No início de março o jornal catalão Gara publicou uma entrevista com o jornalista e economista grego Leonidas Vatikiotis, que ficou conhecido por ser o editor científico do recente documentário “Dividocracia”, que mostra como as políticas impostas pela Europra do capital monopolista e financeiro às nações “periféricas” da União Europeia levaram à devastação econômica e social destes países. O filme mostra também como agora a “gestão” da “crise da dívida” pelos poderosos da UE atende apenas aos interesses dos grandes grupos financeiros das potências europeias, sobretudo da Alemanha, castigando ainda mais as massas trabalhadoras da Grécia, Irlanda, Portugal e outros membros ditos “de segunda linha” da zona do euro.
Na entrevista ao Gara, Leonidas Vatikiotis, que atualmente está empenhado em uma campanha por uma auditoria da dívida externa grega para identificar o quanto desta dívida é ilegítima mesmo sob as regras do sistema financeiro internacional, confronta o discurso dos financistas e do monopólio da imprensa burguesa dizendo que na origem do atual estado das coisas na Grécia estão o FMI e a Otan. Ele ressalta que o problema da Grécia “não são os salários, o custo do Estado de bem estar, porque na realidade nunca chegamos a desfrutar de altos salários nem de hospitais bem equipados”.
A verdadeira causa do crescimento descontrolado da dívida grega foram “os empréstimos do FMI ajudados por uma classe política corrupta e um gasto militar descontrolado”.
“A dívida grega, que era de 115% do PIB quando o governo decidiu pedir ajuda ao FMI, agora é de 165% do PIB. O custo real das Olimpíadas de 2004 [realizadas em Atenas], que oficialmente se estima em nove bilhões de euros, estaria na verdade entre 25 bilhões e 28 bilhões de euros, fruto da corrupção. O gasto militar, o segundo mais alto dentro da Otan, ficando atrás apenas dos gastos do USA, alcança 3,5% do PIB, uma porcentagem escandalosa e totalmente desproporcional”, enumera Vatikiotis.
Segundo o economista, a participação da Grécia na União Europeia significou a desarticulação de sua economia, como foi com o restos dos países periféricos do bloco europeu.
‘Catastroika’
Em poucos anos, relata Leonidas Vatikiotis, a Grécia perdeu todo o seu tecido industrial e foi desmantelada sua agricultura, até ao ponto de atualmente ser deficitária em produtos alimentares básicos, que o país precisa importar.
Vatikiotis afirma: “o que aconteceu na Grécia foi um golpe de Estado perpetrado pela União Europeia para estabelecer a banca internacional no governo” de Atenas. E, segundo ele, “tudo o que veio a seguir constitui uma verdadeira fraude política e econômica”.
Como exemplo disso o economista cita o fato de que “12 bilhões de euros pertencentes ao fundo de pensões da Seguridade Social, em mãos do Banco Central da Grécia, perderam-se em quitações dos encargos da dívida. Ao mesmo tempo, 50 bilhões de euros do novo empréstimo [junto ao FMI] se destinaram à recapitalização dos bancos gregos, quando, curiosamente, bastariam 40 milhões para seu saneamento e nacionalização”.
Para ele, o pior de tudo são as “reduções salariais da ordem de 30%, das aposentadorias, privatização de todas as propriedades estatais, cortes selvagens na saúde… o custo social destas medidas será catastrófico e tudo isso sob o controle da lei britânica, para maior segurança dos investidores, ainda que a custa do povo”.
No final de março Leonidas Vatikiotis apresentou um outro documentário, intitulado “Catastroika”, sobre a devastação social promovida pela chamada “troika” (FMI, União Europeia e Banco Central Europeu) na Grécia sob o argumento de sanar as contas públicas do país.
É claro que as análises de economistas integrados ao sistema capitalista, como Vatikiotis, carecem de elementos de classe mais aprofundados, e é claro também, por exemplo, que, antes do FMI e da Otan, as origens da “crise da dívida” na Grécia estão na crise geral de superprodução do capital monopolista que assola o mundo burguês. Mas os elementos que ele apresenta ajudam a atestar a infâmia do que ora o grande capital europeu tenta fazer com a Grécia e com o povo trabalhador grego, e servem de munição para a brava luta das massas insurretas. Apesar da forte repressão e o draconiano arrocho a que vêm sendo submetidas, essas massas marcham, protestam, enfrentam e fazem seus inimigos tremerem sob a autoridade do povo em defesa dos seus direitos e do seu país.