Ainda que marchando contra a torrente de mentiras e demagogia propalada pela gerência de turno de que “o pior da crise já passou”, por todo o país os trabalhadores se levantam contra a defasagem de salários, demissões, compressão do número de postos de trabalho e crescente assédio moral.
Segundo pesquisa mensal de emprego divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, em outubro foi registrada uma brusca queda no nível de formalização e menor entrada de empregados com carteira assinada. Com isso, greves e outras mobilizações seguem sendo deflagradas todos os dias nos quatro cantos do país.
Enquanto patrões demitem como nunca, aqueles trabalhadores que continuam empregados, ainda que sob constante ameaça, resistem com greves e mobilizações. Já os que perdem o emprego dificilmente conseguem ter suas carteiras de trabalho assinadas novamente, como constatou a pesquisa mensal de emprego do IBGE. Os números revelam que, pelo terceiro mês consecutivo, a quantidade de brasileiros amparados por leis trabalhistas apresentou queda, atingindo meros 54,7% em outubro. Os dados também revelaram uma desaceleração no crescimento natural da população ocupada, contradizendo as conclusões de queda do desemprego constatadas pela mesma pesquisa.
Com o fantasma das demissões batendo constantemente à sua porta, trabalhadores cruzam os braços em diversas regiões do país pressionando a classe patronal.
Petroleiros e metalúrgicos em luta
Dia 14 de outubro, mais de 28 mil petroleiros entraram em greve reivindicando reajuste salarial balizado pelo INPC, de 4,44%, ganho real de 10% e reposição das perdas desde 1994. Entre as reivindicações ainda estão: o pagamento das horas-extras para os trabalhadores de nível superior, licença maternidade de 180 dias e paternidade de 30 dias, além de melhoria da qualidade do plano de saúde. Dois dias depois, os petroleiros realizaram manifestação em frente à sede da Petrobrás, no Centro do Rio, reunindo cerca de 300 pessoas.
Petroleiros
Dia 22 de outubro, milhares de operários das fábricas da Gerdau de São José dos Campos e Pindamonhangaba, cruzaram os braços exigindo o pagamento de 10% de reajuste, além de um abono. As exigências não são, nada mais, nada menos, que um acordo, não-cumprido, firmado com patrões no curso da última campanha salarial da categoria. Durante a greve, o sindicato chegou a registrar uma queixa crime, depois que 100 operários foram mantidos por mais de 4 horas em cárcere privado pela direção da indústria.
Greves no setor da saúde
Dia 19 de outubro, médicos de Belo Horizonte entraram em greve exigindo melhores salários e condições de trabalho.
— Nós estamos reivindicando 26% de reajuste salarial e melhoria nas condições de trabalho. Sistematicamente estamos denunciando as precárias condições aos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) e aos profissionais médicos. Faltam medicamentos, equipamentos e, principalmente, recursos humanos — disse Cristiano da Matta Machado, presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais.
No mesmo dia, servidores da saúde do Mato Grosso entraram em greve reivindicando aumento salarial, redução da jornada de trabalho para 20 horas semanais, incorporação da gratificação ao salário, melhores condições de trabalho e a imediata demissão do secretário de saúde do município, Luiz Soares.
No mesmo período os servidores da saúde do Distrito Federal cruzaram os braços exigindo a incorporação ao salário de 50% da gratificação das atividades técnico-administrativas, benefício dado recentemente aos médicos e exigido agora, pelos trabalhadores de nível básico e médio.
— Não vamos aceitar a discriminação. Todos os servidores merecem o mesmo reajuste — protestou o presidente do Sindicato dos Empregados da Saúde, Agamenon Torres.
Contra a precarização do ensino
Após o anúncio feito pelo Ministério da Educação apontando o salário dos profissionais da educação do Recife como o pior do Brasil, a categoria entrou em greve
— Estamos há um ano sem reajuste e, pela primeira vez na história, o governo cortou nossos salários durante a greve. Os alunos estão aqui para protestar pelo descumprimento dos 200 dias letivos. O Estado prometeu contratar professores temporários para repor as aulas da greve e, até agora, nada — protestou o presidente do Sintepe, Heleno Araújo.
— Onde está a gestão democrática? Como estudantes nós também não somos respeitados — perguntou a aluna Kellayne Martices, durante a manifestação que percorreu as ruas de Recife no dia 20 de outubro.
Servidores denunciam descaso do governo
Dia 10 de outubro, trabalhadores da Fundação Casa, em São Paulo — antiga Febem — entraram em greve exigindo reajuste real de 16,32%, respeito à data base, segurança no local de trabalho e providências contra o assédio moral crescente na Fundação.
Uma semana depois, servidores federais de todo o Brasil cruzaram os braços por 48 horas em protesto contra o descaso da gerência Luiz Inácio nas negociações com os servidores. Os trabalhadores exigem planos de carreira, tabelas remuneratórias, reajustes de benefícios — entre os quais estão o auxílio-alimentação e a contrapartida nos planos de saúde — paridade entre ativos, aposentados e pensionistas e data base para os servidores.
Dia 20 de outubro, trabalhadores do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev) de 10 estados brasileiros, cruzaram os braços por melhores salários. No Serpro, os servidores exigem 5,53% de reajuste para um ano e de 8% para dois anos. Já na Dataprev, a proposta é 16% para dois anos.
Serpro / Dataprev
Na Paraíba, funcionários do Banco do Nordeste do Brasil, o BNB, ainda não voltaram a trabalhar após a greve de bancários que parou o setor em setembro. Eles exigem equiparação das conquistas àquelas de funcionários de outros bancos como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.
— Queremos apenas ser tratados com respeito, pois o BNB é um banco oficial como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal; portanto, devemos receber o mesmo tratamento dispensado aos colegas desses bancos — afirmou um funcionário do BNB em assembléia realizada no dia 22, quando a paralisação completou 30 dias.
Assembléia dos funcionários do Banco do Nordeste
No mesmo dia, servidores do poder judiciário de Natal, no Rio Grande do Norte entraram em greve, programada para terminar, dia 6 de novembro e realizaram uma manifestação às portas do tribunal de justiça. O movimento é parte da mobilização nacional da categoria contra a carga horária de oito horas diárias — estabelecida pela resolução 84, do Conselho Nacional de Justiça — e por melhores condições de trabalho.
Servidores Justiça
— A jornada de oito horas é um dos motivos, melhores condições de trabalho, a PEC 190, mas também o descaso do atual presidente do TJ em não atender a pauta do sindicato — afirmou o presidente do Sindijudiciário de Vitória, no Espírito Santo, Carlos Thadeu Teixeira.
Rebelar-se ou perecer de fome
Dia 22 de outubro, funcionários da Zona Azul — que fazem o serviço de estacionamento em locais públicos de Florianópolis — entraram em greve exigindo a manutenção de seus empregos. Eles são contra a privatização do setor proposta em projeto de lei encaminhado para a Câmara dos Vereadores, pelo prefeito Dário Berger, no dia 16 de setembro, que causaria a demissão de cerca de 300 trabalhadores.
No mesmo dia (22), camponeses colhedores de laranja do município de Getulina, no centro-oeste de São Paulo, cruzaram os braços contra os baixos salários e a pressão dos patrões para garantir a produtividade. Pela colheita, os trabalhadores recebem míseros 32 centavos por caixa de laranja, o que não chega a 500 reais por mês.
Bancários do Mato Grosso do Sul em assembléia pela paralização
— Com aluguel, gás, luz e família não tem condições. Esse preço que eles estão pagando não tem condições de o trabalhador prosseguir se não houver aumento. Aqui tem de atingir 50 caixas. Se não atingir 50 caixas eles estão mandando embora. Tem gente que vai o dia inteiro para tirar isso — relatou o camponês Cícero da Silva.
Bancários: traição de cabo a rabo
Carlos Tavares | Bancário da Caixa Econômica Federal
Após 15 dias de greve, iniciada em 23 de setembro, os bancários foram traídos pela direção sindical cutista-petista-governista e voltaram amargando um péssimo reajuste salarial de 6% e participação nos lucros (PLR) de 90% do salário mais R$ 1024 fixos. Para acabar com a greve a burocracia petista que dirige os maiores sindicatos bancários dividiu as assembléias entre trabalhadores dos bancos públicos e privados, conseguindo aprovar o acordo com a Fenaban e acabar com a greve nos bancos privados. O índice de reajuste foi menor que o dos metalúrgicos (que chegaram a conquistar 10%).
Banco do Brasil e Banco Nossa Caixa, em fase de fusão, também aprovaram o acordo em suas assembléias específicas. No BB se conseguiu um reajuste de 3% de reajuste nos pisos do quadro de carreiras, além dos 6% de reajuste, e PLR de 45% do salário mais valor fixo de R$ 512; o que resulta em cerca de R$ 3.000 de participação. Na Nossa Caixa, a PLR é de R$ 4 mil para cada trabalhador (R$ 60 milhões para serem distribuídos linearmente entre todos os funcionários) e reajuste de 6% (sem reajuste no plano de carreiras).
Os bancários da Caixa Econômica Federal continuam em greve tentando melhorar o seu acordo e resolver suas questões específicas, como isonomia e plano de carreiras.
Desde a posse do operário padrão do FMI-Banco Mundial na presidência que a máscara da CUT caiu e a direção sindical pelega dos bancários assumiu de vez seu papel de agência do governo, transformando os sindicatos de trabalhadores em agência de promoção dos interesses do governo e dos banqueiros.
Greves na Europa
Em Portugal, operários da Euroresinas, uma fábrica do Grupo Sonae, no complexo industrial de Sines, cruzaram os braços, dia 14 de outubro, por melhores condições de trabalho e salários. Vale lembrar que no início do mês de outubro, trabalhadores fizeram uma paralisação na mesma fábrica, denunciando pressões da empresa para que operadores de sala passassem a desempenhar funções de portaria.
Também em Portugal e no mesmo dia, trabalhadores da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) cruzaram os braços e realizaram duas manifestações pelas ruas de Lisboa denunciando excessiva carga horária e o desrespeito dos critérios de antiguidade na progressão. No mesmo dia das passeatas, gerenciamentos de turno entupiram as estações rodoviárias da cidade para intimidar os funcionários da empresa.
— É a primeira vez que assistimos a uma coisa destas, penso que o objetivo é amedrontar os trabalhadores — afirmou Jorge Costa, presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas.
Na Itália, também houve greve em todos os transportes, parando trens, ônibus e metrô. Os trabalhadores reivindicam melhores condições de trabalho e salários e exigem a revisão dos cortes de verbas na educação. No dia 23 de outubro, as categorias promoveram manifestações em diversas cidades do país para reforçar sua posição.
Uma semana antes, na Espanha, operários da Magma — fábrica da General Motors (GM) em Figueruelas — entraram em greve contra a demissão de cerca de 1,35 mil trabalhadores e a transferência de parte da produção para a fábrica de Eisenach, na Alemanha.
Também na Espanha, funcionários da empresa aérea Iberia entraram em greves depois que a direção da companhia se negou a assinar um contrato coletivo com os trabalhadores e, além disso, anunciou recentemente que congelará salários e dará aposentadorias antecipadas.