Manifestantes antiimperialistas não se intimidaram diante da repressão policial
O final do mês de março e começo de abril últimos foram marcados por uma série de protestos populares na Europa. As ruas de diversas cidades da Inglaterra, França, Alemanha e Turquia foram tomadas por milhares de manifestantes que ergueram bandeiras contra as agressões imperialistas na Palestina, Iraque e Afeganistão, contra as demissões e consequências desastrosas da crise do imperialismo sobre a classe trabalhadora. Ainda que pese as direções oportunistas ao velho estilo do WSF (sigla em inglês do Fórum Social Mundial), além das ONGs que confundem as massas com as políticas imperialistas que preconizam os falsos "ambientalismo" e "pacifismo" para desviar a atenção das massas da luta de classes, diversos setores conscientes das massas enfrentaram as forças de repressão dos velhos Estados e atacaram o imperialismo como o responsável pelo sofrimento dos povos do mundo.
No dia 28 de março, uma semana antes do encontro do G20 na Inglaterra, mais de 35 mil manifestantes participaram de um grande protesto em Londres. Os manifestantes protestavam contra a onda de demissões em massa em toda a Europa. Milhares de famílias incorporaram o protesto, muitos pais levaram carrinhos de bebê e seus filhos para as ruas.
Esta primeira demonstração foi a senha para milhares de pessoas tomarem novamente as ruas da capital britânica no dia 1º de abril. Manifestações eclodiram em diversos pontos da cidade e se concentraram no Centro, onde travaram forte enfrentamento com as forças de repressão. Os manifestantes quebraram as vidraças do Royal Bank of Scotland (grande banco localizado no Centro de Londres) e invadiram o seu prédio.
Hotel incendiado na Alemanha
Dezenas de manifestantes foram presos durante os protestos. Centenas de jovens com os rostos cobertos assumiram a linha de frente em combativos enfrentamentos.
O vendedor de jornais Ian Tomlinson, de 47 anos sofreu um infarto durante os combates. A Comissão Independente de Denúncia da Polícia (IPCC, na sigla em inglês) abriu um inquérito sobre a morte de Tomlinson após surgir um vídeo que mostra um policial derrubando-o pouco antes de desfalecer. Nos dias seguintes ao protesto milhares de pessoas voltaram às ruas de Londres para depositar flores e velas no local onde o jornaleiro morreu.
No dia 4 de abril foi a vez dos povos da França e da Alemanha se rebelarem. Milhares de pessoas manifestaram em Estrasburgo (França), Baden-Baden e Kehl (Alemanha) contra a reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte — Otan. Ocorreram violentos protestos populares em toda a cidade e as forças de repressão do velho Estado prenderam mais de 300 manifestantes.
Um hotel, denunciado pelo combativo Círculo de Estudos A Rebelião se justifica! da Alemanha como sendo um quartel da repressão, e não simplesmente um hotel como noticiou todo o monopólio da imprensa, foi atacado e incendiado pelos manifestantes, assim como uma estação ferroviária e um escritório de turismo foram incendiados na Alsácia, região fronteiriça com a Alemanha.
Em seu comunicado, o Círculo de Estudos declara que "Com motivo das massivas mobilizações populares contra a cúpula da OTAN, realizada de 3 a 4 de abril do presente ano, participamos exitosamente nas ações e manifestações de rechaço e repúdio a esta organização genocida encabeçada pelo imperialismo ianque. Participamos com um contingente anti-imperialista da Alemanha do Norte, assim como todos os comunistas, revolucionários e progressistas, temos lutado implacavelmente contra esta cúpula, os imperialistas do Ocidente e seus lacaios".
O Círculo ainda denunciou a ação da polícia e a gendarmeria do imperialismo francês, que atirou lança-foguetes diretamente contra os manifestantes, as prisões arbitrárias e a tortura dos detidos, além do uso de veículos blindados e forças militares contra a população civil.
No dia 6 de abril, milhares de pessoas saíram às ruas de Ancara, capital da Turquia, contra a presença de Barack Obama no país e contra a política rapace do USA. Durante todo o dia podia se ouvir os brados da palavra de ordem internacional dos povos do mundo em luta contra o imperialismo: "Yankees, go home"# (em português: "Ianques, voltem para casa!" e no sentido estrito da palavra: "Fora ianques!").
Pelo mundo, mais Greves e mobilizações
Patrick Granja
América Latina
No Uruguai, no dia 31 de março, trabalhadores decidiram parar os serviços e apontam para a construção de uma Greve Geral no país. Em Santiago do Chile, no último 2 de abril, violentos protestos de professores ocuparam as ruas contra a Lei Geral de Educação — LGE, aprovada no dia 1º de abril pelo Congresso chileno.
O protesto se desdobrou em confronto entre os manifestantes e a polícia. 44 professores e três dirigentes sindicais foram presos quando se dirigiam para o Ministério da Educação para entregar uma pauta de reivindicação e protesto contra a LGE. Seis carabineiros (policiais militares) foram feridos durante os confrontos.
Europa
Na Espanha a preparação da Greve Geral já começou no País Basco. Vários sindicatos anunciam, para o dia 21 de maio próximo, a paralisação total das atividades contra o desemprego e o que eles chamam de "chantagem patronal". Também na Espanha, no último dia 23 de março, estivadores do porto de Barcelona entraram em greve com adesão de 100% dos 1.600 trabalhadores em atividade. Eles começaram o movimento com a interrupção por 48 horas de todas as cargas, descargas e entregas de mercadoria às empresas destinatárias.
África
Na Nigéria, onde o petróleo é a principal fonte de riqueza, trabalhadores do setor anunciaram uma Greve por tempo indeterminado em resposta à imobilidade do governo nas negociações com a categoria. O movimento começou com uma paralisação de três dias deflagrada a partir de 24 de março, que também não teve resposta das autoridades, o que levou os petroleiros à revolta e à greve posteriormente.
Em Madagascar, depois de um covarde golpe militar, trabalhadores anunciaram a Greve Geral com interrupção de todas as atividades administrativas na chamada Autoridade Suprema de Transição. Um protesto com cerca de 15 mil pessoas que decidiu pela Greve foi duramente reprimido pelas forças militares do Estado e teve um saldo final de 30 manifestantes feridos.
Para protestar contra a onda de medidas do presidente Hosni Mubarak que causaram a demissão de milhares de trabalhadores, operários egípcios decretaram Greve Geral por tempo indeterminado a partir do dia 6 de abril.
Greve Geral pára a Grécia contra o desemprego
No início do mês de abril a Grécia foi sacudida por mais uma Greve Geral, a segunda em menos de 5 meses. Milhares de trabalhadores tomaram as ruas contra o desemprego e em um grande protesto político contra o G-20, engrossando os protestos contra o imperialismo em todo o mundo.
A Greve paralisou vários setores. Os aeroportos praticamente pararam, os navios mantiveram-se ancorados nos portos, assim como paralisou todo o transporte público (metrô e ônibus), as transmissões das rádios foram suspensas, as televisões e os jornais não deram notícias, os hospitais asseguraram apenas os serviços mínimos, os professores, banqueiros e funcionários públicos também aderiram ao movimento.
Trabalhadores franceses enfrentam o patronato com nova Greve Geral
Barricadas de pneus são montadas nos protestos dos trabalhadores franceses,
que ocorreram em 200 cidades e contou com a participação de mais de 3 milhões de pessoas
Na França, pela segunda vez somente esse ano, trabalhadores decretaram Greve Geral e tomaram as ruas do país no dia 19 de março para protestar contra a onda de demissões e a política patronal do gerente Nicolas Sarkozy. Segundo estimativas do movimento sindical, mais de 3 milhões de pessoas participaram das manifestações, que aconteceram em 200 cidades francesas, superando o total de manifestantes presentes no protesto do dia 26 de janeiro, que reuniu cerca de 2,5 milhões de pessoas. Em diversas regiões houve confrontos com a polícia, dezenas de carros foram queimados e bancos foram apedrejados. Pesquisas realizadas com trabalhadores em todas as partes do país revelam que 75% da população apóia a Greve
A recessão na França também atinge índices alarmantes e até agora mais de 2 milhões de trabalhadores já perderam seus empregos. Em uma demonstração firme da autoridade das massas no país, funcionários em greve do grupo farmacêutico e de tecnologia 3M na França, depois do anúncio de 110 demissões na unidade de Pithiviers, no sul do país, impediram o diretor industrial Luc Rousselet de deixar a sede da empresa, até que fosse negociado um acordo. Ele ficou por dois dias no local e só foi liberado depois de aceitar as condições dos trabalhadores.
Esse foi o segundo caso em menos de um mês em que diretores de grandes empresas são mantidos reféns por trabalhadores em greve. Em Bourdeaux, funcionários da gigante Sony mantiveram o presidente executivo da empresa Serge Foucher, durante toda uma madrugada preso até que aceitasse suas reivindicações. A revolta começou depois que Foucher anunciou o fechamento da unidade de Pontonx-sur-l'Adour e a demissão de todos os 311 funcionários, além de 8 mil outros empregados em outras unidades.