Samba e choro à beira do mar

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Samba e choro à beira do mar

Em volta do monumento de Frederic Chopin, na Praia Vermelha, no Rio, sambistas e chorões se reúnem, três vezes por semana, para formar uma grande roda de autêntica música popular. Com repertório de primeira, incluindo grandes nomes e autores de obras-primas que não tiveram repercussão, o Movimento Artístico da Praia Vermelha tem por objetivo manter viva a cultura brasileira, em um ambiente interativo, de roteiro imprevisível que inclui muitas canjas.

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O público assiste sambistas e chorões na Praia Vermelha três vezes por semana

— Começou com um encontro informal de músicos moradores nos arredores da Praia Vermelha. Nos reuníamos toda as segundas-feiras, dia de folga do pessoal, para trocar ideias, passar uma harmonia nova e ensaiar na areia. Com o tempo isso tornou-se encontro constante e começou atrair pessoas, que foram se encostando por ali — conta o violonista, pesquisador de música brasileira e líder das rodas, Jaílton Mangabeira.

Por conta desse interesse, os músicos se organizaram para transformar o encontro em evento com dia e hora marcados.

— A coisa foi tomando corpo. Passamos da areia para o calçadão, colocando Chopin na roda (risos). As cadeiras ficaram propositalmente em volta do monumento, porque grandes nomes da nossa música, como Villa-Lobos e Ernesto Nazareth, foram influenciados por ele — explica.

Os encontros começaram a acontecer oficialmente com três músicos fixos, e em dois meses o número subiu para trinta.

— São profissionais que amam a música popular brasileira e se juntam para tocá-la, curti-la e preservá-la. O povo foi chegando ainda mais e hoje, 12 anos depois, recebemos cerca de 400 pessoas no verão, e uma média de 80 no inverno. As idades variam de 2 a 90 anos, numa grande mistura de gerações. E tanto o povo quanto os músicos vieram através do boca a boca, sem nenhuma divulgação na época — constata feliz.

— Tocamos um repertório de musica brasileira, talentos da nossa cultura, conhecidos ou não. Para isso, pesquisamos autores que não tiveram repercussão ou que já foram esquecidos, para darmos continuidade a sua obra. Porque entendemos que preservar a nossa cultura se dá através disso, desenterrando a obra para que continue viva. Além de tocar e cantar, também esclarecemos para o povo quem foi o tal autor, quando viveu, sua linha, e tudo mais — acrescenta.

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— Com o tempo, ganhamos mais dois dias. Assim: segunda-feira tocamos samba e choro; quarta-feira é dia de samba de raiz, que temos como base, e um pouco de música romântica, samba canção. Na sexta-feira fazemos uma mesclagem disso tudo, e incluímos o forró, o frevo e tudo mais que surgir — continua.

Aberto para canjas

O ambiente é bem interativo, e sempre tem canjas de artistas visitantes.

— O povo canta, dança, leva uns chocalhinhos (risos). Nas rodas têm: violões de 6 e 7 cordas, cavaquinho, tantã, tambor de mão, pandeiro, reco-reco, chocalho, afoxé, e os tais chocalhinhos de populares. Não é nada programado. Temos o grupo base, mas é imprevisível o que acontecerá a partir disso. De repente, por exemplo, aparece o Dicró, a Martinália, o Jorginho do Império ou o Noca da Portela, e tudo acontece — expõe alegremente.

— Pode aparecer também alguém de fora do Rio trazendo uma música diferente, e abrimos espaço para ele. Pessoas que estudam teatro também podem apresentar seus monólogos. A dança entra no meio, inclusive a Academia Jaime Arôxa vira e mexe aparece por lá. Chorões da Escola Portátil de Choro já deram suas canjas — fala, acrescentando que as rodas são frequentadas também pelos alunos da escola, assim como universitários da UFRJ e Uni-Rio, que ficam próximas ao local.

— Certa vez, chegamos até a formar um coral aqui na praia. Eram donas de casa e aposentados que nunca cantaram na vida. Fizemos um trabalho músico-terapêutico com essas pessoas e que teve uma função muito importante. Entre outros, alguns que tinham problema de insônia melhoraram — explica que o coral não continuou suas atividades por falta de recursos financeiros.

Pela resposta das pessoas e a intenção de levar a música brasileira mais longe, além de proporcionar novos espaços para o pessoal da roda tocar, o Movimento passou a se reunir também em outros lugares, para tocar ou fazer oficinas de música.

— Gostamos de interagir com escolas, universidades, clubes, escolas de sambas, comunidades e outros, e ver jovens ingressando e crescendo na música. Também fazemos parcerias com hotéis do Rio, levando nossos músicos para tocar lá. Neste caso, para garantir alguma remuneração para esses profissionais. Porque a música instrumental perdeu muito espaço nos últimos anos, embora tenhamos os melhores instrumentistas e o maior acervo musical do mundo — declara Jaílton, que é presidente do Movimento. 

— Temos tantos músicos bons aqui que conseguimos rapidamente formar um grupo de base para gravar com qualquer artista. É um celeiro de bambas, porém não incentivado e com poucas perspectivas de trabalho. Basta dizer que temos mais de trinta mil inscrições na Ordem dos Músicos aqui no Rio, enquanto que trabalhando, menos de cinco mil. O resto está fazendo outra coisa para sobreviver — finaliza.

Os músicos do Movimento Cultural da Praia Vermelha também fazem shows normais em teatros, como o Brasil de A a Z, onde apresentam, por ordem alfabética, clássicos de grandes autores de muitos gêneros da música brasileira.

Quem desejar participar das rodas como músico oficial ou dos projetos do Movimento, ou contratá-lo para apresentações, deve escrever para: [email protected]

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