No dia 18 de outubro, 30 carretas aguardavam para serem carregadas no pátio da fábrica de fertilizantes Heringer, localizada em Viana – ES. Quase duas semanas depois, já eram cem carretas paradas devido a maior greve operária da história da fábrica.
Assembleia dos operários da Heringer, ocorrida em 29 de outubro
Em matéria produzida pela T&T Comunicação e publicada na página do Sindicato Nacional dos Papeleiros, o diretor doSindicato dos Trabalhadores Papeleiros e Químicos do Espírito Santo, Aloir Rodrigues, denunciou as péssimas condições de trabalho enfrentadas pelos operários da Heringer. Segundo ele, os trabalhadores que carregam a sacaria, chamados de “pegadores”, fazem esforço sobre-humano. Ele explica que o maquinário 01 fabrica 300 toneladas de fertilizantes por dia, o que corresponde a seis mil sacos. Quatro trabalhadores são destacados para carregar esses sacos e encher os caminhões com capacidade para 14 toneladas cada um. “Isso significa que cada um carrega 1.500 sacos por dia. A quantidade de lesionados na coluna, ombros e braços é grande” – afirmou o dirigente sindical.
O diretor do Sinticel ainda relatou que os trabalhadores têm que descarregar na enxada as carretas graneleiras, com matéria-prima que vem do porto, como cloreto granulado, pink, ureia, sulfato de amônia, etc. Ele também explica que uma série de produtos químicos, quando misturados, geram enorme quantidade de poeira que fica suspensa no ar, provocando náuseas, tonteiras e sangramento no nariz.
A matéria ainda revela que “a empresa não paga insalubridade para os operários da produção. O Sinticel tem três ações coletivas contra a Heringer, reivindicando o pagamento de insalubridade, mas quando os peritos da justiça do trabalho vão à empresa, medir os índices de barulho e poeira, a empresa desliga as máquinas”.
“Outra falha, apontada pelos empregados, é na segurança. Os acidentes não são anotados e comunicados. Hoje a empresa opera com apenas dois técnicos de segurança, que trabalham de dia e nenhum no período da noite“. [fonte: sinap.org.br, artigo de T&T Comunicação – Tania Trento, publicado em 29 de outubro de 2012]
O Sinticel denunciou que, na noite do dia 17, a empresa reteve os trabalhadores do turno da noite, que deveriam sair às 7 horas do dia 18, para que eles não aderissem ao protesto.
Os grevistas reivindicavam: reajuste salarial com ganho real de 20%, piso salarial de R$ 1.000; cesta básica de R$ 300 (inclusive no 13º salário); transporte para todos os trabalhadores; Participação nos Lucros e Resultados (PLR) sem desconto dos prejuízos; horas extras de 125%; adicional noturno de 50%; e reembolso creche e kit escolar, entre outras demandas.
No dia 19, um combativo piquete agitava palavras de ordem no portão da fábrica. Operários seguravam uma faixa com os dizeres: “Trabalhadores na Heringer não são escravos”. Eles protestavam contra a recusa da empresa em se posicionar sobre a pauta de reivindicações. A Heringer tentou transferir essa responsabilidade para o Sindicato dos Químicos do Espírito Santo – Sindiquímicos.
“Acontece que a Heringer insiste em conversar com um sindicato que é de patronados (sic.) e não de trabalhadores. Para conversar com as empresas é fácil, mas queremos que a negociação seja com a gente” – declarou um dos grevistas ao eshoje.jor.br.
No dia 23, após uma semana de paralisação, os trabalhadores queimaram pneus em um dos acessos à fábrica. Piquetes operários nos portões da Heringer sustentavam a paralisação.
Em nota a Heringer informou que já recebeu a pauta de reivindicações enviada pelo Sinticel, e que o processo de negociação vai acontecer na data base, prevista para iniciar no dia primeiro de novembro. Segundo a empresa, o Sindiquímicos, representante das empresas químicas do estado, também já recebeu a pauta de reivindicações.
A nota diz ainda que a Heringer conseguiu, na segunda feira (22), uma liminar contra o Sinticel, para garantir o livre acesso de veículos e pessoas. Porém, na terça (23), os manifestantes voltaram a obstruir a circulação de veículos e inclusive de pessoas na empresa.
Essa, que foi amais longa greve dos trabalhadores da Heringer, foi encerrada após uma assembleia geral no dia 29 de outubro. Os 170 trabalhadores da fábrica permaneceram em greve por 13 dias, sustentando combativos piquetes na portaria da empresa, enfrentando o descaso e a intransigência dos patrões.
A Heringer só se prontificou em negociar quando já acumulava um prejuízo estimado de R$10 milhões.
A greve arrancou grande parte das reivindicações: antecipação de 12% de reajuste para a faixa salarial de até R$ 1.059,46 (atingindo 70% dos operários da produção) e de 8% para os demais salários do setor fabril; a cesta básica (que hoje é de R$130,00) será reajustada em 15% passando para R$ 150; conquistaram 30 dias de estabilidade para todos que estiveram no movimento de paralisação.