Rondônia perde Paulo Queiroz – Um jornalista solidário

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Rondônia perde Paulo Queiroz – Um jornalista solidário

A imprensa de Rondônia perdeu um dos seus melhores e mais dedicados jornalistas: Paulo Queiroz Bezerra, 63 anos, colaborador de A Nova Democracia e outras publicações naquele estado, foi encontrado morto na redação da sua página na internet www.rondoniasim.com.br no centro de Porto Velho, no dia nove de março.

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Seu corpo foi velado na sede administrativa da Universidade Federal de Rondônia (Unir), da qual foi assessor de imprensa, e sepultado no Cemitério Jardim da Saudade, com grande acompanhamento.

Usava remédio para controle da pressão arterial. A porta da redação estava trancada e um frasco de remédios estava lá. Chegou-se a cogitar a versão de suicídio, não confirmada. Paulo Queiroz deixou cinco filhos, dois deles adotivos.

Nascido no Ceará, ele foi levado pelos pais com apenas um ano de idade para Pombal (PB), e de João Pessoa mudou-se para Rondônia, em 1978. Dono de um texto refinado, tornou-se o mais famoso comentarista político do estado. Até o início de março participava da programação da Opinião TV. Na sua prestigiada coluna “Política em Três Tempos” defendeu com garra o direito dos camponeses a um pedaço de terra na Amazônia Ocidental.

Apoiou essa luta também na sua página na internet e no âmbito universitário, cujas mobilizações sempre prestigiava e divulgava, com ênfase para as vítimas da Batalha de Corumbiara, em 1995.

Sua experiência e liderança foram fundamentais na organização da então Associação dos Jornalistas e posteriormente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Rondônia, do qual foi presidente. O jornalista Paulo Ayres lembra o período entre o final dos anos 1970 e início da década de 1980: “Paulo Queiroz enfrentou uma verdadeira batalha, em alguns momentos incompreendidos (…) Eram épocas sem piso salarial, sem veículo para se locomover, sem internet, e com uma forte pressão governamental”.

Solidário, vivia dos salários profissionais e auxiliava a todos que lhe pediam. Não se apegava a bens materiais. Em janeiro, quando recebeu o pagamento por serviços prestados na campanha do atual governador, Confúcio Moura (PMDB), Paulo Queiroz recebia de um ex-deputado falecido recentemente a confirmação de que também lhe pagaria um dinheiro atrasado. Não quis, indicando-lhe a conta corrente do filho do jornalista Jorcêne Martínez, com quem trabalhara em Porto Velho, em “A Tribuna” e “O Guaporé”. Martínez fora vítima de um AVC em junho e precisava mais do que ele, raciocinava. Assim ele fez muitas vezes, com um companheirismo incomum.

Torturado

Antes de trabalhar em Rondônia, Paulo Queiroz enfrentou o regime militar nos anos 1970, militando na Ação Libertadora Nacional (ALN), que foi liderada por Carlos Marighella. Quebraram-lhe os dedos de uma das mãos, durante uma sessão de tortura.

Um dos seus amigos mais próximos, o jornalista Robson Oliveira, lembrou que ele vivia ultimamente quase só, “sem se chocar com mais nada”. “Paulo Queiroz adquirira uma sensibilidade muito viva e capaz de sofrer profundamente sem incomodar ninguém”.

“Fora dos livros de filosofia e dos CDs, seus fins de semana não existiam. Trocava poucas banalidades. E quando balbuciava algumas delas, era com a mesma genialidade como se abordasse sobre uma tese. Genialidade era-lhe algo peculiar. Intrínseco à sua formação intelectual”, assinalou Oliveira.

Ainda é Oliveira quem se lembra: Paulo Queiroz chegou a cursar filosofia, medicina, comunicação social e história. Mas consta nos anais da Universidade Federal da Paraíba a conclusão do curso de matemática.

Coragem profissional

Prosperidade era o nome de uma gleba no Distrito de Riozinho, em Cacoal. Lugar de sangue, suor e lágrimas, parafraseando a expressão do premiê britânico Winston Churchill em 1940, no começo da Segunda Guerra Mundial. Na época, Paulo era redator de política em “A Tribuna”.

Quase 80 famílias eram perseguidas por pistoleiros e ocupavam pedaços de terra cuja posse era reivindicada por fazendeiros paulistas. Insultadas na beira da cerca de arame farpado, elas foram despejadas e impedidas de retirar as colheitas de café, arroz, feijão, mandioca, milho, banana, abacaxi, e alguns porcos, patos, galinhas e cães de estimação. Tudo era confiscado.

Em junho de 1978, um batalhão de soldados da PM executou a tiros o segundo despejo. Duas grávidas passaram mal. O advogado das famílias era Agenor Martins de Carvalho, assassinado em 1980 em Porto Velho. Os abusos corriam a BR-364. Outro oficial de justiça requisitara a PM para despejar posseiros em Pimenta Bueno. O então juiz de direito e mais tarde desembargador, César Montenegro, decretara o despejo de apenas cinco famílias, mas o oficial decidiu despejar 70.

Em janeiro de 1979, por maioria de votos, o Tribunal de Justiça revogava a decisão do juiz Clemenceau Maia e determinava o retorno das famílias aos lotes, em Cacoal. No entanto, persistiam os interrogatórios a jornalistas que noticiavam o fato. Paulo Queiroz dava a manchete do jornal: “Só resta medo na gleba que um dia foi Prosperidade”. Autêntico, direto, como convinha a qualquer editor que viu e viveu a peleja fundiária em Rondônia naqueles tempos, assim como hoje.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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