Protesto no Rio: “Fora do Brasil, Barack Obama!”

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Protesto no Rio: “Fora do Brasil, Barack Obama!”

Precedida por um festival de bajulações e fartamente repercutida pelo monopólio dos meios de comunicação, a passagem de Barack Obama no Brasil era ansiosamente aguardada pelas classes dominantes locais, afoitas por extravasar seu lacaísmo barato. Mas um combativo protesto fez ruir a máscara de “unanimidade” e abalou os festejos entreguistas.

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Movimentos e organizações populares repudiaram a presença de Obama no Brasil

Dos capachos: aplausos

Com grande alarde foi anunciado um “grande discurso” do chefe ianque na Cinelândia, importante praça no centro do Rio de Janeiro, e a visita a uma favela ‘pacificada’.

Um forte esquema de segurança foi montado em Brasília e no Rio de Janeiro, cidades por onde passou Obama. Agentes ianques já estavam há dias em território brasileiro investigando e mapeando todas as rotas por onde passaria a comitiva. Durantes vários dias foram os agentes ianques que apitaram diretamente sobre o trabalho das forças de repressão e deram as ordens sobre tudo: quem teria direito de entrar e sair dos locais, sobre o trânsito, cerceando o famoso “direito de ir e vir” de milhares de pessoas, proibindo manifestações, fechando o espaço aéreo, entre outras  ingerências.

Apesar de as notícias sobre o dia 19 em Brasília não terem repercutido como as do dia seguinte no Rio, foi no primeiro dia, na capital federal, que foram tratados os assuntos que  trouxeram Obama ao Brasil. Reafirmando o preceito fundamental da sua doutrina, o chefe ianque distribuiu galanteios e, com a colaboração dos meios de comunicação da burguesia, buscou reforçar  as mistificações em torno do marketing político da mudança de atitude do USA enquanto, nas salas de reuniões, seus assessores, secretários e os emissários dos monopólios acertavam com as gerências do velho Estado os termos do incremento da rapina na semicolônia. Assuntos como a exploração do pré-sal, das demais riquezas minerais e naturais do nosso país e a renovação dos votos de entreguismo do gerenciamento semicolonial foram anunciados como “acordos comerciais e de investimentos do USA no Brasil”.

Foi também em Brasília que Barack Obama ordenou a intervenção e bombardeios contra o território líbio.

No seu discurso em Brasília, Roussef falou de uma suposta “igualdade” entre Brasil e USA, de “desenvolvimento econômico” e mendigou mais uma vez um posto no conselho de segurança da ONU. Obama, por sua vez, com muito mais jogo de cintura que Roussef, falou da “crescente classe média brasileira”, dos nossos recursos naturais e de “direitos humanos”. 

Do povo: ódio de classe

No Rio de Janeiro, as coisas não seguiram segundo o script ditado pelos ianques.

Temendo protestos populares, o “esperado discurso” na Cinelândia foi cancelado e transformado em um ato de portas fechadas no Teatro Municipal, também no centro do Rio, para uma lista seleta de bajuladores, deixando um punhado de outros, insatisfeitos, de fora.

No dia 18 de março, cerca de duzentas pessoas se concentravam na Candelária, no centro do Rio para um protesto contra a presença de Obama no Brasil. Naquele mesmo dia, pela manhã, a direção nacional do PT enquadrou seus setores “indisciplinados” que anunciaram suas intensões de manifestação, e desautorizou a sua militância.

A reportagem de AND, presente para a cobertura do ato no dia 18, aguardava o início da manifestação. Presenciamos várias “siglas” e agrupamentos indo e vindo no largo da Candelária enquanto aguardavam. Um desproporcional aparato policial proibiu que o carro de som seguisse e não permitiu sequer que se ligassem os alto-falantes. Dezenas de policiais da tropa de choque da PM se postaram ameaçadoramente e de armas em punho tentando intimidar. Pequenos grupos se formavam e se desfaziam e as pessoas perguntavam-se o que estava acontecendo, o porque do protesto não começar. Uma jovem de bandeira em punho eleva sua voz e se dirige aos manifestantes: “Nossos companheiros estão sendo mortos no Iraque e Afeganistão, nós vamos temer a polícia e não vamos protestar?” Vergonhosamente, os representantes de algumas dessas “siglas”, submissos ao enquadramento petista e temerosos por uma possível repressão policial enrolaram as suas bandeiras e debandaram.

Um grupo menor, porém mais compacto, de manifestantes decidiu seguir com o protesto. Já era noite quando ergueram as bandeiras, estenderam as faixas e se ouviu os gritos de “Yankees, go home!” (Ianques voltem para casa!), “Fora ianques da América Latina!”, “Fora daí, Obama do Brasil e Dilma do Haiti!”. O protesto seguiu pelas ruas do centro, chamando a atenção da população. Em passo acelerado, os manifestantes dirigiram-se ao consulado ianque. A polícia tentava conter a pequena coluna que seguia veloz pela avenida.

Os manifestantes gritavam e avançavam. Diante do consulado ianque, um cordão de isolamento e mais policiais. Os manifestantes com suas faixas, bandeiras e palavras de ordem. Do meio do protesto são arremessados coquetéis molotov (artefatos incendiários) contra a fachada do consulado. Agindo com truculência, a PM abriu fogo e atirou bombas contra os manifestantes que se dispersaram. A polícia os seguiu, cercou, revistou e prendeu 13 pessoas, entre elas um menor de idade.

Conversa para boi dormir

No dia seguinte, a chegada de Obama ao Rio não podia sustentar mais a arrogância da “unanimidade” que, diga-se de passagem, apesar do bombardeio do monopólio das comunicações, jamais existiu.

Numa passagem relâmpago pela favela Cidade de Deus, na zona Oeste do Rio, 20 minutos bastaram para Obama. Referindo-se às políticas de Cabral e Eduardo Paes, que ora vêm levando a cabo um massivo projeto de repressão e contenção da pobreza, parabenizou o “excelente trabalho” que as gerências da cidade e do estado do Rio têm desenvolvido. O secretário de segurança, José Mariano Beltrame, disse o seguinte acerca da ostensiva presença de agentes e espiões ianques nas ruas do Rio e a verdadeira operação de guerra que realizaram na cidade: “Eles fizeram o que acharam por bem e a gente apoiou”.

Depois, no Teatro Municipal, em uma fala laudatória para uma plateia de cerca de mil pessoas, Obama afagou, gastou palavras em um português ensaiado, demonstrou conhecimento de fatos da história do Brasil e até sobre a tabela do campeonato de futebol do estado do Rio de Janeiro, e elogiando a cultura brasileira, propôs uma relação com o nosso país fundada na “igualdade” e na “tolerância”, duas palavras caras à sua contrapropaganda enganosa. Tudo que o séquito de puxa-sacos queria ouvir.

Mais que mil palavras

No dia 21 de março, Obama se retirou e os presos políticos da manifestação do dia 18 foram libertados. Apesar das prisões, da truculência das forças de repressão e do servilismo das classes reacionárias, o mundo pôde saber que uma parcela do povo brasileiro resistiu e combateu. O repúdio à presença do chefe ianque no Brasil foi notícia em inúmeros veículos de comunicação em nosso país e em diversos outros países. Engasgados, os âncoras do monopólio das comunicações tiveram que anunciar em rede nacional que um grupo de patriotas demonstrou com atos, mais que palavras, para que todos pudessem ver que Obama não era bem vindo em nosso país.

Enfim, a passagem do chefe ianque pelo Brasil, festejada e ensalsada pela reação, foi bravamente maculada pelo combativo protesto popular.

Quando Obama embarcou rumo ao Chile, milhares de manifestantes já o aguardavam lá, protestando contra sua chegada. No dia 21, dois protestos, um em Santiago outro em Concepción, terminaram em confrontos dos manifestantes com a polícia, culminando na prisão de 12 e 7 manifestantes em um e outro ato, respectivamente.

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