Redução de salários, demissões e greves no maior pólo industrial do país

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Redução de salários, demissões e greves no maior pólo industrial do país

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Assembléia de servidores municipais de Florianópolis

Enquanto incautos afirmam que o pior da crise já passou, pesquisa da Fiesp — Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, divulgada em abril, afirma que 40% das indústrias do estado ainda pretendem demitir e que os cortes atingirão 14,3% dos funcionários. As demissões têm sido em massa, e os trabalhadores têm respondido com greves e mobilizações, quer sejam muitos ou poucos os demitidos nas empresas e indústrias.

Em primeiro de abril, a fábrica da Samsung em Campinas teve a produção paralisada em protesto contra os efeitos da crise mundial e contra as demissões que já somam trezentas na fábrica. A paralisação contou com a participação de 1,4 mil trabalhadores.

No setor financeiro, quinhentos bancários do Santander fizeram manifestação contra demissões. Atos de protestos foram organizados pelos ex-funcionários do Banco Real e do HSBC. Eletricitários da Eletropaulo pararam em Diadema, Santo André e São Caetano do Sul contra 47 demissões de funcionários da área operacional.

O povo está disposto a lutar, mas o oportunismo encastelado nas centrais sindicais pelegas continua a canalizar a revolta popular em negociações e acordos que não garantem o emprego. Segundo Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, "Muitas empresas ameaçaram demitir porque estavam com a produção parada. Nós não aceitamos, levamos a questão para a mesa de negociação e estamos conseguindo evitar demissões em massa". O sindicato, junto com a Força Sindical, já realizou mais de 30 acordos entre redução da jornada e do salário, suspensão do contrato de trabalho sem garantia de emprego, entre outras negociações que prejudicam o trabalhador envolvendo 16 mil operários. Vejamos alguns exemplos desses acordos.

A Pirelli, em Santo André, propôs redução de jornada com redução salarial, mas não admitia estabilidade dos empregos após o vencimento do contrato. Os operários não aceitaram a proposta e a Pirelli demitiu 11. Após assembléia 2.300 trabalhadores entraram em greve para reverter as demissões. Mesmo com a bravura dos trabalhadores o sindicato aprovou um acordo com a indústria que garante o emprego por apenas quatro meses e reduz por dois meses (abril e maio) a jornada de trabalho em 14% e os salários em 10% (sendo que o conquistado no ano anterior foi um aumento de apenas 7,64%).

Na Plásticos Mueller, em sua fábrica na capital, os funcionários decidiram pela greve, mas o sindicato fechou um acordo para diminuir as demissões, considerando vantajoso o fato de ter "apenas" 90 demissões, 210 suspensões do contrato de trabalho sem pagamento de Imposto de Renda, INSS, 13º, férias e sem garantia de emprego após o final do acordo em 5 meses.

Os 1.100 trabalhadores da Sandvik do Brasil e da Dormer Tools, na zona sul da capital, paralisaram as atividades em 24 de março, em protesto contra 88 demissões efetuadas e a ameaça de que mais gente iria para o olho da rua. Miguel Torres foi para a porta da fábrica e negociou com a empresa, que ofereceu um pacote de indenização, que garante somente 60 dias de estabilidade para os que ficaram no emprego.

Em dois de abril, os funcionários da Multek, empresa do setor de circuitos eletrônicos, sediada na zona sul da cidade de São Paulo, aprovaram a proposta da empresa de reduzir em 20% a jornada de trabalho e em 10% os salários, pelo período de 90 dias, como forma de evitar novas demissões. Lourival Aparecido Silva, diretor do sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo informou, tomando as dores da empresa, que o objetivo era o de não só interromper o processo de dispensas como o de reverter as cem demissões, "mas, os próprios funcionários entenderam as limitações da empresa que teve queda de 55% na produção com a redução de encomendas".

Para a Fiesp, entidade patronal, as demissões podem ser justificativa como medida preventiva, mesmo que a empresa não apresente problemas com a crise mundial. "É possível celebrar acordo coletivo sobre redução de salário, de jornada de trabalho, de suspensão do contrato de trabalho, de férias coletivas ou licença remunerada independente da comprovação da situação econômica de cada empresa", disse o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), Sydney Sanches, que preside o Conjur (Conselho Superior de Assuntos Jurídicos e Legislativos) da Fiesp. E é essa a cartilha que têm seguido.

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Greve dos trabalhadores da construção civil de Salvador

Concordando com a máxima da FIESP, em fevereiro a General Motors anunciou a demissão de 802 funcionários em São José dos Campos, o que foi recebido com uma manifestação de 500 pessoas. Em 2008, a GM do Brasil bateu novo recorde nacional de vendas anuais, com o emplacamento de 548.941 veículos, com uma participação de 19,46% no mercado total brasileiro. Em relação a 2007 houve uma evolução de 50.248 veículos, com crescimento de 10,1% no volume de vendas.

Luiz Inácio, em discurso à 17ª Feira Internacional da Construção disse que em momentos de crise não é o momento dos trabalhadores fazerem reivindicações. "Temos que contribuir para que as empresas vendam mais. Quanto mais elas venderem, mais trabalhadores serão contratados e mais a gente vai poder reivindicar aumento". Isso só demonstra de que lado os gerentes de turno sempre estiveram. Em momentos de crise ou a qualquer momento, a ajuda só chega às grandes empresas, os banqueiros e latifundiários, sempre com dinheiro dos cofres públicos, claro. O governo limitou o aumento do seguro-desemprego ao mês de dezembro e a algumas categorias, mas aumentou em mais três meses a redução do IPI, que mesmo agradando uma parcela da população, que pode comprar carro, o objetivo é que as montadoras vendam mais para não baixar seus lucros com a crise. Apesar disso, aos poucos os trabalhadores vão rompendo o círculo de ferro do sindicalismo governista e se lançando em lutas cada vez mais consequentes.

Greves crescem a cada dia
Patrick Granja
Em resposta aos ataques aos direitos dos trabalhadores e às demissões, o povo marcha rumo à Rebelião, com greves, ocupações de fábricas e outros protestos em todas as partes do mundo. No Brasil, setores importantes como a construção civil e a educação decretaram greve.

Paraná

Em Curitiba, depois de ter um reajuste salarial vetado no dia 1º de abril, servidores públicos municipais anunciaram greve para o dia 15, onde pretendem mobilizar pelo menos 80% da categoria.

Santa Catarina

No município de São José, clínicos gerais, pediatras e ginecologistas já estão em greve desde o dia 22 de março. Eles reivindicam equiparação salarial proporcional com os médicos do Programa da Saúde Familiar (FSP). Também entraram em greve 5 mil cerâmicos do município de Criciúma. Eles aguardavam ansiosamente o reajuste anunciado pelas cerâmicas locais: míseros 6,5%, depois de 7 anos sem reajuste.

Bahia

Em Salvador, operários da construção civil realizaram 10 dias de greve reivindicando reajuste salarial de 12%, sendo que depois de seis horas de negociação, o Tribunal Regional do Trabalho fechou um aumento de 9,76% para os trabalhadores, que suspenderam a paralisação dos serviços, mas continuarão em alerta até que o acordo seja cumprido.

Rio de Janeiro

No Rio, rodoviários em cinco municípios, além da capital — Magé, Campo Grande, Caxias, Niterói e São Gonçalo — deflagraram quase uma semana de greve. Eles reivindicavam um aumento de 10% nos salários e decidiram entrar em greve por motivos referentes exclusivamente à categoria, e não por ameaças de máfias do transporte alternativo como foi divulgado pelo monopólio dos meios de comunicação visando desqualificar a luta dos trabalhadores. Em audiência no Tribunal Regional do Trabalho, o Sindicato dos Rodoviários ainda foi multado em 50 mil reais. Funcionários da REDUC (Refinaria Duque de Caxias), na Baixada Fluminense, também entraram em greve no último dia 22 reivindicando revisão na participação dos operários nos lucros da empresa.

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