Revelações sobre a resistência palestina – parte 1: Dos cananeus ao holocausto

Revelações sobre a resistência palestina – parte 1: Dos cananeus ao holocausto

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Combatendo a campanha de desinformação da imprensa capitalista e a propaganda do Estado de Israel, autores israelenses, árabes e de outras nacionalidades falam de questões básicas da história palestina.

Da esquerda para a direita:
Eichmann, Golda Meir, Ezerweisman, Ben Gurion, Herzl, Weizman e Kastner

1 O hebreu foi realmente o primeiro povo a habitar a Palestina?

“Antes que os hebreus migrassem pela primeira vez à região, por volta de 1800 A.C., o país de Canaã já estava ocupado pelos cananeus.” — A origem do conflito palestino-israelense, grupo Judeus pela Justiça no Oriente Próximo.

“Entre 3000 e 1100 A.C., a civilização cananéia já cobria o que hoje é Israel, Cisjordânia, Líbano e grande parte da Síria e da Jordânia.” — Sua terra prometida, de Marcia Kunstel e Joseph Albright.

“Os reinos judeus foram somente um entre muitos períodos da história da antiga Palestina.” — A origem do conflito palestino-israelense.

“Os amplos reinos de Davi e Salomão, nos quais os sionistas baseiam suas reivindicações territoriais (Palestina), duraram apenas uns 73 anos… Posteriormente se desmembraram… (Inclusive) se consideramos independentemente a história inteira dos antigos reinos judeus, desde a conquista de Canaã por Davi em 1000 A.C. até a erradicação da Judéia em 586 A.C., concluímos que o regime judeu foi de (somente) 414 anos.” (Obs: 414, numa história de quase 5 mil anos) — Árabes e judeus no país de Canaã, Illene Beatty.

2 A partir de sua deportação à Assíria em 721 A.C., à Babilônia, em 586 A.C. e à expulsão ordenada pelos romanos em 70 DC, os judeus foram impedidos de voltar à Palestina?

(Muitos judeus pobres, camponeses, puderam permanecer na terra, enquanto milhares de outros — pertencentes às classes políticas mais poderosas, além de proprietários rurais, artesãos e comerciantes foram forçados ao exílio) “…mas em 538 A.C. os persas ocuparam Canaã e o Rei Ciro ordenou o regresso dos judeus deportados. No entanto, a massa principal dos judeus preferiu ficar na Babilônia. Os únicos que regressaram à Palestina pertenciam às classes mais pobres e a dos escravos. A que se devia essa negativa da imensa maioria dos judeus em regressar à Palestina? Sem dúvida, a fatores econômicos: dificilmente se poderia esperar que os judeus, já ricos, abandonassem a fértil Babilônia para regressar aos desmatados e áridos montes da Judéia.” — Duas caras da mesma moeda: sionismo e anti-semitismo, Ahmad Sobeh; De olho no sionismo, Yuri Ivánov.

“…Em 63 A.C. Jerusalém caiu (em mãos dos romanos) e a Judéia é proclamada província romana… reconhecendo-se a autonomia para os judeus. (…) Os judeus se tornam provedores de mercadorias para a classe dominante romana, o que lhes permite obter proteção política e livre trânsito por todo o império. (…) O centro da vida judia se transfere para a Europa. (…) Após a queda do império romano os judeus emigraram para todas as regiões do mundo onde havia existido aquele império (preferindo não voltar à Palestina), reafirmando-se como classe comerciante. (…) Assim foram perdendo toda a identidade judia, adquirindo a identidade dos povos onde passaram a residir. (A pequena parcela judia que permaneceu na Palestina, agricultores pobres, artesãos e escravos, viu-se reduzida por sua incorporação ao cristianismo).” — Duas caras da mesma moeda: sionismo e anti-semitismo.

(Em meados do século XIX, antes da existência do sionismo, a Inglaterra começou a estimular a volta dos judeus à Palestina). “No entanto o projeto britânico não prosperou… a idéia foi rechaçada pelos próprios judeus europeus que se mostraram surpresos com uma iniciativa que pretendia desenraizá-los dos países onde viviam para levá-los a um país distante, com características que consideravam ‘incivilizadas’ e sob o domínio do império otomano.” — Duas caras da mesma moeda: sionismo e anti-semitismo.

“Os pogroms obrigaram numerosos judeus a abandonar a Rússia (czarista). Sociedades conhecidas como os ‘Amantes de Sión,’ que foram predecessoras do movimento sionista, tentaram convencer alguns dos emigrantes afugentados de que fossem viver na Palestina. (…) A maior parte dos judeus russos ignoraram esse chamado e fugiram em direção à Europa e aos EUA. Por volta de 1900, quase um milhão de judeus haviam se estabelecido somente nos EUA.” — Nossas raízes ainda vivem, The People Press Palestine Book Project.

3É verdade que os judeus, os palestinos e os demais árabes sempre foram inimigos?

“(Durante a Idade Média) as cidades árabes da África do Norte e do Oriente Próximo foram lugares que deram asilo e refúgio para os judeus (perseguidos) na Espanha e em outras partes. Na Terra Santa… (os palestinos e a minoria judaica) viveram juntos em harmonia, uma harmonia que só se deteriorou (no final do século XIX) quando os sionistas começaram a afirmar que a Palestina era uma possessão ‘justa’ (e exclusiva) do ‘povo judeu’, excluindo seus habitantes muçulmanos e cristãos.” — Colheita amarga, Sami Hadawi.

“Antes do século XX, a maior parte dos judeus que viviam na Palestina (Obs: Cerca de 10 mil pessoas, segundo O sionismo: princípio e fim, de Abu-Mazen) pertenciam ao velho Yishuv, ou Comunidade, que haviam se estabelecido lá por razões mais religiosas do que políticas. Havia pouco ou nenhum conflito entre eles e a população árabe. As tensões começaram depois que os primeiros colonos sionistas chegaram nos anos 1880… quando compraram terras de proprietários árabes ausentes (Obs: principalmente famílias libanesas, que não residiam na Palestina; naquela época, os árabes não estavam divididos em países, tudo era uma coisa só, sob o domínio do império turco), conduzindo à expulsão dos camponeses (palestinos) que as haviam cultivado.” —A disputa árabe-israelense, Don Peretz.

“(Os judeus nativos e moradores da Palestina)… Não viam a necessidade da criação de um estado judeu na Palestina e não queriam prejudicar suas relações com os árabes.” — Palestina e Israel: um desafio à justiça, John Quigley.

4 O sionismo. Quando e por que surgiu a idéia do retorno judeu em massa à Palestina?

“(…) a grande burguesia imperialista européia tinha velhos planos para penetrar no Oriente Médio, então controlado… pelo império otomano, e criar na Palestina um Estado ‘tampão’ que garantisse um corredor livre para suas rotas comerciais à Índia e à Ásia. (…) A partir da segunda metade do século XIX… resolve retomar esses projetos. (Em 29 de agosto de 1897 se realiza o Primeiro Congresso Sionista Mundial na Basiléia, Suíça, liderado pelo jornalista judeu húngaro Theodor Herzl.) Segundo a definição adotada (pelo Congresso) o objetivo sionista é ‘assegurar ao povo judeu um lar na Palestina, garantido pelo Direito Internacional. (…) Herzl assenta as bases para incluir o movimento sionista dentro dos interesses das potências européias coloniais… e escreveu: ‘Para a Europa, formaríamos ali (na Palestina) parte integrante do baluarte contra a Ásia… a vanguarda da cultura em sua luta contra a barbárie.” — Duas caras da mesma moeda: sionismo e anti-semitismo.

“A grande burguesia judaica também pensava em obter grandes benefícios (com a futura criação de um ‘lar judeu’ na Palestina)… via com temor o surgimento do anti-semitismo na Europa, já que esse fenômeno podia pôr em perigo a sua posição privilegiada. Para o grande burguês judeu, afastar (para longe da Europa) os judeus médios e proletários significava não só frear o anti-semitismo, como também era uma questão de sua sobrevivência como parcela da classe dominante… (Além disso) criar um Estado judeu significava para a grande burguesia judaica ter um novo território que não só garantisse seus interesses econômicos na zona… como também um novo estado para onde exportar seus capitais” — Duas caras da mesma moeda: sionismo e anti-semitismo.

 

5As massas judias queriam efetivamente retornar à Palestina?

“Apesar desses claros interesses econômicos, objetivamente existia um grande obstáculo (para a transferência de judeus à Palestina para a futura criação do estado): a falta de interesse das próprias comunidades judias” — Duas caras da mesma moeda: sionismo e anti-semitismo.

“Minha consciência da natureza essencial do judaísmo resiste à idéia de um Estado judeu, com fronteiras, um exército e algum poder temporal, por modesto que seja. Temo o dano interno que isso acarretaria ao judaísmo.” — Albert Einstein, citado em A origem do conflito palestino-israelense.

“A reivindicação dos judeus sobre a terra de Israel não pode ser uma reivindicação legítima. Se todas as nações começarem repentinamente a reivindicar territórios onde seus antepassados viveram 2 mil anos antes, este mundo se transformará num manicômio…” — Erich Fromm, citado em A origem do conflito palestino-israelense.

“O 12º princípio de nossa fé é, creio, que o Messias reunirá os judeus exilados que estão dispersos por todas as nações do mundo. O sionismo é diametralmente oposto ao judaísmo. O sionismo define o povo judeu como uma entidade nacional. (…) Os sionistas dizem: ‘Olha, Deus. Não gostamos do exílio. Leve-nos de volta, e se não o fazes então arregaçaremos as mangas e voltaremos sozinhos’. Isso é uma heresia. O povo judeu está obrigado, por juramento divino, a não impor seu retorno à Terra Santa contra o desejo daqueles que ali residem.” — Rabino Hirsch (Jerusalém), Washington Post de 3 de outubro de 1978, citado por Sami Hadawi em Colheita amarga.

“(A resposta a esta pergunta) está na realidade atual: no dia 15 de maio de 1948 criou-se Israel, ‘o Estado dos judeus’. Passaram-se 34 anos e vivem naquele território apenas 3 milhões dos 16 milhões de judeus existentes no mundo. Onde está o ancestral sonho de voltar a Sión (como pregavam e ainda pregam os sionistas)? O sonho de voltar à sua ‘pátria histórica’?” (Obs: atualizando os dados, registra-se que dos mais de 20 milhões de judeus hoje existentes no mundo, somente 6,3 milhões escolheram Israel para viver. Entre estes, não há qualquer unidade étnica e nacional, mesclando-se poloneses, norte-americanos, russos, argentinos, ucranianos, mexicanos, etíopes, etc., a maioria conservando costumes, hábitos, folclore dos seus países de origem. Apenas uma pequena parcela desta população poderia talvez ser considerada como de ascendência hebréia.) — Duas caras da mesma moeda: sionismo e anti-semitismo.

“(…) Como a grande burguesia judaica e não-judaica européias iriam conseguir fazer com que as massas judias aceitassem seu projeto colonial se não havia condições objetivas? A resposta foi clara: criar artificialmente essas condições. (…) Para isso recorreram ao anti-semitismo. Com efeito, o único fator que havia conseguido frear, de alguma forma e em certos lugares, o processo de assimilação (dos judeus às sociedades onde viviam) era o anti-semitismo, já que propiciava o reagrupamento dos judeus por razões óbvias de autodefesa… e os mitos existentes em torno dos judeus, que seriam usados como premissas ideológicas do sionismo.” — Duas caras da mesma moeda: sionismo e anti-semitismo.

“A judeufobia é uma psicose. Como tal, é hereditária e, em vista de que é uma enfermidade que se transmite por herança desde 2 mil anos atrás, é completamente incurável.” — Auto-emancipação, do sionista León Pinsker.

“Os defensores judeus da etiqueta de ‘vítima’ compreendem não só sua efetividade social como também sua utilidade como meio de assegurar a solidariedade judia e, através disso, a sua sobrevivência. Se fôssemos odiados eternamente por todos e estivéssemos condenados a ser eternamente condenados por todos, então valeria a pena que nos mantivéssemos unidos e que nos arranjássemos com o que temos… Pessoalmente, nunca acreditei que essa imagem do não-judeu que odeia eternamente tenha algo a ver com a realidade. Parece um mito, puro e simples, fora o fato de ser um mito inquietante.” — Rabino Mayer Schiller, citado em Aspectos do Conselho Norte-Americano pelo Judaísmo.

6É real a versão de que os sionistas firmaram pactos com os assassinos nazistas?

“A colaboração dos dirigentes sionistas com os nazis está amplamente documentada. O exemplo mais revelador talvez seja o de Rudolf Kastner, vice-presidente da Organização Sionista. Foi com ele que Eichmann negociou na deportação dos judeus da Hungria. Estes dois homens chegaram a um acordo no sentido de que Eichmann deixaria sair ‘ilegalmente’ alguns milhares de judeus ‘de elite’ — sionistas — com destino à Palestina (seus trens inclusive foram escoltados pela polícia alemã). Em troca disso, ‘a ordem e a tranquilidade’ reinariam nos campos de concentração desde onde estavam sendo conduzidos centenas de milhares de judeus em direção a Auschwitz. (…) Eichmann chegaria a ponderar que o Dr. Kastner havia sacrificado seus correligionários por um ‘ideal’. Para conseguir o seleto direito a tal ‘ideal’ — 1.685 judeus escolhidos pela Organização Sionista, ‘úteis’ para a colonização da Palestina — Kastner garantiu a Eichmann que 470 mil judeus sairiam para os campos da morte sem opor resistência alguma, pois não lhes seria dito que estavam sendo conduzidos ao extermínio, lhes fariam crer que era um simples translado.” — Mundo Obrero, de Leslie Feinferg, 2002.

“(…) Se o acordo (de Eichmann e Kastner) foi um ato desesperado, uma tentativa de salvar ao menos umas quantas centenas de judeus, então como se explica que, anos depois, a Corte Suprema de Israel santificasse a memória de Kastner com o argumento de que ‘os judeus húngaros eram um ramo morto’?” — Revista Memoria, México, site: www.memoria.com.mx

“(…) Segundo o juiz Halevi, durante o julgamento de Eichmann, Kastner interveio para salvar um de seus interlocutores nazistas… Kurt Becher. O testemunho de Kastner, no processo de Nuremberg fez com que (Becher) escapasse do castigo. O juiz Halevi foi taxativo: ‘Não houve nem verdade nem boa fé no testemunho de Kastner. Ele perjurou claramente ante este Tribunal, quando negou que intercedeu em favor de Becher. Além disso ocultou este importante fato: sua diligência em favor de Becher foi feita em nome da Agência Judaica e do Congresso Mundial Judeu… e foi por isso que Becher foi posto em liberdade pelos Aliados’.

Depois do julgamento, a opinião pública israelense se agitou. No jornal Haaretz, o Dr. Moshé Keren escreveu em 14 de julho de 1955: ‘Kastner deveria ser condenado por sua colaboração com os nazistas’. E o vespertino Yediot Aharonoth (23 de junho de 1955) explicou porque isso não seria possível: ‘Se Kastner for levado ao tribunal, o governo (israelense) como um todo correria o risco de desmontar-se totalmente ante a nação, como consequência daquilo que tal processo descobriria’.

O que corria o risco de ser descoberto era que Kastner não havia atuado sozinho, mas sim em combinação com outros dirigentes sionistas que naquele momento faziam parte do governo. A única forma de evitar que Kastner falasse e detonasse o escândalo era que desaparecesse. Efetivamente ele morreu, de forma providencial, assassinado na escadaria do Palácio da Justiça.” — Les mythes fondateurs de la politique israélienne, Roger Garaudy.

“Em virtude do estatuto privilegiado do sionismo na Alemanha nazista, a Gestapo da Baviera, em 28 de janeiro de 1935, dirigia à polícia alemã a seguinte circular: ‘Os membros da organização sionista, por sua atividade orientada à emigração à Palestina, não devem ser tratados com o mesmo rigor que… os membros das organizações judias alemãs (assimilacionistas).” — Sionistes et non-sionistes sous la loi nazie dans les années 30, Kurt Grossmann.

“Em agradecimento por serem reconhecidos oficialmente como únicos representantes da comunidade judia (na Alemanha) os dirigentes sionistas se ofereceram para romper o boicote antifascista mundial (contra Hitler). Assim, em 1933 iniciaram uma colaboração econômica, sendo criadas duas companhias: a Haavara Company em Tel-Aviv e a Paltreu em Berlim. (…) Vários futuros primeiros-ministros de Israel participaram do empreendimento da Haavara, concretamente Ben Gurión, Moshé Sharret (ou Moshé Shertok), a sra. Golda Meir… e Levi Eshkol, que era seu representante em Berlim. As operações eram vantajosas para ambas as partes: os nazis conseguiam romper o bloqueio (os sionistas faziam fortunas vendendo mercadorias alemãs inclusive à Inglaterra) e os sionistas realizavam uma imigração ‘seletiva’ tal e como desejavam. (…) Só os milionários podiam emigrar (aqueles cujo capital permitiria o desenvolvimento da colonização sionista na Palestina). De acordo com… o sionismo era mais importante salvar da Alemanha nazista os capitais judeus… do que as vidas dos judeus pobres, ou inaptos para o trabalho ou para a guerra, o que seria uma carga. Essa política de colaboração durou até 1941 (durante 8 anos após a chegada de Hitler ao poder).” — L’Accord de la Haavara, Ben Gourion e Shertok, citado por por Tom Segev; Les mythes fondateurs de la politique israélienne.


*Fontes principais: documento A origem do conflito palestino-israelense, 2002, do grupo Judeus pela Justiça no Oriente Próximo (site www.palestina.com.mx); Dois lados da mesma moeda: sionismo e anti-semitismo, de Ahmad Sobeh — ex-embaixador da OLP na Espanha, México e Brasil — , editora Nuestra America, 1983, México; Les mythes fondateurs de la politique israélienne, Roger Garaudy, 1996.
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