Saddam Hussein está à altura do momento histórico do Iraque*

Saddam Hussein está à altura do momento histórico do Iraque*

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No tribunal instituído para julgá-lo, Saddam Hussein contesta a autoridade de seus algozes

Em 19 de outubro foi realizada a primeira sessão do Tribunal Especial do Iraque, instituído para julgar Saddam Hussein, que se encontra preso há dois anos. Qualificado como o "julgamento do século", foi um revés para as forças invasoras do Iraque e as espúrias autoridades desse país. Saddam se manteve firme e sua conduta esteve à altura da heroicidade deste povo que luta valorosamente para expulsar os invasores.

Desde o início não reconheceu a autoridade legal do tribunal imposto pelos ianques, que, como se sabe, atua sob a tutela dos agressores. Segundo a imprensa européia, que seguiu de perto este processo, Saddam foi enfático, e ao invés de intimidar-se diante do julgamento teatral e as ameaças do tribunal inquisidor, respondeu com firmeza: "Quem são vocês? Eu não lhes reconheço nenhuma autoridade porque todo esse tribunal é ilegal" (Le Soir, quinta-feira, 20 de outubro).

Desde o aspecto da moral e do valor dos povos que lutam por uma causa justa, como é o caso do Iraque, a atitude de Saddam Hussein correspondeu à conduta épica desse povo, que com valor sem limites, combate os invasores ianques e a administração sátrapa desse país. O comportamento político de Saddam Hussein não deixa de ser um exemplo na luta de caráter nacional e antiimperialista, e este fato entrega um enorme benefício político aos povos que lutam contra a agressão imperialista e constitui um caminho moral na luta atual contra a invasão ianque.

O irônico nesse caso, é que Saddam Hussein, sendo um político de natureza burguesa (representante de uma das frações da burguesia e de seu apego ideológico ao Corão), tem mais firmeza e uma moral mais elevada que muitos dirigentes e chefes que se chamam pomposamente revolucionários, antiimperialistas e marxista-leninistas, e até maoístas, que se passaram ao campo dos inimigos dos oprimidos.

Que diferença com esses "chefes revolucionários", que apenas caíram nas mãos da polícia ou do exército, se venderam por um prato de lentilhas. Exemplo negativo dessa situação é o Peru, onde Victor Polay Campos, o "chefe histórico" do Movimento Revolucionário Túpac Amaru, que a partir da sua prisão não se cansa de chamar à colaboração com o Estado e a democracia burguesa.

A imprensa da Europa, com bastante inclinação para sustentar a aventura militarista dos ianques, se viu obrigada a reconhecer que Saddam Hussein se manteve "extremamente combativo". Segundo um jornal belga, Saddam apareceu "envelhecido, magro, cansado, desmoralizado… mas como sempre extremamente combativo…. Saddam Hussein, na quarta-feira passada, desafiou o presidente que o interrogava, rechaçou obedecer-lhe e tentou provar que ainda era o presidente do Iraque" (La Libre Belgique, 20 de outubro de 2005).

Com efeito, de qualquer ponto de vista jurídico e das leis internacionais, o tribunal que julga Saddam não é legítimo e sua ilegalidade está ligada ao fato de ter sido instituído por forças militares invasoras. O Iraque, como país soberano, atravessa uma situação de exceção (com leis promulgadas pelos invasores, tribunais ilegais, etc), e, portanto, qualquer ação de caráter penal ou civil administrada pelas autoridades atuais são nulas e o povo não tem porque levá-las em conta. Se no Iraque se impôs um governo sustentado por estrangeiros, qualquer ação deste governo é diretamente espúria e à margem da lei.

Esta primeira apresentação pública de Saddam Hussein, enjaulado como um fera em meio de extremas medidas militares de segurança, tem um alto significado não só para o povo do Iraque, como também para todas as forças antiimperialistas do mundo. Não ajoelhar-se diante do inimigo, visto no conjunto da luta de libertação desse país é, por si só, uma batalha ganha contra o invasor.

A guerra contra o imperialismo, que o povo do Iraque carrega nas costas, não se definirá somente no campo militar, mas também no terreno da moral, da ética e no desenvolvimento de consciência social que cresce com o impacto das ações armadas da resistência. E aqui reside o valor e o comportamento político de Saddam Hussein em rechaçar e negar a legalidade de um julgamento montado e ativado como um instrumento da guerra psicológica e da estratégia de dominação imperialista. Se Saddam segue nessa posição de firmeza moral e se mantém à margem de qualquer tipo de negociação que o leve à capitulação ao inimigo, seu papel nesta guerra cobrará uma maior dimensão e pode ser o de um antiimperialista consequente.


* Trechos do artigo de mesmo título, publicado em El Diario Internacional
** Luis Arce Borja é diretor de El Diario Internacional, editado em Bruxelas, Bélgica, um dos mais valorosos órgãos da imprensa de novo tipo. www.eldiariointernacional.com
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