Capitalismo burocrático e educação no Brasil
Dizíamos na edição passada de AND que do interesse dos monopólios transnacionais na oferta de produtos-da-terra e do latifúndio como ofertante destes, resulta o acordo para a manutenção da concentração fundiária e da utilização das terras não para matar a fome do povo, mas para a produção de bens que interessam à manutenção do capitalismo em escala mundial.
Ocorre que a manutenção deste sistema requer a produção e reprodução de um tipo de força de trabalho e a construção do consenso. Aí entra em cena a formatação de uma instrução pública, nos seus aspectos estruturais/logísticos/de infraestrutura e pedagógicos, que dê conta desta manutenção.
No primeiro aspecto, formação de força de trabalho, deve-se sempre lembrar que a necessidade do poder instituído é o da sua exploração para a produção de produtos primários ou semimanufaturados. Além disso, no imperialismo, as amplas cadeias produtivas já estão dominadas em escala global. Isto quer dizer que, do ponto de vista técnico/econômico, não interessa a formação de mão-de-obra mais qualificada em termos de conhecimento, porque ou o produto tem pouco conteúdo tecnológico por trás de sua fabricação, ou mesmo porque os centros de produção da tecno/ciência são outros que não o Brasil.
Assim, se conforma em países de capitalismo burocrático, dominados pelos interesses imperialistas, uma educação que conforma a força de trabalho para tarefas simples, aquelas que requerem pouco domínio da ciência que fundamenta os processos produtivos.
Em seu aspecto logístico/infraestrutural, isso produz uma rede de ensino de ciência e tecnologia adequada à mera cópia e ou adequação de tecnologias já produzidas nos centros de produção de conhecimento no mundo atual, qual seja os departamentos de tecnologia e desenvolvimento (P&D) dos grandes monopólios mundiais, em acerto com os Estados do núcleo da economia capitalista que financiam algumas universidades (MIT – Massachusets Institute of Technology, etc).
Assim, no Brasil, no denominado “ensino superior”, tem-se na realidade uma universidade versada: 1) Num humanismo livresco, que copia e empobrece as teorias produzidas nas universidades ou nos think tank’s do USA ou da França, principalmente; 2) Ou uma universidade que adequa tecnologias de produção às realidades locais.
Esse último aspecto é o sentido maior das recentes deliberações do MEC (Ministério da Educação), que na gerência FMI/PT, primeiro sob Luiz Inácio e agora sob a batuta de Dilma Rousseff, direciona as verbas das universidades federais para a pomposa rubrica “inovação tecnológica”, adequando tecnologia já produzida aos processos locais de processamento. Ou, ainda, a expansão da rede de ensino técnico profissional de nível médio via criação ou das Universidades Tecnológicas (os antigos CEFETS – Centros Federais de Educação Tecnológica), ou os novos IF`s – Institutos Federais. Todos nascendo da ideia de que é necessário adequar tecnologia já produzida às realidades locais e formar força de trabalho para operar os processos produtivos deles derivados.
Nenhum técnico do MEC e de outros órgãos da gerência atual admitirá publicamente, mas estes sabem muito bem que o capitalismo atingiu um patamar em que o imperialismo já controla a produção de conhecimento em escala global e não há como existir hoje um capitalismo à brasileira. Assim, na visão deles, cabe ao Brasil copiar e adequar tecnologias já produzidas e formar mão-de-obra para operar esses processos. Aliás, uma exigência cada vez maior dos monopólios, que pode ser vista todos os dias em quase todos os jornais burgueses que falam da “falta de mão-de-obra qualificada”. Os operadores das políticas no MEC seguem à risca as ordens do império.
Se no dito nível superior há esta adequação das universidades e centros de ensino federais, nos estados há uma corrida para a restauração das redes de formação profissional. Entretanto, como estes são controlados por senhores vindos da mesma estrutura de poder e, ainda, têm parcos recursos para a manutenção de uma política estadual autônoma, acabam “passando o pires” em Brasília para a formatação de parcerias entre suas gerências e a gerência federal, repassadora de recursos. Noves-fora, nos estados há o mesmo mecanismo nos objetivos de formação: adequar tecnologias já produzidas às realidades locais.
Aqui cabe um destaque e que comprova essa tese. Trata-se da atitude do reformismo na área educacional, produzido pelo famoso eurocomunismo no Brasil, com sua tese da politecnia ou “ensino médio integrado”. Em vários estados, e na gerência federal, esses pseudodefensores dos interesses dos trabalhadores (reciclados dentro do PT/CUT e dos ditos movimentos sociais) advogam a tese de que o mundo do trabalho, cada vez mais complexo, exige um trabalhador melhor qualificado e que, portanto, domine, além da técnica, a ciência por trás dela.
Com essa tese tentam estruturar redes de ensino profissional nas redes estaduais. Atitude vã de fariseus, haja vista que não reconhecem as estruturas de poder instituídas nas gerências dos estados, como já demonstra a falência dessas iniciativas em vários deles.
Não percebem os fariseus na gerência do Estado que na realidade o espalhamento da rede federal de ensino superior e médio tecnológico (federal ou estadual) responde à necessidade do capital, nos setores definidos pelas indústrias atreladas à exportação de commodities agrícolas?
Assim, nos IF’s, abundam os cursos de técnicos em agropecuária para formar mão-de-obra que consiga gerir melhor as atividades no latifúndio. Ou de técnicos em produção de papel e celulose, para melhor operar a indústria do “reflorestamento”. Ou de técnicos em enologia, nas recentes regiões produtoras de vinho e onde a indústria precisa deste tipo de profissional, etc.
Enfim, os exemplos poderiam ir quase ao infinito, mas todos jogam água no moinho e aumentam os lucros do latifúndio e da grande burguesia atrelada ao imperialismo, que exploram as cadeias produtivas da economia nacional. E, por ironia da história, os fariseus de diversos matizes, do PT ao PCdoB, vendem isso como política de qualificação profissional para o trabalhador brasileiro.
(Continua na próxima edição)