Sabem as hordas fascistas: Também a Palestina é indomável

Sabem as hordas fascistas: Também a Palestina é indomável

Matéria da edição impressa número 31, Setembro de 2006.

A história oficial do imperialismo diz que, encerrada a Segunda Guerra, a Inglaterra pacificamente se retira da Palestina e delega à recém criada Organização das Nações Unidas a incumbência de “solucionar o conflito judeu-palestino”. Como se a ONU fosse neutra, como se sua política não fosse preponderantemente imperialista e incapaz de violar os acordos estabelecidos com a então URSS revolucionária (1917 – 1956), prevalece a suja versão de que o Estado de Israel surge, em 14 de maio de 1948, de um passe de mágica (e da boa vontade dos mandatários imperialistas). Finalmente, o monopólio mundial da imprensa trabalha para que todos acreditem que hoje — nos dias em que o fascismo no mundo se ergue pela última vez — defender os árabes significa atacar os judeus.

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1. Em preto: fazendas,colônias e pequenas propriedades judias na Palestina, antes de 1947.
2. Em preto: área proposta pelo bando imperialista na ONU para a construção do Estado de Israel e, em branco, a área destinada ao Estado Palestino.
3. Em preto: áreas invadidas por Israel de 67 a 83, que incluía parte do Egito.
4. Em preto: área atualmente ocupada por Israel.

A questão foi e continua sendo: que judeus e que árabes os povos oprimidos defendem.

Até 1947, a Palestina era um país agrário. Aproximadamente 67% da população, quase 2 milhões, eram divididos entre 1.143 mil árabes e 600 mil judeus. A superfície da terra cultivável era de 8 mil quilômetros quadrados, para uma extensão total de 26 mil quilômetros quadrados.

Todavia, 45% dessas terras estavam concentradas nas mãos dos senhores feudais árabes. Mais de 25% pertenciam aos fundos de colonização judaicos, que os cediam por arrendamento a longo prazo aos colonos individuais e às cooperativas judaicas. Uma outra parte era controlada pelas grandes cooperativas judaicas e pela comunidade religiosa muçulmana dos Vecufs.

Mas não eram judeus e árabes convivendo, simplesmente, como se não houvesse classes e luta de classes na Palestina. Havia uma burguesia judia e uma classe latifundiária árabe. Havia camponeses (pobres, médios) e proletários, entre judeus e árabes.

Os camponeses árabes dispunham apenas de pequenos pedaços de terra, mediante arrendamento aos grandes proprietários árabes, em regime de servidão. Outros camponeses árabes sem terra (nem mesmo arrendadas) viviam sob as botas da burguesia judaica nas suas plantações.

Por muitos anos, os fundos de colonização judaica foram obtidos por compra, mediante campanha na Europa e, sobretudo, no USA, que rendeu 13 milhões de libras esterlinas (até 1948), em 24 anos de existência da Agência Judaica Mundial, sediada em Londres e financiada pelos magnatas judeus do mundo inteiro com o propósito de adquirir terras para estabelecer fazendas coletivas capitalistas. O mais importante fundo de colonização judaica era o Kerem Hassoyed, órgão financeiro da Agência Judaica. Dezenas de milhares de proprietários árabes perderam suas terras devido a intervenção dessas associações judaicas de colonização, ligadas ao Banco Rothschild, de Londres, como a outros bancos internacionais.

Claro, as plantações judaicas já eram munidas de equipamentos técnicos modernos. As demais terras, em mãos dos latifundiários árabes, contavam com os métodos mais primitivos. Desde 1909 os judeus progrediam com os seus kibutz, essa forma agrícola de produção coletiva.

Em 1917, os ingleses, uma vez existindo o Mandato Britânico, se articulavam buscando criar bases sociais contra-revolucionárias de conflito permanente para se opor ao desenvolvimento dos movimentos de libertação nacional árabe. Finalmente, lançaram a Declaracão Balfour. Esse documento simplório, de duas cláusulas, atendia às reivindicações sionistas de maneira vaga, prometendo a criação de um Lar Nacional Judeu na Palestina que, todavia, não significava Estado.

A indústria era sustentada por capitais ianques e ingleses. As empresas médias pertenciam aos judeus, com grande impulso para os últimos anos de emigração de operários também judeus.

Troca de patrões

Durante a Primeira Guerra, a Inglaterra ocupa a Palestina com a expulsão do império Otomano. Mais tarde, a Inglaterra, para seguir administrando a Palestina, trata de receber um mandato da Liga das Nações, organização criada ao final da Primeira Guerra.

Sob o mandato da Inglaterra, de 1919 a 1939, o crescimento demográfico de judeus foi o seguinte: para uma população total de 648 mil habitantes, existiam 65 mil judeus ao iniciar-se esse período. Em 1939, havia 446 mil judeus, numa população total de 1.502 mil habitantes. Em 1946, 600 mil judeus viviam na Palestina de 1.800 mil habitantes.

Em 20 anos, 575 milhões de dólares foram investidos na Palestina, quando ¾ desse montante ficaram em mãos da burguesia judaica. Uma parte, na compra de terras férteis, outra, no comércio e na indústria.

A prosperidade judaica (agricultura, indústria, comércio) era acompanhada pela pobreza crescente do povo trabalhador árabe e de suas terras, situação instigada ainda pela Inglaterra, em conluio com a burguesia judaica e os latifundiários árabes.

Parte maior do comércio exterior, em 1948, passou para as mãos do capital financeiro do USA, em associação com outras potências imperialistas e burguesias submissas dos países árabes, além do capital financeiro judeu ligado ao capital inglês.

Em 1939 a Inglaterra encorajava as aspirações sionistas. O sionismo havia surgido no final do século, como uma das correntes que iriam servir ao imperialismo, invocando o racismo e o “excepcionalismo”. O imperialismo inglês lançou uma traiçoeira campanha de aproximação dos senhores feudais para provocar o acirramento das contradições entre judeus e árabes, aplicando uma política colonial imperialista, onde as despesas com a polícia se constituíam na maior parte do orçamento na região: 18 milhões de dólares contra 2 milhões para a saúde pública e o ensino.

Grandes levantes antiimperialistas marcaram o período: 1920-21; 1929-33; 1936-38, onde participaram árabes e a imensa massa de judeus.

Às vésperas da Segunda Guerra, a Inglaterra, temendo a presença da Itália fascista ali, firmou um pacto com o Egito. Em 1939 se comprometeu a atender reivindicações da maioria árabe que, desde 1937, exigia a autonomia e o fim das formas adotadas para a venda de terras aos judeus emigrantes utilização de áreas férteis em propriedades da população árabe majoritária que passavam para o controle judeu com participação de fundos internacionais.

Dividir e colonizar

Uma comissão britânica, dirigida pelo Lord Pill recomendou a divisão da Palestina em três partes: Estado Judeu, Estado Árabe e controle inglês. O Livro Branco, publicado pela Inglaterra em 1939, foi repudiado pelos dois lados na Palestina, inclusive os judeus consideraram uma traição dos ingleses à promessa de criação do Lar Nacional Judaico.

Com a chegada da guerra, a Inglaterra limitou a emigração judaica, com novas regras publicadas na Palestina a 28 de fevereiro de 1940. Estabeleceu três áreas. Na primeira, proibia a venda de terras aos judeus pelos árabes; na segunda, venda limitada; na terceira, livre povoamento. Esta última zona representava apenas 5% do país.

A partir da tragédia judaica na Alemanha, aconteceu o ingresso clandestino na Palestina e a parte judaica aceitou o Livro Branco. Também ingressaram de 20 mil a 30 mil judeus nos destacamentos armados ingleses.

Na medida em que diminuía o perigo nazista, a maioria judaica travou a luta contra a administração britânica e contra a Agência Judaica colaboracionista da Inglaterra. Em 1942, a maioria dos judeus havia aderido ao programa de Biltmore, sionista: imigração ilimitada; venda ilimitada de terras e criação de um Estado judaico como objetivo final.

Em 1944, a Inglaterra adota o programa de imigração ilimitada dos judeus, com apoio do USA, ao mesmo tempo em que, visível a aproximação da vitória aliada, os árabes exigiam a independência da Palestina. Como as tendências reacionárias ultranacionalistas, pan-islamistas e pan-arábicas predominavam entre as classes exploradoras árabes que faziam passar seus interesses pelos de toda a nação, fundamento maior do nacionalismo burguês da fase imperialista , a Inglaterra apoiou justamente tais posições.

Foi nessas circunstâncias que a Inglaterra fundou a Liga Árabe emanação das classes exploradoras dos diferentes Estados árabes, que rápido proclamou a Palestina exclusivamente árabe e proibiu a imigração dos judeus , uma manobra para garantir sua influência em todo o Oriente Próximo, salvaguardando interesses externos dessas classes nos planos econômico, social, cultural. Em seguida, trouxe árabes da África do Norte e boicotou mercadorias dos judeus.

Em 1945, um congresso sionista exigiu a criação de um Estado judaico na Palestina, além de imigração ilimitada, concessão de empréstimo internacional para auxiliar a transferência do primeiro milhão de judeus, auxílio internacional para organização do transporte de imigrantes, etc. Era o momento de todos abandonarem o Livro Branco.

O governo inglês respondeu enviando tropas à Palestina, resultando em inúmeros atos terroristas, promovidas pela Haganah uma organização secreta que, mais tarde, se transformou no exército de Israel e reprimidas por 80 mil ingleses armados.

Origem terrorista

Criou-se inicialmente o Haganah (autodefesa), uma organização paramilitar para garantir a segurança dos colonos, tolerada pelos ingleses, e o Stern, um grupo terrorista, espécie de exército clandestino, (mais tarde, em 1942, formou-se a Irgun, uma dissidência do Haganah). O Haganah preferiu a luta terrorista e mais sanguinária, promovendo ataques como o do grande hotel O Rei David, que hospedava o estado maior das tropas inglesas. A polícia inglesa cometeu também não poucas atrocidades contra os judeus.

Em resposta, a Inglaterra propôs formar uma comissão anglo-americana que, no seu relatório de 30 de abril de 1946 considerava o “anti-semitismo uma herança fascista” e autorizava a imediata imigração de 100 mil judeus, assegurando a autonomia dessa população para a Palestina. Mas, tanto a burguesia ianque quantos a inglesa jamais combateram o anti-semitismo.

A comissão prolongava o mandato inglês na Palestina, até o estabelecimento da tutela pela ONU. À medida que não apoiava a criação de um Estado árabe-judeu, ou dois Estados, prejudicava judeus e árabes, estimulando o terrorismo sionista.

Data de novembro de 1947 a proposta da partilha da região pelo Conselho de Segurança da ONU. Em maio de 1948, a Inglaterra abre mão do Mandato. No mesmo mês é proclamada a criação do Estado de Israel e, horas depois, Israel inicia a guerra, concluída em 1949, depois de ocupar 80% do território onde seria o Estado Palestino. Mais cinco guerras se sucederiam, provocadas pelo imperialismo e tendo como ponta de lança o Estado de Israel.

Linha revolucionária

A URSS, ainda revolucionária, próximo à criação do Estado de Israel pela ONU, propunha a formação de um estado único árabe-judaico, democrático e binacional, ou seja, com iguais direitos.

No entanto, as contradições entre árabes e judeus, instigadas pelo imperialismo, tornaram-se ainda mais acirradas e, às vésperas da votação na ONU, particularmente incontroláveis. O imperialismo forçou a repentina votação da pauta da criação do Estado, sem qualquer consulta aos árabes e judeus semitas (tumultuando inclusive definições territoriais) e a URSS se viu obrigada a defender a criação de dois Estados independentes, porém democráticos, reconhecendo as raízes históricas de judeus e árabes na Palestina, nesses termos.

O Estado da Palestina se transformou numa promessa jamais cumprida pelo bloco imperialista, tal como o caráter democrático do Estado de Israel.

Portanto, a questão da Palestina, nunca se reduziu às contradições entre judeus e árabes, como faz crer o imperialismo para ocultar seu papel instigante de antagonismos, visando manter trânsito livre (para o USA, enquanto impõe barreiras aos povos) numa área tão estratégica, de onde saca continuamente tesouros inesgotáveis.

Assim, à política expansionista de Israel sionista, ponta de lança do imperialismo, notadamente do imperialismo ianque, deve-se responder com a criação do Estado democrático palestino, imediatamente, livre do pan-arabismo, do pan-islamismo e de todas as correntes da falsa autonomia.

Declaração da então Primeiro-ministro de Israel, Golda Meir para o Times de 06/06/69 e de 15/ 06/ 69:

”Não existe coisa chamada palestinos. Eles não existem”, ou

“Devemos perguntar a nós mesmos: Que tipo de Israel queremos? Eu disse: Israel judaico, sem nenhuma interrogação, nem dúvida. Israel judaico, sem o medo diário onde a minoria agora constitui 50%, ou não”.

Declaração de David Hacoheu, presidente da comissão de relações exteriores do Parlamento Israelense à Câmara dos Comuns em 18/10/ 73:

“Mas eles não são seres humanos, não são gente, todos eles são árabes”.

Fonte: Pesquisa de Geralda Braga, professora de História e pós-graduada em Política Internacional pela [email protected]

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