O DVD com o show Vinícius e Caymi em Cy, gravado ao vivo em 2004, acrescentado de depoimentos e participações especiais, marca a comemoração de mais de quarenta anos de existência do Quarteto em Cy. Sempre preocupadas em cantar a boa música brasileira, as meninas, como eram carinhosamente chamadas pelos amigos ilustres, estão ansiosas para a chegada do DVD às lojas, provavelmente até meados de janeiro, e garantem que está maravilhoso.
O show que aparece no DVD lembra um outro feito em 1964/65, quando as meninas cantaram ao lado de Vinícius de Moraes e Dorival Caymi, na boate Zumzum, em Copacabana, no Rio, sendo praticamente o lançamento do grupo. Vinícius, uma espécie de padrinho das meninas, conheceu a baiana Cyva, uma das quatro irmãs, em 1962 e ficou encantado com a voz da moça. Mais tarde, Cybele, Cynara e Cylene, vieram morar no Rio e a simpatia do poeta expandiu para as demais baianinhas, como ficaram conhecidas.
Ele foi um dos principais incentivadores das meninas, e além de dar toda coragem, força e dicas que elas precisavam para início de carreira, pelo menos duas vezes por semana as levava nas festas que frequentava e dessa forma as entrosou com pessoas importantes da MPB, como Edu Lobo, Baden Powell, Francis Hime, Carlos Lyra, que deu a idéia do nome do grupo por causa das iniciais das quatro irmãs.
— Não temos cenas do show de 1964 no DVD, mas muitas lembranças. Cantamos sucessos como: Berimbau, Saudade da Bahia. Contamos historias, falamos da apresentação do Vinícius e do Caymi, um apresentando o outro, lembramos vinhetas bem humoradas feitas especialmente para o show. Falamos do 'bate papo' que acontecia entre os dois durante o show, quando de uma forma muito engraçada Vinícius falava do dia-a-dia, do que estava acontecendo no Brasil na época — Conta Cynara, acrescentando que o show durou duas grandes temporadas de sucesso, em 1964/65.
— Temos participações do Ruy Faria, Chico Faria e MPB4 cantando. Os depoimentos são de pessoas que sempre nos acompanham, com: Chico Buarque, MPB4, Ruy Faria, dos filhos do Dorival: Nana e Danilo, e das filhas do Vinícius: Georgiana e Luciana. O depoimento principal é o do Vinícius, gravado em um especial de 1974/75 que conseguimos na TVE. Ele nos apresenta e conta como nos lançou — diz.
O grupo está com a mesma formação desde 1979/80, saindo somente uma das irmãs da formação original da década de 60, e entrando em seu lugar Sonya, que já havia trabalhado com o Quarteto em 1967, substituindo provisoriamente uma componente.
— Temos uma banda maravilhosa que nos acompanha, que é o Misael da Hora, filho do Rildo Hora, no piano; João Cortez na bateria; no contra-baixo é João Faria, meu filho mais velho, e na participação especial e no violão é o Chico Faria, meu outro filho — conta com orgulho.
O DVD foi gravado de forma independente e será distribuído para todas as lojas.
— Ultimamente as grandes gravadoras querem artistas que cantam modismos com vendagens de milhões e que passam logo. Nós da MPB ficamos no meio do caminho, por não estarmos dentro deste padrão. Para nós tornam-se somente distribuidoras. A coisa por aqui está muito fácil para poucos e muito difícil para muitos.
Muitos shows o ano inteiro
Apesar das dificuldades que a boa música brasileira vem enfrentando pela falta de espaço de um modo geral, Cynara diz que o Quarteto não pára de fazer shows, no momento o Tom e Chico em Cy.
— Em janeiro temos quatro apresentações aqui no Rio e outras tantas em São Paulo. No finalzinho do mês, em pleno carnaval, fomos contratadas para fazer, em Brasília, o carnaval alternativo, que é cantar MPB para um público que por algum motivo não quer participar do carnaval — conta Cynara com entusiasmo.
— Mas as dificuldades estão aí. Por exemplo, as casas de shows têm diminuído, principalmente no Rio. Onde mais trabalhamos é em São Paulo, que tem boas casas e Sesc que funcionam. — constata — Aqui no Rio as lonas culturais já foram muito comentadas, mas agora são muito pouco citadas. Creio que estão um pouco deixadas de lado. Outra coisa que eu acho que poderia ser feita é a ativação de teatro no subúrbio. Existem lugares maravilhosos com um público carente de arte, e as autoridades não estão ‘nem aí’ — acrescenta.
O Quarteto tem um projeto de ir para a Bahia, terra natal das meninas, mas que não tem visto suas ilustres filhas há cerca de quatro anos. Também recebeu convites para outras cidades do nordeste. Recentemente fez show em Campina Grande, Natal e João Pessoa, e deve participar do projeto Pixinguinha, que é um projeto itinerante homenageando o grande compositor.
— O Ruy Quaresma, da gravadora Fina Flor, por onde lançamos nosso último disco, está batalhando pelo projeto Pixinguinha, que já fizemos umas três vezes. É maravilhoso esse projeto, porque o artista é recepcionado em cada estado por um artista local que abre o show, acontecendo a interação entre artista visitante e artista local — fala.
Cynara diz que o Quarteto se considera privilegiado por tudo que já fez,mas se cobra de não trabalhar mais, porque existe um público querendo. No sítio www.quartetoemcy. com.br as pessoas podem entrar em contato com o grupo, assim como pedidos para shows e informações diversas.
— Eu mesma estou empresariando o grupo, porque observamos que o empresário, em muitos casos, está pegando vários artistas e não toma conta direito de nenhum. Ele está vendo o lado dele, está, digamos, ‘se virando’, mas isso prejudica o artista. Acredito que hoje temos que estar muito informados e ligados na nossa própria carreira — defende.
Além dos shows pelo país, o Quarteto tem ido para o exterior. Esteve recentemente na Espanha e pretende retornar para lá em 2008, realizando shows em Madri, Barcelona, Salamanca e Tenerife, no festival que já participou no ano passado.
— De lá pretendemos partir para Portugal, que sempre nos recebe de braços abertos. Para o Japão já fomos três vezes, foi maravilhoso. Nossa discografia, por exemplo, é toda editada lá, e aqui ainda não. Os nossos LPs de início de carreira ainda não foram registrados em CD por aqui, e lá já tem todos — garante.
O último CD do grupo saiu em 2006. Samba em Cy com oito sambas inéditos de grandes compositores como Dona Ivone, e um samba feito por Ney Lopes e Ruy Quaresma, especialmente para o grupo e que dá nome ao disco.
— São sambas maravilhosos. O Samba em Cy é a nossa história. O Ney escreveu uma letra em cima da nossa trajetória. É uma espécie de samba enredo. Nos sentimos muito honradas com essa homenagem fantástica — conta.
— Não abrimos mão de fazer algo que seja dentro do nosso perfil, de um gosto apurado, de uma boa melodia, harmonia, e uma letra que passe algo bom para nós e para o público. Ao longo desses quarenta anos tivemos muitas oportunidades de nos corromper e não o fizemos, não é agora que vamos fazer — conclui Cynara.