Sair da “crise”

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Sair da “crise”

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O jornal Valor publicou, em setembro, artigos de dez “renomados” economistas sobre a “crise” mundial e seus desdobramentos. Na realidade, trata-se de depressão econômica, caracterizada por queda, desde 2008, de emprego, produção, consumo e investimentos, em quase todos os países “desenvolvidos”.

2 Pior que esconder a depressão nas estatísticas oficiais é não apontar-lhe a causa essencial: a concentração dos meios de produção e das finanças sob o comando de um grupo de pessoas contáveis nos dedos, coadjuvadas por executivos cujo total não passa de 0,001% da população (mil vezes menos que o falado 1%).

3 A concentração determina as causas imediatas do colapso e da depressão:

a) desregulamentação (falta de controles públicos e supressão dos que havia) dos mercados financeiros, deixados ao bel prazer dos alavancadores dos títulos podres, como derivativos de 600 trilhões de dólares (nessa moeda e em euros);

b) os bancos e financeiras, manipuladores e aproveitadores da criação de títulos, não arcarem com os ônus dos estragos que produziram, postos nos ombros dos Estados, que viraram devedores de créditos de que não se beneficiaram.

4 Ainda mais importante que entender as causas é atentar para o fato de a depressão continuar, porque isso interessa à oligarquia financeira, detentora do real governo nas “democracias” ocidentais.

5 De fato, a depressão serve para tornar ainda maior a concentração do capital, e mais absoluto o poder oligárquico. Serve como? Enfraquecendo ainda mais os Estados nacionais, dos quais a oligarquia se havia apoderado.

6 Com o Estado subordinado aos oligarcas, quem irá conter os abusos tirânicos e quem propiciará algum espaço à verdadeira economia de mercado, capaz de viabilizar o desenvolvimento tecnológico através da competição e da demanda em economias livres da concentração?

7 Depois do colapso financeiro originado nos derivativos, em vez de se liquidarem os bancos metidos neles – como de direito, se as sociedades tivessem governos a seu serviço – os colossais prejuízos decorrentes da especulação foram transferidos para os Estados, que passaram a ser os grandes endividados.

8 A partir das dívidas públicas assim engendradas, as políticas sob o comando dos bancos levam à falsa austeridade e às privatizações favorecedoras dos carteis dos oligarcas. Através delas desaparecem não só estatais, mas também grande massa de empresas médias e pequenas.

9 No setor “privado” reinam os grandes bancos e os carteis transnacionais, cada vez mais abrangentes. Fecham-se as portas do capitalismo a ingressantes da classe média-alta. A oligarquia consolida seu status de tirania.

10 Diferentemente do que muitos dizem, a crise econômica atual não provém somente do liberalismo, mas, sim, de o mundo estar dirigido e regulado pelos concentradores. Só os oligarcas ficam livres da regulamentação.

11 A depressão nos EUA, Europa e Japão leva à queda das exportações da China, a qual pretende acelerar a expansão do mercado interno e reduzir o ritmo de crescimento dos investimentos em favor da elevação do consumo.

12 Assim, a função de locomotiva do dinamismo mundial, desempenhada ultimamente pela China, não deverá prosseguir na mesma intensidade, prevendo-se queda nas importações de minérios e, portanto, das exportações do Brasil e da Austrália.

13 Em conclusão, nada se vê no horizonte, capaz de interromper o presente círculo vicioso, na maioria dos países, de deterioração das condições sociais e da infra-estrutura econômica.

14 EUA e Europa prosseguem emitindo moeda para comprar títulos podres, o que reduz quedas no valor dos ativos financeiros e das commodities. Mas isso só adia nova recaída, enquanto avilta, ainda mais, o dólar e o euro, moedas que não mais deveriam ser aceitas como divisas internacionais.

15 Muitos recordam que a grande depressão mundial dos anos 30 somente acabou devido ao choque de procura da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942/43.

16 Mas então, só nos EUA, foram mobilizadas 14 milhões de pessoas, e agora, os conflitos armados não geram mais tantos empregos, nem mesmo nas indústrias de armamentos e nas básicas. Só matam aos milhões, com armas intensivas de tecnologia.

17 As agressões a diversos países desde 2001, as quais contribuíram para elevadíssimos déficits orçamentários, visam elevar os lucros da indústria bélica, um dos grandes feudos da oligarquia, ademais dos objetivos imperiais.

18 A guerra em grande escala seria muito mais dispendiosa e tornou-se menos provável, porque surge uma superpotência, a China, além de ocorrer alguma recuperação do poder bélico da Rússia, ex-superpotência que propiciou o equilíbrio desaparecido no final dos anos 80.

19 Por fim, não há necessidade de novas guerras monstruosas, além de inúteis para sair da “crise”. A saída não é difícil, se se puser cobro à tirania política da oligarquia financeira.

20 Bastaria os Estados assumirem o controle de seus Tesouros e dos bancos centrais,extinguirem o grosso das dívidas que inviabilizam a sanidade das economias e promoverem investimentos produtivos estatais e privados no âmbito de uma economia descartelizada.

21 Fora disso, isto é, sem transformação das relações de poder, o cenário é mais depressão, e a dificuldade para essa transformação decorre da deterioração, em todos os aspectos, da vida dos povos subjugados pelo império.

22 Com efeito, a tirania conta, para afastar a revolução, com os frutos de investimentos, desde há um século, nas indústrias da comunicação social e do entretenimento e nos sistemas de “educação”, para destruir valores e culturas e embotar o discernimento, tudo isso potencializado por mais tecnologias.

23 A destruição das Torres Gêmeas em Nova York e o ataque ao Pentágono, realizados pelo Estado policial, há onze anos, são exemplos notáveis da produção de terror para justificar agressões imperiais e reforçar leis repressoras totalitárias.

24 É em cima dessas realidades, desconhecidas da maioria, que se monta nos EUA o mega-espetáculo das eleições presidenciais.

25 A eleição para presidente da maior superpotência mundial deveria ser evento de capital importância, merecedor da cobertura que tem, se houvesse real opção para os eleitores.

26 Trata-se, porém, de algo irrelevante, já que, como de hábito, os candidatos dos dois partidos estão igualmente vinculados à oligarquia concentradora, sediada em Wall Street, Londres e outras praças-chave da finança mundial.

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* – Adriano Benayon é doutor em economia e autor de Globalização versus Desenvolvimento.

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