoimentos de violeiros, luthiers de viola, todos envolvidos nesse universo, e bibliografia diversa. Uma homenagem de quem e para quem é da cidade, mas ama a viola, respeita e consegue ver o seu valor dentro da cultura brasileira — explica.
— E a pesquisa procura dizer o quanto ela está presente na música popular brasileira num todo, além de mostrar a tradição desse instrumento que favoreceu o aparecimento de muitas carreiras maravilhosas no Brasil inteiro. O que mais me levou a registrar tudo sobre viola foi o grande número de artistas influenciados por ela, com músicas feitas dentro da temática viola e temática interiorana, e também nos arranjos. Em praticamente todos os estilos brasileiros, em todos os estados, se consegue vê-la, sendo preciso retratar isso — acrescenta.
— Gosto de divulgar e engrandecer artistas que defendem a cultura nacional, e muitas vezes, embora morando na cidade e, assim como eu, inteirados das ‘coisas da tecnologia’, continuam mantendo essa cultura. Assumi como missão principal falar sobre viola, e levar o povo a se voltar mais para o que é seu, valorizar o nacional, porque é bom. São muitas as informações, com frutos rendidos, e continuamos a colhê-los, porque já diziam os antigos que pesquisa boa é aquela que nunca acaba — continua.
Apesar de ter nascido na capital e ter tido sempre uma vida urbana, João não nega que teve contato com o mundo rural através de seus tios e avós, e diz que o povo de Belo Horizonte, uma cidade com pouco mais de cem anos de existência, em sua maioria, ainda guarda muito das ‘coisas da roça’.
— Aqui ainda não têm duas gerações totalmente da cidade, assim como em muitas outras capitais do Brasil. Meu avô, de quem gostava muito, morava na cidade de Cordisburgo, a terra de Guimarães Rosa, e era violeiro, sem que eu soubesse disso por toda minha infância. Ele morreu quando eu estava com 12 anos de idade. Tamanha foi minha surpresa que acabei escrevendo um livro, que devo lançar ainda este ano. É uma homenagem a ele e ao violeiro também — conta.
João Araújo mantém um portal na internet: www.violaurbana.com.br com detalhes de sua pesquisa e de músicas gravadas, trabalhos que faz, e trechos do programa ‘Violando’, além de uma lojinha onde vende discos e DVDs seus e de companheiros, a maioria artistas independentes de Minas Gerais.
— O projeto Viola Urbana envolve textos, encartes, registros em CDs e DVDs. Minhas gravações são independentes, sendo que para algumas tenho conseguido patrocínios e outras são produzidas do meu próprio bolso e colocadas à venda no portal. Além das minhas gravações, coloco a venda também a de companheiros daqui, por saber que estão na mesma condição — constata João.
— Aqui é um ajudando o outro, dando as mãos para que todos vivam e cresçam, e igualmente a cultura brasileira da música de viola. Por mais que tenha recebido influência de outras culturas, a viola sempre é forte, e com certeza quem venceu tudo que ela já venceu desde o início do Brasil, vai continuar vencendo, e vamos proseando e violando também — finaliza convidando a todos a ouvir seu programa — rádio Inconfidência, AM, 880, Belo Horizonte.