Era mesmo o que faltava: a velha semicolônia Brasil, saqueada por monopólios com livre-trânsito em seu território, com acordo recém-assinado de “cooperação” com as forças armadas do maior inimigo do povo brasileiro, o USA, e invadida a todo momento pelo capital financeiro devastador, agora terá reforço militar em suas regiões fronteiriças.
É o que foi anunciado no início de maio pela gerência petista, mais precisamente pelo ministro da Justiça em exercício, Luiz Paulo Teles Barreto. Segundo ele, o país terá um programa para “reforçar a segurança nas fronteiras” e para alinhar a atuação das polícias dos estados que têm divisas com países vizinhos.
Por certo, não é para defender o povo de todas aquelas ameaças que vêm de fora, ao contrário: a mobilização das forças armadas sob comando civil e militar reacionários nas fronteiras do Brasil é mais uma sujeição aos interesses externos, nomeadamente os do imperialismo ianque, a quem interessa a agudização de tensões fronteiriças na América Latina e a reprodução do seu álibi predileto para justificar a crescente presença de marines na região, o álibi do tráfico de drogas e do crime em geral dito “organizado” — mesmo motivo alegado por Luiz Inácio para alocar tropas nos limites do território nacional.
Fosse a lógica que norteia essa decisão algo diferente do servilismo à política do imperialismo, Luiz Inácio teria mandado tropas para reforçar a fronteira com a Colômbia, que é por onde o USA ora pretende levar a cabo sua estratégia de dominação do sub-continente latino-americano.
Ianques querem controle social nas fronteiras
Mas foi o Paraguai a nação tomada como mote para mais esta patranha. Os departamentos paraguaios que fazem fronteira com o território brasileiro estão sob estado de exceção decretado pelo bispo-presidente Fernando Lugo, e ratificado pelo Congresso local, a título de dispor de meios para combater criminosos, mas que serve verdadeiramente para tentar conter a insatisfação popular com os acordos vende-pátria que Lugo vem assinando com o USA.
Sendo assim, a gerência Luiz Inácio toma o estado de exceção paraguaio como justificativa para levar as forças armadas brasileiras a lugares onde ongs ligadas ao imperialismo já defendem os interesses ianques, seja na tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, seja na região das “cinco fronteiras” (Brasil, Venezuela, Peru, Paraguai, Colômbia e Equador), reforçando o atendimento à demanda de Washington de que os “aliados regionais” ponham seus exércitos a serviço da repressão nos focos de conflitos sociais, sempre sob o pretexto da urgência de ações contra o chamado “narcoterrorismo”.
Neste quadro, o reforço militar nas fronteiras do Brasil anunciado pela gerência petista precisa ser compreendido justamente no âmbito do acordo militar “em todos os níveis” assinado entre o ministro da Defesa de Luiz Inácio, Nélson Jobim, e o secretário de Defesa Robert Gates, que depois de estar sob as ordens de Bush, responde agora ao chefe Obama, sem mudanças, porque a estratégia de controle militar da América Latina e de seus recursos naturais continua a mesma.
A justificativa nos cinemas
Por um lado, a gerência Luiz Inácio atende aos interesses do USA ao prometer mandar soldados para as fronteiras do país a título de combater o “narcoterrorismo”, reforçando o pretexto utilizado para a ocupação militar ianque da América Latina e obedecendo à ordem vinda da potência do norte para colocar as forças armadas reacionárias de prontidão para dar conta de conflitos sociais. Por outro, um filme que estreou nas salas de cinema do Brasil em maio, dirigido por um novelista da Rede Globo e repleto de atores “globais”, é uma versão brasileira do engodo que muitas produções de Hollywood tentam promover com seus filmes de guerra exibidos em todo o mundo: enaltecer as forças armadas e levar às últimas consequências as mentiras contadas para justificar os usos e abusos que são levados a cabo por meio delas.
A trama da “obra” em questão, intitulada “Segurança Nacional — a Ameaça”, faz uma intersecção entre o engodo imperialista usado para legitimar suas ofensivas contra países do Oriente Médio e da Ásia, as armas de destruição em massa, e o engodo imperialista usado para justificar o envio de marines, navios, helicópteros e toda logística militar imaginável para o sub-continente latino-americano: o tráfico de drogas em particular, e o crime “organizado” em geral. Dessa forma, a história medíocre do filme gira em torno de um embuste pouco credível mesmo para o cinéfilo mais ufanista: traficantes latinos descontentes com a instalação dos radares do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) compram bombas atômicas para ameaçar o governo brasileiro.
O diretor, Roberto Carminati, é filho de brasileiros, mas nasceu no USA. Ele diz que “Segurança Nacional” procurou ressaltar a “capacidade e importância das nossas Forças Armadas”. O comentário definidor sobre o filme foi feito pelo crítico Marco Tomazzoni: “o cineasta fez uma propaganda descarada, que poderia tranquilamente substituir aquelas de alistamento da TV (‘jovem, ao completar 18 anos…’)”. O cineasta fez uma grande ode às forças armadas reacionárias, como o famigerado “Tropa de Elite” louvou, sem pudores, a truculência policial nas favelas cariocas, mostrada como necessária, compreensível e mesmo como algo inevitável. Um como outro, Não chegam nem perto de valer o ingresso.
Tríplice Fronteira
Este deve ser o título do filme a ser rodado pela vencedora do oscar deste ano, Kathryn Bigelow . A julgar pela “obra-prima” do cinema de exaltação da ocupação militar ianque no Iraque, coisa boa não pode sair de algo que pretende mostrar os “problemas” da região de fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina. Principalmente porque há muito tempo a área está na lista das regiões onde se escondem terroristas e outras ameaças à “civilização ocidental”.