Remoções de favelas no Rio de Janeiro: Favela do Metrô segue lutando para ficar em seu devido lugar

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Remoções de favelas no Rio de Janeiro: Favela do Metrô segue lutando para ficar em seu devido lugar

Depois de seis meses de árdua resistência dos moradores da Favela do Metrô, vizinha ao Maracanã, na zona Norte do Rio de Janeiro, às seguidas tentativas da prefeitura de remoção dos moradores, o gerente municipal Eduardo Paes foi forçado a recuar. Pela primeira vez, a prefeitura aceitou realocar os moradores em um local próximo, no morro da Mangueira. Contudo, a luta dos moradores continua, já que muitos chegaram aos novos apartamentos e não gostaram do que viram: infiltrações, falta d’água, falta de luz e por aí vai. Além disso, comerciantes e moradores antigos da Favela do Metrô se negaram a aceitar os apartamentos.

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No dia 12 de fevereiro, pela terceira vez, equipes da prefeitura foram à Favela do Metrô para remover os moradores. Mas dessa vez, o destino das famílias não era o longínquo bairro de Cosmos, mas sim o tradicional Morro da Mangueira, a menos de 100 metros do Metrô, onde estão sendo construídos dois conjuntos habitacionais do projeto Minha Casa, Minha Vida. Porém, o recuo da prefeitura não representou uma vitória completa para os moradores, como muitos imaginam, já que os apartamentos na Mangueira terão que ser pagos pelos moradores, expulsos de suas casas próprias. No total serão 120 parcelas de 50 reais. Além disso, os moradores que no primeiro dia aceitaram se mudar passaram três dias sem luz e sem água.

Segundo a representante da associação de moradores da Favela do Metrô, Evalda Bezerra Alves, de 40 anos, o subprefeito da zona Norte, André Santos, não está respeitando as particularidades de cada morador no processo de realocação. De acordo com ela, representantes da associação já tentaram por diversas vezes falar com o secretário de habitação, Jorge Bittar, mas não foram recebidos.

O Bittar já cancelou reuniões com a gente por quatro ocasiões. Ele está nos enrolando há meses. Quem nos recebe é sempre um tal de Pierre, que é subordinado do Bittar na secretaria de habitação. Mas nada é assinado, eles não falam coisa com coisa. Não nos mostraram nada sobre o projeto que eles dizem que têm para a Favela do Metrô. A defensoria pública já entrou com um ofício exigindo esses projetos, mas eles não respeitam ordem judicial, não respeitam nada. Recentemente fomos à secretaria, mas demos com a cara na porta novamente. É dessa maneira que eles tratam a gente — reclama Evalda.

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Eles estão nos removendo para a Mangueira porque dizem que vão fazer um projeto aqui chamado Morar Carioca. Disseram também que novas casas serão construídas depois. Só que outras famílias de outros lugares vão ocupar essas casas. Sendo que nós já moramos aqui há décadas. Nós não, os moradores que não são da associação, porque os membros da associação estão sofrendo perseguição. Não nos ofereceram nada. Não nos procuraram para nada. Eles querem se vingar de nós não nos dando nossos direitos — afirma.

Além disso, segundo Evalda, a prefeitura não está levando em consideração a diferença entre as moradias. Muitos moradores construíram suas casas durante 30 anos, ao seu gosto, e não aceitam ir para um conjunto habitacional, como os moradores que viviam em barracos.

Tem morador que vive aqui há 40 anos, já tem a casa toda prontinha, com quartos, sala, cozinha, quintal, tudo construído com muita luta, muito suor. Não estou desmerecendo os outros, só achamos que esses moradores não podem trocar uma casa avaliada em 50 mil por um apartamento mal-construído em um conjunto habitacional. Esses moradores têm o que têm porque eles mesmos meteram a mão na massa e construíram. Assim como os que chegaram agora, que daqui a 10 anos estariam com as suas casas prontas. Eles têm que respeitar as particularidades de cada morador, afinal de contas, todos construíram o que têm com muita batalha. Cada tijolo dessas casas é uma gota de suor dos moradores que às construíram — reforça.

Nossa equipe de reportagem esteve na Favela do Metrô durante a tarde do dia 12 e constatou o descaso da prefeitura, acompanhada da PM e da guarda municipal. Casas que haviam sido marretadas pelos operários da prefeitura e lacradas com cimento e tijolos pelos próprios moradores, foram novamente abertas pelos operários. Na ocasião, a defensoria pública conseguiu uma liminar em favor dos moradores obrigando a prefeitura a lacrar as casas que foram marretadas para evitar invasões. Além de não cumprir a determinação, funcionários da prefeitura destruíram novamente a casa, lacrada pelos moradores. Prova de que o objetivo dos cães de guarda de Eduardo Paes é apenas plantar a discórdia, dividir e cansar a organização dos moradores.

Nós da associação já não aguentamos mais. Os funcionários da prefeitura nos cansam muito. Eles mentem para os moradores. Falam que nós da associação só queremos dinheiro. Prometem mundos e fundos. E nós corremos pra desmentir, mas eles vêm com guardas municipais, polícia. Nós já estamos há seis meses nessa queda de braço com a prefeitura. Tem outra moça aqui da associação que está deprimida, chorando muito. Cada caminhão de mudança da prefeitura que nós vemos saindo da Favela do Metrô é uma facada no nosso coração. Pelo menos nós conseguimos ficar aqui do lado, na Mangueira, porque ir para Cosmos, ninguém merece. Isso foi uma vitória da nossa luta, não foi caridade da prefeitura. Nós tivemos que batalhar, fazer assembleias, manifestações, para conseguir isso. O que ainda não é o ideal — afirma a líder comunitária, concluindo que os mais prejudicados até agora foram os comerciantes, que correm o risco de ficar sem sua fonte de sustento.

A luta agora é dos comerciantes, pois eles têm estabelecimentos aqui há anos e não querem trocar suas lojas por apartamentos em cohab. Aqui, eles já têm referência. Lojas de auto-peça, moto-peça, oficinas mecânicas, todo mundo que mora por aqui conhece esse pessoal. Sem contar que o morador, mesmo sem casa, continua com seu ganha-pão, mantém seu emprego ficando aqui na Mangueira, mas o comerciante não. O comerciante vai perder o seu sustento, vai ficar sem nenhuma perspectiva. Mas nós vamos continuar lutando. A luta é dura, é cansativa, mas nós não podemos permitir que a prefeitura continue com essas arbitrariedades — conclui.

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