A terra do frevo e do maracatu também tem muito samba. Isso é o que tem provado o Clube do Samba de Recife, reunindo milhares de pessoas em um evento no Morro da Conceição, um bairro pobre da cidade. Além de divulgar o trabalho que os compositores de samba de Pernambuco estão fazendo, o clube leva para o morro sambistas cariocas e de todo o país, para trocar experiências e enriquecer o evento.
— O Clube nasceu há quase três anos, quando o Clube do Samba, de João Nogueira, completava trinta anos. Eu, minha irmã Karynna Spinelli, o Lucas dos Prazeres e outros músicos e produtores de samba daqui, resolvemos fazer uma roda de samba para homenagear João Nogueira, e assim dar continuidade ao trabalho de samba, que individualmente já vem acontecendo na cidade a mais de seis anos — conta Maurício Spinelli, produtor do Clube.
— Escolhemos uma frase que mais sintetizava o que queríamos passar para Pernambuco, e posteriormente para outros lugares com o crescimento do projeto, que é: ‘Silêncio, mais um samba vai começar’.
É uma frase de um compositor de samba daqui, chamado Elias Paulino. Ele faz parte do tradicional Grupo Terra, que existe há quase 20 anos e que nunca conseguiu chegar ao mercado nacional — comenta.
— Começamos a nos reunir em julho de 2009, sempre no Morro da Conceição, no bairro Casa Amarela, uma comunidade bem conhecida aqui. Juntamos os músicos da banda de Karynna Spinelli, que é a nossa presidente, e convidamos os cantores e compositores de samba da cidade, pessoas que vêm lutando já há muito tempo para tentar mostrar que o samba não é somente carioca, ele é brasileiro — afirma.
Segundo Maurício, o Clube do Samba de Recife já conseguiu realizar mais de 25 encontros, com grande participação do povo e artistas diversos.
— O Clube, que começou agregando umas duzentas pessoas, atualmente tem levado entre três a quatro mil pessoas para cima do Morro da Conceição. E nunca tivemos nenhum tipo de problema, como brigas e confusões. É um ambiente onde convive todo tipo de gente, de crianças a velhinhos. Brancos, pretos, amarelos, ricos e pobres, e com gostos e escolhas de vida bem diferentes. O samba tem essa coisa de agregar pessoas — comenta.
— Fazemos as reuniões em uma praça, sem cobrar entrada, somente pedimos que as pessoas levem donativos, que podem ser alimentos, livros, brinquedos e outros. Ao longo desses anos arrecadamos mais de 45 toneladas de donativos, que foram doados à comunidades carentes, não só do Morro da Conceição, mas de outras localidades da capital e interior do estado — continua.
— Acreditamos que hoje é o maior movimento do estilo na cidade, que mais agrega compositores, cantores e pessoas atentas ao que está sendo feito. Além do pessoal daqui, já trouxemos sambistas de outras partes do país, entre eles, Wilson das Neves, Moacyr Luz, Nilze Carvalho, Luíza Dionísio, Fabiana Cozza e Mariene de Castro. Praticamente toda a classe artística de Pernambuco sobe o morro para cantar conosco, inclusive os cantores de vários outros estilos da cidade — declara.
Tem samba para todos os gostos
— O samba feito hoje em Pernambuco é bem variado. Nós, do Clube, fazemos um tipo bem percussivo. Nossos percussionistas são todos lá do Morro da Conceição e usam outros instrumentos de percussão, além dos tradicionais: pandeiro, tamborim e surdo. Isso faz surgir uma sonoridade bem diferente. Porém, o samba pernambucano, em geral, tem vários segmentos e ramificações que vão desde o samba de latada até o samba canção — fala Maurício Spinelli.
— Em outubro passado participamos da Virada Multicultural de Recife, colocando no palco seis importantes compositores de samba da cidade: Karynna Spinelli, Paulo Perdigão, Jorge Riba, Demóstenes, Geraldo Maia e Mônica Feijó. Essas pessoas, por exemplo, têm trabalhos totalmente diferentes um do outro, mas, seguem a linha do samba e têm tido um retorno muito importante e muito forte dentro do que estão fazendo — continua.
— Foi um show para mais de dez mil pessoas, um momento muito importante para nós. Também gostaríamos de viajar para outros estados com o Clube, para trocar experiências com outros músicos e misturar ainda mais essa força do samba, que é nossa, é nacional. Porém, ainda não temos patrocínio para isso. Mas continuamos na luta, aproveitando esse momento em que o movimento do samba está crescendo muito por aqui — comenta.
Além dos encontros no morro e em eventos, o pessoal do Clube do Samba ganhou um programa de TV e outro de rádio.
— Os programas só passam aqui em Recife, mas, já é muito bom para nós, porque entramos na casa das pessoas. É exibido aos sábados, as 12:45hs, pela TV Jornal, canal 2. E aos domingos, as 11:00hs, pela Rádio Jornal — avisa Maurício.
— E no momento estamos com um projeto do nosso primeiro disco. Por enquanto é só um plano mesmo, mas já temos muitas composições para isso. A ideia é gravar dois CDs, um deles só com músicas de compositores da velha guarda daqui, a maioria artistas anônimos, que nunca tiveram chance no mercado fonográfico, e o outro só com composições do Clube e da Karynna Spinelli — conclui.
Para contatar o Clube do Samba de Recife: (81) 8632-8807 ou [email protected]