Moradores da Vila Autódromo reunidos para entregar o Plano
No dia 16 de agosto, moradores da Vila Autódromo, zona Oeste do Rio de Janeiro, foram à prefeitura entregar um projeto independente de reurbanização da favela ao prefeito Eduardo Paes. O Plano Popular da Vila Autódromo* foi feito por arquitetos, engenheiros, urbanistas e estudantes para ser uma alternativa à remoção das cerca de 500 famílias que vivem há mais de 40 anos no local. Segundo a Secretaria de Habitação do município, a remoção faz parte dos planos de construção da Cidade Olímpica onde hoje existe o autódromo de Jacarepaguá. Na entrada do prédio da prefeitura, o presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo, Altair Guimarães, falou um pouco das inúmeras tentativas dos gerenciamentos de turno de remover a favela.
— A gente tem um processo sendo discutido há 20 anos na justiça. Há 20 anos eles tentam tirar a gente dali por conta do crescimento imobiliário da Barra da Tijuca. Hoje, a alegação é de que é por conta dos megaeventos [Copa do Mundo e Olimpíadas], mas isso é mentira, por que nos outros anos era por outro motivo. Qual o empresário que vai querer uma favela ao lado de um ivestimento daquele porte? Quando eles negociaram essa obra, nosso destino já estava vendido. Nossas vidas já estavam negociadas. Eu estou trazendo esse Plano Popular aqui hoje, mas eu acredito é na minha luta. Não acredito que isso vá fazer ele voltar atrás. Ele já negociou isso há muito tempo. Mas vamos tentar — desabafa.
Moradores mostram o Plano Popular para jornalistas
Altair criticou a inoperância do poder judiciário ao tratar a questão das remoções de favelas para os mega-eventos.
— Eu acho que o nosso judiciário é muito lento e muito covarde, porque se você for ver as leis, a Lei Orgânica do município, a Carta Magna de 88, essa terra já era para ser nossa há muito tempo e sem o uso do título. Nós já estamos ali há 40 anos. Qualquer juiz de início de carreira deveria entender isso — reclama.
O presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo terminou dizendo que o município do Rio de Janeiro se transformou em uma cidade com espaços somente os ricos.
— Quem não tem dinheiro não tem direito nenhum. Eu digo isso porque já fui removido duas vezes. Essa seria a terceira. Eu trabalhei para ajudar a levantar essa cidade. Será que eu não tenho direito a um pedacinho de terra? Tenho que estar sempre sendo removido? Não está certo isso. Eu acho que se a nossa sociedade conseguisse entender o que está por trás dos mega-eventos, o que esse prefeito está fazendo por causa disso, certamente ele mudaria de atitude. Mas como ele sabe que fica tudo abafado, essas coisas acontecem no nosso país — protesta.
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* Disponível no endereço eletrônico http://bit.ly/PlanoPopularVA