Samba galante

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Samba galante

Carioca, apaixonado por samba, Tuninho Galante não se cansa de lutar pelo gênero e seus muitos talentos anônimos, que participam das rodas quando não estão lavando carros, trabalhando em construções, entre outros. Criado na Baixada Fluminense, Tuninho conhece bem essa realidade e acabou se tornando produtor de discos para gravar os companheiros. Atualmente, enveredando também pelo cinema, se prepara para lançar um filme sobre partido alto. 

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Tuninho Galante: “o Bip-Bip não é um simples bar,
é uma tribuna”

— Nasci na Tijuca e mudei com oito anos para Nova Iguaçu, na baixada, onde tive meus primeiros contatos com a música. A criança da periferia normalmente só tem acesso ao que toca no rádio e televisão. Eu não era diferente, mas já começava a me envolver com a rapaziada do samba. Por volta dos 14 anos comecei a compor, só na voz, sem instrumentos — conta Tuninho.

— Cerca de um ano depois ganhei um violão quebrado de um amigo. Remendei o buraco com um pedaço de lata de óleo e comecei a aprender a tocar. A partir daí a música tomou conta da minha vida. Comecei cursar cinema, porque naquela época não tinha música popular na universidade, mas larguei tudo para me apresentar nas noites, e fazer as minhas composições — acrescenta.

— Passei a tocar e produzir discos para artistas importantes, entre eles: Beth Carvalho, João Nogueira, Baden Powell. Resolvi montar uma gravadora para trabalhar com o pessoal pouco conhecido, os amigos da minha infância, que tinham pouco ou nenhum acesso a mídia. Assim, em 1990 montei Galante Discos — continua.

Na época, Tuninho já estava bastante envolvido com o samba, o gênero que mais aprecia.

— Amo o samba, até porque é mais que uma música ou gênero: é uma forma de viver. Existe a comunidade do samba, e ela tem seus valores maravilhosos. E pensando assim lancei o vinil ‘Embaixada do Samba’. O LP tinha o Jairo Braulio, que era puxador na União de Nova Iguaçu, a Leila, que seguiu carreira de cantora, o Caboré, que é um cantor conhecido lá na Baixada, entre muitos outros — lembra.

— Meu trabalho de música sempre foi ligado ao lado social, e isso era perfeito para mim, mas, por ser uma gravadora independente, sem nenhum apoio, começou a ficar muito difícil mantê-la. Dessa forma, tive que interromper o trabalho, fechar as portas — explica Tuninho.           

— Estava desanimado e frustrado, tanto que fui trabalhar em outras áreas: publicidade, atividades ligadas ao futebol, assessoria de imprensa, enfim, foram 10 anos longe da música. Não conseguia nem olhar para o meu violão (risos). Ele ficou escondido de baixo da minha cama — revela.

Mas Tuninho percebeu que estava muito infeliz, segundo conta, se sentindo um peixe fora d’água e resolveu voltar de onde parou e continuar a luta. Assim, em 2006 abriu a  Cedro Rosa, sua nova gravadora. O nome é uma homenagem a árvore que dá sombra a janela de sua casa.

— Montei meu estúdio e comecei a produzir. E como se diz que em casa de ferreiro o espeto é de pau, sendo produtor, arranjador e músico, não tinha nenhum disco meu gravado. Agora, em parceria com Marceu Vieira, estou lançando meu primeiro CD, ‘Edição do Autor’. Somos parceiros há dez anos, com mais de 120 músicas. Normalmente faço a melodia e os arranjos e ele a letra — comenta.

Tocando e produzindo

— Temos nos apresentado no circuito da Lapa aqui no Rio, em centros culturais e muitos outros lugares que pedem e tocam a música brasileira. No momento estamos nos preparando para fazer um grande show de lançamento do disco em um teatro. Vamos fazer também um lançamento especial também no bar Bib-bip, em Copacabana — avisa. 

— O Bip não é um simples bar, é uma tribuna. Ele está ligado a nossa história de forma curiosa: O Marceu nasceu na Baixada, vivemos lá na mesma época e nunca nos encontramos; estudamos na UFF na mesma época e nunca nos encontramos lá; depois passei um tempo trabalhando com jornalismo, ele também, e nunca nos encontramos nas redações, embora tivéssemos vários amigos em comum; e acabamos sendo apresentados no Bip-bip pelo Alfredinho (risos) — brinca Tuninho.

Paralelo ao trabalho solo, Tuninho continua produzindo discos de companheiros. Entre eles, está ‘Roda de samba de partido alto’, uma raridade, segundo afirma, já que nos 110 anos de indústria fonográfica no Brasil, não chega a 20 o número de discos gravados de partido alto.

— Ele é um tipo de samba que tem batucada e improviso. O artista só mantém o refrão, o resto é tudo improvisado. Cada vez que canta, é uma música diferente. Ele lembra o trabalho dos repentistas sertanejos. Há alguns anos foi exibida uma novela de nome partido alto, juntamente com uma música, mas não correspondia ao gênero. Era um samba somente — comenta.

O disco de partido alto acabou gerando um longa-metragem, de mesmo nome, que deverá estrear no próximo ano.

— O filme tem a direção do Luiz Guimarães de Castro e já está todo rodado, somente em fase de montagem. Ele mostra quatro partideiros: o Marquinho China, o Renatinho Partideiro, o Thiago Mocotó e o Serginho Procópio, filho do Osmar do Cavaco, que participou do grupo de partido alto, o ‘Partido em cinco’, ao lado do Candeia. Mostra quem são, onde moram, o que pensam, como vivem, o cotidiano de cada um. O resto do filme é música — conta.

— A ideia não é contar a história do partido alto, e nem de uma pessoa, e sim mostrar algumas rodas que tem hoje em dia. Pegamos desde uma roda de samba de fundo de quintal até uma apresentação em teatro — acrescenta. 

— Posso dizer que estou muito feliz com essa produção. Sei que o cinema é outra área muito difícil de se sobreviver. As salas, a distribuição, tudo é muito complicado e envolve muito dinheiro, mas creio que é o caminho que tenho, e vale a pena insistir — conclui Tuninho Galante.

Os discos da Cedro Rosa são vendidos em algumas livrarias, no circuito da Lapa, nos shows de seus artistas e pela internet: tuninhogalante.blogspot.com e [email protected]

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