Reitoria da USP reedita regime militar

Reitoria da USP reedita regime militar


Protesto estudantil contra a reintegração de posse

Na edição de janeiro da revista Fórum foi publicada uma reportagem que denunciou um esquema de espionagem que teria sido montado para investigar a movimentação dos estudantes e do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de são Paulo na greve de abril de 2010.

A reportagem cita documento produzido por uma “sala de crise”, enviado por Ronaldo Pena, diretor da Divisão Técnica de Operações e Vigilância da Coordenadoria do Campus, que traz minucioso relatório com fotos, dados completos das pessoas que participaram de mobilizações na universidade e um relato de suas atividades cotidianas durante quase um mês.

Segundo os trechos do relatório reproduzidos pela revista Fórum, o esquema policialesco de investigação se valia também de agentes infiltrados que invadiram as dependências da universidade burlando a segurança local:

“Adentramos na unidade da USP Butantã com certa dificuldade, já que era feriado e estava fechada, podendo acessar apenas alunos e funcionários com credencial. Burlada a segurança pelo HU [Hospital Universitário] por onde se entra livremente com qualquer argumento.

Percorremos todos os prédios e não havia nenhum tipo de encontro ou manifestação.”

Após as sérias denúncias veiculadas pela revista Fórum, o comitê de apoio ao A Nova Democracia em São Paulo procurou estudantes, professores e donos de bancas de jornal para que falassem sobre o caso. Foi constatado que os exemplares da revista distribuídos em bancas haviam, estranhamente, esgotado. Quando estudantes, professores e funcionários da USP souberam da reportagem e procuraram a revista nas bancas, já não a encontraram.

 — Quando eu percebi a jogada, telefonei para a revista e eles me informaram que estavam achando estranho, pois segundo informação do pessoal das bancas de jornal, as revistas estavam sendo arrematadas por um mesmo indivíduo e que isso era prejudicial, pois a revista já possui um público que a lê regularmente – relatou um funcionário da USP.

Esse mesmo funcionário ainda afirmou em entrevista ao comitê de apoio ao AND que nos trechos dos relatórios reproduzidos na revista “há relatos de conversas que só foram ditas em reuniões com dirigentes de alta confiança e acima de qualquer suspeita, o que comprova que há escutas espalhadas na USP”.

Sabotagem no Sintusp

Na manhã de 12 de fevereiro, quando dois funcionários entraram na sede do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) para dar início a mais um dia de expediente, constataram um forte cheiro de gás e, em seguida, surpreenderam-se quando perceberam que todos os botões do fogão industrial estavam abertos. Minutos mais tarde, outro funcionário notou que pastas e documentos de uso interno estavam espalhados no interior de uma sala. Não havia sinal de arrombamento apesar de, como de costume, os funcionários terem verificado se as portas e janelas estavam devidamente fechadas na noite anterior antes de se retirarem.

Funcionários e estudantes ouvidos pelo comitê de apoio ao AND relataram ter visto vigilantes da empresa EVIK e policiais à paisana, que circulavam nas imediações do sindicato no dia anterior.

O sindicato registrou um Boletim de Ocorrência na Central de Segurança da USP e no 93º Distrito Policial, no bairro Jaguaré, além de encaminhar um ofício à reitoria da universidade comunicando os fatos.

Decreto do regime militar vigora na universidade

Com base no decreto 52.906, em 17 de dezembro do ano passado foi publicado no Diário Oficial de São Paulo a notificação sobre a expulsão de seis alunos da USP por terem participado da ocupação do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo em 2010.

Esse decreto foi redigido durante o regime militar pelo ex-diretor da USP, Luís Antônio Gama e Silva, então ministro da justiça do gerenciamento Costa e Silva, também redator do famigerado Ato Institucional número 5 (AI-5). Entre suas determinações, tal decreto estabelece punições para quem “promover manifestação ou propaganda de caráter político-partidário, racial ou religioso, bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos escolares; afixar cartazes fora dos locais”, etc..

Essa foi mais uma dentre as inúmeras medidas autoritárias tomadas pela gestão de João Grandino Rodas na reitoria da universidade. AND tem publicado ao longo dos últimos anos uma série de matérias que retratam a luta de estudantes, professores e funcionários por democracia na universidade e denunciam as medidas antidemocráticas da reitoria que já resultaram em: processos administrativos movidos contra dezenas de estudantes por participarem de mobilizações; a perseguição a funcionários em luta por direitos e a demissão de um ex-diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP; a assinatura de um convênio entre a PM e a reitoria e o estabelecimento de uma base policial no interior da universidade; invasões policiais (inclusive da tropa de choque), perseguições, agressões, prisões de dezenas de estudantes, etc.

A luta em defesa da Moradia Universitária

O blog uspemgreve.blogspot.com noticiou que em 17 de janeiro de 2012 foi publicado no Diário Oficial que a reintegração de posse da Moradia Retomada – USP, espaço de moradia estudantil gerido pelos estudantes há um ano e dez meses na cidade universitária, deveria ser executado no prazo máximo de 20 dias.

O espaço onde hoje é a moradia estava sendo utilizado pela Coordenadoria de Assistência Social da USP e pelo banco Santander. Uma assembleia estudantil realizada em março do ano passado decidiu que, como aquele espaço não servia efetivamente às necessidades estudantis, ele deveria ser retomado para servir como moradia para os estudantes.

Após a publicação da reintegração de posse, uma comissão de professores, funcionários e diretores do Sindicato dos trabalhadores da USP visitaram a moradia e se manifestaram publicamente afirmando que “os estudantes têm plenas condições, por intermédio de sua auto-organização, de gerir a moradia. O espaço se encontra inteiramente limpo, organizado, com as paredes recém-pintadas. Além de declararmos a integridade física do espaço mantida pela organização dos moradores, constatamos que o prédio ocupado, todo ele, é destinado à moradia de estudantes e está sendo utilizado para essa finalidade, o que torna sem sentido a iniciativa da Reitoria de pretender a retomada de parte do prédio para utilizá-lo para finalidade diversa”.

Apesar das manifestações de estudantes, professores e funcionários, mais uma vez a reitoria ordenou a invasão da universidade pela tropa de choque da PM que, em 19 de fevereiro, às 5 horas da manhã, realizou uma ação truculenta de desocupação da moradia que resultou na prisão de 12 estudantes. Esses permaneceram detidos na delegacia de Pinheiros e só foram liberados mediante pagamento de fiança no valor de R$ 2.500,00.

Em 27 de fevereiro a USP amanheceu com inúmeros cartazes vermelhos pregados em suas paredes com a palavra de ordem democrática que não tem parado de ecoar na universidade nos últimos anos: GREVE! Futuras reuniões e assembleias estudantis decidirão a deflagração de uma nova paralisação geral por democracia na universidade. AND prosseguirá acompanhando os acontecimentos.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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