No USA, Obama nomeou um supervisor responsável por definir os bônus e salários dos gerentes de grandes empresas baseadas em solo ianque. Na Europa, as gerências políticas de França, Alemanha e Grã-Bretanha — ou seja, a nata da Europa do capital — pedem que os prêmios por serviços prestados pagos aos capatazes do capital financeiro tenham uma relação "apropriada" com seus salários fixos. Em toda parte os oportunistas e demagogos de toda espécie se uniram em uma cruzada contra as altas remunerações principalmente dos executivos das transnacionais dos setores bancário e de seguros, em um esforço desesperado para tentar esconder o fato de que o parasitismo é característica inseparável do capital financeiro, para o qual repassaram — e ainda estão repassando — enormes somas de recursos que pertencem à classe trabalhadora. São medidas cuja finalidade não é outra senão tentar aplacar o descontentamento das massas, arroubos pseudo-moralizadores que não mexem um milímetro sequer nos mecanismos de crimes contra os povos praticados pela oligarquia que controla o sistema financeiro internacional.
Uma outra nuance desta trapaça são as promessas de deitar por terra os paraísos fiscais. Em março deste ano, a Suíça aceitou seguir uma regra da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico que obriga seus bancos a revelarem informações sobre clientes quando as autoridades fiscais de outros países assim solicitarem, e mediante a apresentação de provas de irregularidades contábeis cometidas pelos correntistas transfronteiriços. Na verdade, o acordo teve endereço certo: Viaduktstrasse 33, Basileia. É a sede do UBS, o maior dos bancos suíços. A concertação entre os (pseudo) reguladores do sistema financeiro internacional e os banqueiros alpinos serviu não para enquadrar, mas sim para salvar esta instituição bancária cara à bandalheira capitalista. Sobre o UBS e o Credit Suisse — segundo maior banco do país — , o Banco Central suíço considerou expressamente em relatório recente que são "grandes demais para falir". O populismo financeiro envolvendo a algazarra em torno do tal código fiscal da OCDE se faz necessário para mascarar junto ao povo esta operação de socorro a um banco de fama não tão ilibável. Tanto que, às primeiras exigências de liberação de informações em inquéritos internacionais sobre sonegação de impostos, o UBS ofereceu pagar bilhões de dólares em troca do encerramento das investigações.
No dia 15 de setembro, exatamente um ano após a quebra do banco ianque Lehman Brothers, acontecimento que os financistas consideram o marco inicial da atual crise capitalista, apareceu e correu o mundo um relatório do britânico Instituto de Pesquisa de Políticas Públicas com a seguinte conclusão: "Os bancos não aprenderam a lição". A acusação é que, após receberem dinheiro público, bancos e seguradoras rapidamente retornaram à "cultura dos bônus". Aparentemente críticas à postura das instituições bancárias, manifestações como esta que pipocam aqui e ali, muitas vezes identificadas com a postura da esquerda — a falsa esquerda — não passam do complemento óbvio à própria farra do capital financeiro desregulamentado. Falando do supérfluo, escondem o fundamental, que é o fato de que as instituições que financiam os monopólios são por natureza contrárias aos interesses dos povos do mundo, não importa o quanto paguem aos seus gerentes.
Riquezas do povo repassadas aos bancos
Para levar a cabo este estratagema, uma das panacéias que vêm sendo reiteradamente propostas é a maior supervisão dos acionistas que controlam o capital bancário transnacional sobre o valor dos salários e bônus por produtividade dos seus executivos. Cinicamente, fingem ignorar que um dos princípios fundamentais da chamada "governança corporativa" é que se os gerentes forem recompensados de maneira semelhante aos acionistas, sua atuação à frente das empresas tende a gerar maiores vantagens para os próprios acionistas. Tudo isso em detrimento da população em geral. Não importa o quanto insistam: as massas conscientes jamais cairão na armadilha da identificação dos seus interesses com os dos grandes financistas, como se o povo oprimido pudesse estar do mesmo lado dos controladores das organizações financeiras que sustentam o capitalismo opressor.
Outra falácia esgoelada pelas gerências políticas para tentar aplacar a fúria do povo é que as operações financeiras de risco desmedido que serviram de estopim para o estouro da última bolha estavam com os dias contados. Esta foi a promessa que justificou o acerto costurado por Bush e Obama para financiar o salvamento dos monopólios financeiros do USA, o chamado Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (Tarp), por meio do qual US$ 200 bilhões foram mobilizados para comprar toda a papelada podre que lhes comprometiam a liquidez. Mas, na verdade, os bancos jamais deixaram de farrear no mercado financeiro em busca dos lucros fáceis. Recapitalizados com recursos do povo estadunidense, os cinco maiores bancos do USA — Bank of America, Citigroup, Goldman Sachs, JPMorgan e Morgan Stanley — lucraram US$ 23,3 bilhões no primeiro semestre deste ano realizando operações especulativas com ações, títulos de dívida, câmbio, commodities e outros produtos financeiros que servem para nada mais do que alimentar a reprodução de capital em alta velocidade.
No USA, na zona do euro e no Reino Unido, os montantes alocados nos programas de socorro à banca envolveram ao todo o equivalente a 1/6 do seu PIB somado. Bancos e seguradoras de Wall Street e do City, centro financeiro de Londres, foram os principais beneficiários de umas das maiores e mais escandalosamente criminosas transferências de riquezas geradas pela classe trabalhadora para tentar sanar as combalidas finanças do capitalismo em convalescença.
Agora, os avalizadores desta afronta às massas de todo o mundo posam de severos, fingindo exigir que os bancos daqui para a frente garantam sua própria liquidez, tentando aplacar a revolta que fermenta entre as classes populares. Em seu afã para esconder seus crimes, e os crimes dos monopólios financeiros, sequer enxergam que as massas não se importam com a saúde financeira dos bancos; importam-se com sua emancipação, o que implica a derrota definitiva dos monopólios e do capital financeiro. A folha de pagamento de capatazes de banqueiros não figura na pauta revolucionária.