Radialista, jornalista e cantor, o mineiro Acir Antão se preocupa em interpretar e exibir a música popular cultural do país em um espaço que já havia praticamente perdido: o rádio brasileiro. Com um programa semanal na Rádio Itatiaia de Belo Horizonte e dois shows temáticos, um deles contando a história oral e musical da cidade, Acir, junto a sua banda Sarau Brasileiro, é mais um resistente em defesa da cultura nacional.
— Sou um vocacionado ao que faço. Desde pequeno brincava de falar no microfone, cantar, ler e escrever notícias, enquanto a maioria das crianças brincava de bandido e artista, imitando o faroeste que dominava o cinema. Fui crescendo e essa vontade também. Assim, por volta dos 16 anos de idade comecei a trabalhar em rádio, em um noticiário — conta Acir.
— Naquela época não existia escola de comunicação, se aprendia na prática mesmo, e assim, com 19 anos já era um profissional feito. Fui locutor de noticiário, repórter político, convivi com a censura, com os problemas que todos nós passamos com o regime militar. Fazia tudo com o maior prazer e carinho, mas a música estava muito presente em mim, porque minha vida foi feita ouvindo música brasileira e isso apareceria de alguma forma — constata.
Acir conta que no passado as comunidades tinham muitas manifestações culturais, reunindo seus moradores em torno disso.
— O bairro Nova Esperança, em Belo Horizonte, onde eu morava, tinha bandas de música, reuniões familiares, serestas, congado, folias de reis, etc. Não era como hoje que as pessoas vão para as grandes casas de show. Por exemplo, conhecei samba, samba-canção, choro, maxixe, forró, xote, baião, rojão, coco, as músicas do Nordeste em geral, ainda muito menino, convivendo com as pessoas do meu bairro — comenta.
Durante muito tempo Acir fez apenas programas jornalísticos no rádio, até que em 1972 surgiu a oportunidade de fazer um musical.
— Não tinha no rádio um programa de samba e especificamente de choro. Era uma época em que a música popular brasileira estava cheia de estrangeirismo. Não se podia falar de música brasileira, porque estava censurada, assim tivemos uma avalanche de música estrangeira no Brasil. Então falei: ‘Só faço se for de samba e choro’ — lembra.
— Nesse cenário comecei e deu certo. Fui me enfronhando com os músicos de Minas Gerais, me especializando, e hoje sou um comunicador no rádio especializado em música popular. Procuro conhecer a fundo a história da música popular brasileira, dos nossos ritmos, da nossa essência — declara.
— São mais de 40 anos trabalhando com música popular em Belo Horizonte. Recebo cartas e e-mails do mundo inteiro. É Japão, Itália, Espanha, Portugal, Rússia, enfim, onde tem um mineiro ele está ouvindo o programa — continua.
O programa de música do Acir Antão é exibido ao vivo pela Rádio Itatiaia, BH, 95.7, AM/FM, aos domingos, de 9:00 às 13:00hs, e também pode ser ouvido através da página www.itatiaia.com.br e o canal 411 da Sky.
Virando cantor
A partir desse trabalho de música na rádio, Acir também passou a cantar profissionalmente.
— O primeiro disco foi em homenagem ao centenário de Belo Horizonte. Com ele passei a me apresentar e não parei mais. Gosto muito de cantar samba-canção, os choros que foram feitos para serem cantados, a partir do nosso Almirante, que cantou o choro, passando pelo Sílvio Caldas e muitos outros, e desse universo incrível da seresta, muito comum no meu lugar — diz.
— Canto também forró, baião, rojão, coco, xote, e gosto muito de recordar essas músicas nordestinas feitas por Luiz Gonzaga, pelo Jackson do Pandeiro. Aprecio os ritmos do Brasil inteiro, e todos fazem muito sucesso junto ao público presente. É uma festa cada apresentação, juntamente com a minha banda, a Sarau Brasileiro, que sempre se apresenta comigo por toda parte — fala.
Atualmente Acir tem dois grandes shows que apresenta em Belo Horizonte e onde mais for convidado.
— Num deles canto só as músicas de Lupicínio Rodrigues e conto sua história, e o outro é a História oral e musical de Belo Horizonte, um show especial para cantar as coisas daqui de Minas. Lembro os cantores, canto músicas de compositores antigos, é um show que envolve minha vivência, o que sei, minhas pesquisas, para o povo mineiro conhecer melhor a sua própria história — expõe.
— E surgem outros, dependendo do local e ocasião. Por exemplo, recentemente estive em Ouro Preto fazendo uma grande noite de seresta na Praça Tiradentes, e vou pelo estado inteiro com o Sesc fazendo o Minas ao luar, quer dizer, abracei mesmo a parte musical e estou me dedicando mais a ela. Contudo, mantenho um programa diário, também na Rádio Itatiaia, de debates, política, etc — acrescenta.
Além do disco em homenagem ao centenário de Belo Horizonte, Acir já gravou, na década de 70, um samba e uma marcha de carnaval e participou do cd de vários artistas.
— Estou preparando um novo disco, que será do show Lupicínio Rodrigues, para esse ano ainda. Também pretendo gravar um CD do História oral e musical de Belo Horizonte, mas, por enquanto é só um projeto.
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