O monumento foi inaugurado no dia 15 de setembro
Em um belo sábado, dia 15 de setembro de 2012, foi inaugurada no bairro de Artur Alvim, zona leste de São Paulo, uma verdadeira obra prima em homenagem aos operários, entre as estações Artur Alvim e Corinthians-Itaquera do metrô. O evento foi marcado pela audácia e a criatividade de um grupo de teatro local que vem buscando popularizar a arte e fazer com que o povo a sinta em cada ato ou ação.
Desde a sua criação, o Coletivo Dolores Boca Aberta vem realizando atividades culturais em diversos seguimentos. As artes cênicas, por exemplo, são uma marca registrada do Coletivo, com personagens bastante pitorescos em suas apresentações. É o caso do candidato Armando Boas Praças. Com o número de campanha 171, ele sempre aparece em época de eleição prometendo melhorar a vida do povo. Uma forma de satirizar os partidos eleitoreiros e os políticos, que só prometem, mas nada fazem.
O Comitê de Apoio do AND de São Paulo, ao saber da homenagem, fez questão de conferir de perto, não apenas o talento, mas também a organização e a disciplina desse verdadeiro destacamento, onde todos têm suas tarefas a cumprir. Segundo um dos membros do Coletivo Dolores Boca Aberta, Luciano Carvalho, para realizar a homenagem, foi preciso muita discussão.
— A ideia não surge repentinamente como uma boa ideia. É resultado de um processo, num acúmulo em pesquisa, luta política, luta estética desse coletivo. A gente fez um ensaio sobre a ideia de construir monumentos. Uma pequena brincadeira. Começamos espalhando pela cidade pequenos bustos de bronze do Armando Boas Praças, o político oportunista. Daí, até a construção de um verdadeiro monumento, tínhamos muitos obstáculos pela frente. Tivemos que cumprir duas, três funções para sobreviver e construir o monumento ao mesmo tempo — conta.
— Inicialmente, organizamos uma ocupação com lona preta, com banheiro, cozinha, dormitório, espaços coletivos; vigilância, trabalho e obras coletivos; um canteiro de obras artístico, político, onde passamos a morar. Foram dezesseis dias morando na praça, onde divulgamos festivais de teatro, música e poesia, também em praça pública. Realizamos cerca de trinta apresentações nesse período. Nós fazíamos Lian Gong [exercícios chineses de alongamento] antes do trabalho. Nós mesmos produzimos umas cinco toneladas de concreto armado na forma de um elefante de aço. Agora estamos prontos para a inauguração, juntamente com o banda Nhocuné Soul, de Vila Nhocuné, e a Unidos da Lona Preta, a Escola de Samba dos Sem-terra — diz.
O local do monumento, entre as estações Artur Alvim e Corinthians-Itaquera, também simboliza a resistência dos trabalhadores pobres, pois é um local disputado pelo poder público, que pretende alargar a avenida Radial Leste. Segundo Luciano Carvalho, por diversas vezes a prefeitura tentou inviabilizar a construção do monumento, mas todas as investidas foram contornadas pelo Coletivo.
Outro obstáculo foi o preconceito dos moradores locais com o acampamento, que pouco tempo depois foi ganhando a confiança das pessoas. Depois de várias atividades, a população chegou a fazer doações de alimentos e outros utensílios para o Coletivo.
— Inauguramos aqui um experimento estético, teatral, que merece ser olhado com atenção. Incisivo, questionador, ousado e provocador, esse monumento mexe com as estruturas da política local. Alguns, quando viram a foice e o martelo na cara do elefante, ficaram bravos. Tanto é que nós fomos interditados duas vezes pela prefeitura e pela subprefeitura. Pela inteligência e desinteligência, isso é um choque, na burocracia obstrutora do Estado — conta.
A hora da inauguração
A homenagem estava prestes a acontecer. Aos poucos o povo chegava e o grupo Nhocuné Soul afinava seus instrumentos. Enquanto isso, os organizadores faziam os últimos ajustes no monumento. Pelas imediações, a Escola de Samba anunciava o evento para a vizinhança. Foi quando surgiu a notícia de que, por problemas estruturais, o palco não poderia ser utilizado. Acostumados ao improviso, os membros do Coletivo Dolores Boca Aberta rapidamente se organizaram e montaram o show no chão, junto ao público, idéia aplaudida pelos presentes — cerca de 400 pessoas.
Recebido sob vaias, o candidato Armando Boas Praças mostrou como age um político cara-de-pau e enganador. Em seguida, o operário da obra e serralheiro Almino José de Melo Filho, que acompanha o grupo desde o início, disse ao público que a construção do monumento foi a mais importante de sua vida. Uma jovem que acompanha o grupo há 4 anos disse que o monumento é um presente do Coletivo para a cidade de São Paulo e que cabia a todos ajudar a preservá-lo.
— A minha emoção é de ter realizado uma obra coletiva feita por trabalhadores e para os trabalhadores, de cunho político e que representa um marco para a cidade — diz outro participante do Coletivo Dolores Boca Aberta, Tiago Mini.
Após a inauguração, Luciano Costa, outro integrante do Coletivo, ficou estático diante do monumento.
— É uma emoção grande realizar uma obra desse porte, principalmente por se tratar de uma obra de resistência, onde o elefante simboliza a luta dos trabalhadores contra seus inimigos de classe: o capital, a burguesia e o clero, representados pelos três ratos sob os pés do elefante. Segundo a fábula, os elefantes têm medo de ratos, mas quando descobrem a força que têm, esmagam os ratos com as suas patas. Ou seja, quando o trabalhador descobrir a força que tem, irá esmagar seus opressores — explica.