Rodoviários – Porque greves sacodem BH

Rodoviários – Porque greves sacodem BH

Print Friendly, PDF & Email

O Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte e Região está em plena jornada de lutas da sua campanha salarial. Já ocorreram paralisações nas garagens e o monopólio dos transportes, como sempre, insiste em atacar os direitos dos trabalhadores. O trabalhador rodoviário em todo o país é submetido a uma jornada estressante, trânsito intenso, ônibus mal regulados e em péssimo estado de conservação, que causam problemas físicos e mentais. Os rodoviários têm todos os dias a responsabilidade de transportar vidas, centenas de milhares de pessoas, trabalhadores como eles, também para ser explorados por uma classe de parasitas. Mas lutam com o seu Sindicato, combatem o arrocho e a exploração e constroem um movimento combativo que cresce em meio à categoria.

 

Durante a greve dos rodoviários vários ônibus foram atacados em Belo Horizonte

Para atacar o justo movimento da jornada de lutas dos Rodoviários de Belo Horizonte e região, os editoriais e capas dos jornais reacionários estampam raivosos: “Protesto deixa mais de 20 ônibus depredados em BH”, “Praça de guerra: manifestantes armados com paus e pedras danificaram ônibus e paralisaram a Estação Diamante, no Barreiro”, “Quebradeira na estação: Paralisação revolta usuários e 21 ônibus são depredados na capital”, “Greve e Revolta” …”pelo menos 8 mil pessoas ficaram sem transporte entre 7h e 9h25, Três menores foram apreendidos, acusados de apedrejar os ônibus.”

Quando se fala em greve dos rodoviários em Belo Horizonte, dois fatos são recorrentes: um é o pavor e ódio despertado em toda casta de reacionários, passando pelo monopólio das empresas de ônibus, chegando até ao comércio. Pois quando param as garagens e terminais, ninguém embarca.

— Se não for assim — comenta Ronaldo Batista, diretor do sindicato — nós sequer somos ouvidos. Os patrões sentam à mesa de negociações e querem ditar tudo, não querem conceder aumento, mas aumentam as passagens indiscriminadamente. Não querem greve, mas também não querem atender nosso direito. A greve é uma das formas que utilizamos em nossa luta, e enquanto ela não estoura, enquanto o povo não se revolta com a falta do transporte, as negociações não avançam.

O diretor do sindicato acrescenta:

— Quando os ônibus param, aí começa a ladainha. Falam que a culpa é do trabalhador rodoviário, nos culpam por tudo: pelo caos do trânsito, pelo atraso dos trabalhadores de outros setores, pelas filas imensas nos pontos. Mas a culpa é dos patrões, porque se eles nos respeitassem, se pagassem um salário justo, renovassem a frota, diminuíssem o alto preço das passagens… mas eles são patrões; só querem o lucro máximo. E nós somos trabalhadores organizados, queremos nossos direitos e lutamos por eles. Por isso esclarecemos à população de que se atrasarem para o serviço por causa das paralisações, entendam que isto é culpa das empresas de transporte, e que se os seus patrões cortarem o dia de serviço por isso, eles devem procurar seu sindicato e não devem aceitar medidas desse tipo — conclui.

Após uma série de assembléias setoriais, a assembléia geral convocada pelo Sindicato decidiu iniciar paralisações nas garagens e estações. Assim, desde o começo do mês de março já ocorreram paralisações em três regiões da capital. Ocorreram greves nas garagens das Viações Real, Getúlio Vargas, e Urca/Carneirinhos. Na segunda-feira, dia 12 de março foi a vez da empresa Betânia Ônibus.

O segundo pavor

Quando a paralisação atingiu a Estação Diamante, onde passam milhares de pessoas todos os dias, o movimento se radicalizou. Os piquetes dos rodoviários fecharam o terminal durante a manhã.

O volume de passageiros foi aumentando na mesma proporção da revolta. Revolta contra o atraso, contra as filas gigantes todos os dias e contra os ônibus lotados. Revolta contra a terceira tarifa de transporte mais cara do Brasil (ver quadro), contra o arrocho salarial, contra o fato de terem de sair cedo todos os dias e atravessar a cidade para receber quase nada de salário.

Sempre que eclode uma greve dos rodoviários em Belo Horizonte, o povo libera toda a sua revolta voltando-se contra os ônibus e contra a dobradinha prefeitura-PT e BHTrans — Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte S/A. Essa associação dos patrões e prefeitura do PT, que já dura mais de 12 anos na capital mineira, promove todos os anos (de acordo com as denúncias feitas pelo Volante Rodoviário, boletim do Sindicato dos Rodoviários) aumentos das tarifas justamente na semana entre o natal e o ano novo, quando a cortina de fumaça das festas de fim de ano encobrem as tramas das classes reacionárias locais.

Revolta incontida

— Pouco a pouco, o ônibus está ficando mais caro que a comida. Quando posso, prefiro andar de 15 a 30 minutos para evitar mais gastos — disse Eliane Souza Silva, Promotora de vendas, quando do último aumento das tarifas do transporte público em Belo Horizonte.

O povo de Belo Horizonte vem, há vários anos, sendo desrespeitado pela prefeitura do PT e suas gerenciadoras públicas. Na última década, foram implantadas ‘reformas’ que visaram destruir a educação pública, com a ‘escola plural’ e seu regime de aprovação automática; os vendedores ambulantes foram banidos e encarcerados nos ‘shoppings populares’, verdadeiros guetos fascistas controlados pela prefeitura e uma máfia estrangeira; em Belo Horizonte os estudantes em luta há anos não tem o direito ao passe-livre nos ônibus; BH tem a terceira tarifa de transporte público mais cara do país. Isto apenas para citar alguns casos.

Particularmente sobre o quadro do transporte público, a insatisfação popular é geral. Os terminais e estações de integração ônibus/metrô, estão sempre lotadas. As filas para embarque revelam imensas demoras nas viagens. Os ônibus, ao invés de seguirem diretamente dos bairros para o centro da cidade e vice-versa, como acontecia antes, agora têm de passar obrigatoriamente por essas estações. Uma vez lá, os usuários são submetidos ao quadro de horários formulado pelas empresas, tecnicamente construído para manter a superlotação. A lógica do investimento zero e o lucro máximo para os patrões representados pelos grupos SETRABH e SINTRAM.

E o povo se revoltou. O que eram gritos e protestos verbais, transformaram-se em pedradas. A massa que se concentrava na Estação Diamante quebrou mais de 20 ônibus. Os manifestantes impediram a circulação de 126 ônibus que atendem 26 linhas da região do Barreiro. A Polícia Militar, que deveria ser acionada para proteger o povo, cumpriu ordens dos patrões e prendeu com truculência três adolecenstes, estudantes. Mas, nem a repressão policial foi capaz de intimidar o movimento.

— Nenhum coletivo deixou a estação ou mesmo a garagem da Betânia Ônibus, dona da maioria dos carros que circulam aqui na região — explicou Ronaldo Batista.

Rodoviários exigem

A pauta de reivindicação dos trabalhadores rodoviários de Belo Horizonte e Região:

  • 5 salários mínimos para motoristas;
  • 5 salários para mecânico, borracheiro, moleiro, lanterneiro, pintor, eletricista e técnico de segurança;
  • Salário de cobrador: 60% do valor do salário do motorista;
  • Tíquete alimentação 30 folhas de R$ 15,00 cada;
  • Plano de saúde e tíquete alimentação para os afastados;
  • Não compensação de horas extras;
  • Jornada de trabalho de 6 horas;
  • Retirada dos micro-ônibus sem cobradores.

De acordo com Denílson Dornelas, diretor do Sindicato dos Rodoviários, a diretoria do Sindicato intensificará a mobilização até a conquista das reivindicações. Novas assembléias e manifestações estão planejadas para breve.

Preços (Tarifas básicas)
São Paulo -SP R$ 2,30 Palmas — TO R$ 1,70
Florianópolis -SC R$ 2,10 Salvador — BA R$ 1,70
Belo Horizonte — MG R$ 2,00 São Luís — MA R$ 1,70
Brasília — DF R$ 2,00 Fortaleza -CE R$ 1,60
Campo Grande-MS R$ 2,00 João Pessoa — PB R$ 1,60
Rio de janeiro — RJ R$ 2,00 Macapá -AP R$ 1,60
Cuiabá — MT R$ 1,80 Maceió — AL R$ 1,60
Boa Vista — RR R$ 1,80 Natal — RN R$ 1,60
Curitiba — PR R$ 1,80 Recife — PE R$ 1,60
Goiânia — GO R$ 1,80 Vitória — ES R$ 1,55
Manaus — AM R$ 1,80 Aracaju — SE R$ 1,55
Porto Velho — RO R$ 1,80 Teresina — PI R$ 1,50
Rio Branco — AC R$ 1,75 Belém PA R$ 1,35
Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: