São vilões os manifestantes?

São vilões os manifestantes?

Uma das bandas mais podres da polícia política que sustenta regimes de exploração do homem pelo homem é o monopólio da imprensa. A serviço do imperialismo, da oligarquia latifundiária e burguesia burocrática domésticas, a menor ordem, ele destila seu odiento humor e descarrega uma infinita produção de intrigas e difamações contra o povo.

Uma manifestação de trabalhadores que — pretendendo chegar ao plenário no Congresso, inclusive para defender os interesses do "presidente Luiz Inácio" — resultou em conflito foi suficiente para fazer transbordar a cólera fascista dos que insistem em monitorar a opinião pública.

Com que petulância invertem os enunciados! Recusar a receber trabalhadores na "casa do povo" está certo. O povo, que perde a paciência por não ser recebido, está errado. Então, "é vandalismo, atentado a um poder da República, à democracia", "um levante arquitetado há meses, com técnicas de guerrilha, como prova a fita de vídeo que caiu em mãos da polícia" etc., etc.

Despacharam cerca de 500 manifestantes para um ginásio de esportes. Foram autuados e levados como criminosos (virou moda!), para o presídio da Papuda, em Brasília, 40 manifestantes, enquanto 14 (virou moda também) permanecem em solitárias. Além disso, trancafiaram alguns adolescentes na terrível Febem.

Mas onde está a parte da fita que, ao menos, sugere aquela massa tramando depredar a Câmara?

Também isso a imprensa do imperialismo que opera em nosso país omite.

É certo que para os trabalhadores politizados, buscar o diálogo com quem se recusa a dialogar com o povo não é uma atitude consequente. Por isso, não se pode apoiar qualquer movimento. Até para o anti-povo, ainda que sob o pretexto de "apoiar o presidente Lula", a intimidação petista tampouco foi oportuna.

Para que uma manifestação se torne consequente é preciso que as lideranças sejam igualmente consequentes. A explosão da massa aconteceu, mas os que, de fato, instigaram a revolta — os chefes do oportunismo encastelados na desmoralizada Câmara — aprofundaram sua incompetência e desespero, apelando para a polícia. Quem, de fato, faltou com respeito devido aos manifestantes, recusando-se a atende-los até mesmo "na portaria"?

A única "prova categórica de premeditação" que aparece na fita é a da reunião em que os manifestantes organizavam, não sendo atendidos, burlar a vigilância do Congresso para protestar contra o atraso na aprovação do Orçamento da União e denunciar o decreto-lei que proíbe, por dois anos, vistoria de terra expropriada pelos camponeses. Ou seja, eles planejavam entrar no plenário da Câmara dos Deputados — cujo acesso, a rigor, é negado ao povo, um estilo confirmado no episódio do dia 6 de junho.

Qualquer assembléia legislativa nos Estados se depara com uma massa que, muitas vezes, só pretende fazer tumulto. Mas entre os deputados estaduais — do mais ingênuo ao maior vigarista político —, todos são hábeis em tratar com o povo e sempre impõem a "ordem na Casa". Os da Câmara não agem diferente apenas porque estão distantes muitos quilômetros do seu eleitorado. Dão a entender, ao chamar a polícia, que não precisam de eleitores para se manterem parlamentares.

Digam-nos — naquela hora em que se recusaram a receber os manifestantes —, o que faziam de bom os nobres deputados, incluindo o senhor Aldo Rabelo, o que ordenou a prisão — autor do recente projeto que torna obrigatória a adulteração da farinha de trigo? Salvo honrosas exceções, tratavam de "alugar" mais um pedaço da Amazônia, de aprovar outra lei anti-trabalhista durante as campanhas de matança e da Copa?

Esses senhores costumam chamar a repressão (ou como fez um honesto parlamentar: "Forças Armadas, intervenham enquanto podem!") quando os lobbies (originariamente, os que compram votos de parlamentares para aprovar "projetos") batem à porta de seus gabinetes, e até quando gritam aos seus ouvidos? Quantos lobistas, algemados, foram arrastados para fora do Congresso em todas essas legislaturas? Por que, nesses casos, os parlamentares preferem o tratamento de chancelaria, e tudo fazem para não causar mal-entendidos?

Recentemente, um editorial da Folha de S. Paulo lembrou: "Para aprovar uma cassação, são necessários os votos de 257 dos 513 deputados. Na estimativa mais otimista — segundo a qual seriam 170 os envolvidos na máfia das ambulâncias —, os criminosos estariam a apenas 87 votos de tornar-se a maioria da Casa". Bem lembrado (no caso da máfia das ambulâncias), para não falar de outros "episódios".

Lógico, quem apanhou não foram os verdadeiros responsáveis pela grande baderna em que se transformou a condução política no Brasil, os que põem os funcionários na frente de qualquer encrenca.

A propósito, é preciso ter mais cuidado ao falarem de valores nos prejuízos causados com o que chamam de quebra-quebra. Não vão cair na asneira de expor super-faturamentos. (Quanto custou mesmo cada computador quebrado, senhores? Repitam, por favor.)

Os vândalos são sempre os pequenos, porque, ano a ano, os que entregam o solo, o subsolo e o espaço aéreo às corporações mundiais, o sangue dos operários, dos camponeses e demais trabalhadores aos maiores bandidos do imperialismo, não são vândalos. Afinal, a lei dos grandes vândalos os socorrem — e desviam a conversa como se dúvidas houvessem até com relação à corrupção (mil vezes menor) dos mensalões que não dá em nada.

Por outro lado, se esses grupos que formam o monopólio da imprensa não são fascistas, se não estão preparando a "opinião pública" para tornar "natural" muitas outras agressões contra o povo, então, por que — ao menor desentendimento — distorcem a realidade, clamam por medidas tão drásticas e proferem palavras tão odiosas?

Aquela massa, a revolta se justificou, não é criminosa. Ela se insurgiu contra o crime.

Nem mesmo é criminosa a gente desori— entada pela traição de seus "líderes" — esses que congregam o cartel CIOLS: PT, CUT, MST, ONGs etc. Não é criminoso o povo oprimido nas fábricas, nos campos, nas ruas e nas favelas, lançado a mais terrível miséria, vendo seu território se transformar em propriedade das corporações estrangeiras, sendo consumidas as mais acanhadas liberdades democráticas e garantias trabalhistas, se contorcendo de dor diante do suplício da evangelização fascista.

Criminosos (grandes e irrecuperáveis!) são os que impunemente roubam o patrimônio deste país, que incendeiam seu território, que matam indiscriminadamente, os que insultam o povo provocando a sua ira.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: