Sarandeiros de arte

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Sarandeiros de arte

Com o objetivo de representar artisticamente a verdadeira cultura popular brasileira, o grupo mineiro Sarandeiros, envolve-se em pesquisas intensas que resultam em espetáculos englobando a dança, a música e o teatro. Sempre buscando uma interação e valorização dos elementos existentes nessa cultura, o grupo realiza suas coreografias, músicas, figurino e tudo mais que um espetáculo pede, e através deles, mostra um Brasil para todos os povos.

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O Sarandeiro se inspira nos movimentos dos brincantes dos Guerreiros de Al

— ‘Sarandeiros’  significa viajantes pelo mundo. Aqueles que levam a sua cultura para outros. Anteriormente o grupo se chamava Sarandeio, que significa o balanceio da saia usada pelas prendas gaúchas, e na sua fundação, em 1980, Grupo Experimental de Dança da Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais. Até hoje o grupo tem uma ligação direta com a UFMG — conta Gustavo Cortes, diretor do grupo.

Criado por duas professoras da universidade, atualmente já aposentadas, o grupo era destinado, a princípio, aos alunos de educação física.

— Participei como aluno por dois anos, me formei, saí, e depois retornei para a universidade já como professor da cadeira de dança folclórica, assumindo posteriormente a direção do grupo. Em 1997 elaboramos nosso primeiro espetáculo, O profano e o sagrado, com bastante sucesso — fala Gustavo, que é formado em educação física, com mestrado na área da educação.

— Seguimos o caminho do reconhecimento e valorização da nossa cultura popular brasileira. Essa valorização é importante para a perpetuação. É o que  fará com que as gerações vindouras tenham compreensão do que é belo, de uma estética nacional — continua.

A segunda grande montagem do grupo, Dança Brasil, foi inspirada na dissertação de mestrado de Gustavo e seu livro de mesmo nome, resultado da mesma pesquisa.

— O espetáculo faz a mesma viagem que Mário de Andrade realizou em 1928, com um reconhecimento das manifestações culturais existentes no Brasil. Passeamos pelos diversos ciclos festivos do país, começando pelo natalino e passando pelo junino e carnavalesco. Finalizamos com as danças em homenagem ao boi, que são muito importantes, principalmente no nordeste — fala.

— Apresentamos um cenário que tinha o átrio de uma igrejinha e todas as manifestações passavam na frente da tal. Usamos seis músicos e vinte e quatro bailarinos para representar cada uma delas — conta Gustavo, que também atua como professor convidado da Escola de Teatro Bolshoi, em Joinville.

Lembrando das Minas Gerais

— Depois desse espetáculo, sentimos necessidade de elaborar um outro que homenageasse o nosso estado. Partimos para uma pesquisa minuciosa por grandes festas populares mineiras, contatando assim duas vertentes muito fortes na identificação da nossa cultura folclórica: os congados e as folias de reis. Conhecemos mais de duzentas festas desse tipo pelo estado, e mais de duzentos e vinte grupos registrados, só no entorno de Belo Horizonte — comenta.

A pesquisa gerou, Gerais de Minas, em 2004, do qual Gustavo confessa ter muito carinho por falar das tradições da sua terra.

— Montamos uma casa tipicamente mineira, inspirada nas cidades históricas, com um anfitrião simbolizando um mestre ou rei das congadas, recebendo os grupos que passavam em frente, como se fosse o próprio estado de Minas Gerais. Eram grupos de folias de reis, as pastorinhas, os catireiros, as lavadeiras, os batuqueiros, e mais, todos dançando, cantando, sapateando, fazendo palmeados — expõe.

— É uma homenagem a algumas guardas: congo, catopê, filões, caboclinhos, moçambiques, marujos e caiapós, e todas as danças coreograficamente elaboradas para o espaço cênico na frente dessa casa. A principal característica do nosso trabalho é o envolvimento das artes cênicas de uma forma geral — continua.

— Em 2008 estreamos o espetáculo atual, Quebranto, que busca valorizar a cultura africana trazida para o Brasil através dos escravos e aqui desenvolvida com importância, mas, ainda com pouco destaque acadêmico e nas artes em geral. Usamos muitas cores e muito movimento para falar de reis e rainhas africanas, levando até as pessoas um espetáculo de grande beleza — fala.

Atualmente Gustavo está em Campinas realizando sua tese de doutorado, da qual nascerá o próximo espetáculo da trupe.

— Estou estudando a composição cênica inspirada nas manifestações da cultura popular brasileira, partindo de três eixos: o imaginário criativo, o corpo cênico, e o movimento estruturado. A partir desses elementos e de uma pesquisa de campo pelo Vale do São Francisco, encontrarei elementos para trabalhar coreograficamente o novo espetáculo do grupo, que deve estrear em dois anos — avisa.

— Essa região pouco explorada é muito interessante para nós. Investigarei desde Pirapora até a região de Penedo, passando de barco mesmo pelo rio São Francisco, em meio aos núcleos culturais dos quais já tenho notícia, observando as manifestações do entorno do rio, que normalmente falam sobre o próprio São Francisco. Consideramos importantíssimo o trabalho de resgate e valorização dessas manifestações — declara.

Nos últimos treze anos o Sarandeiros participou de grandes festivais no Canadá, França, Bélgica, Itália, Alemanha, Espanha, Bulgária, Peru, Colômbia, Equador, entre muitos outros. Este ano, junho/julho, estiveram presentes em importantes festivais no México.

— Contamos com quarenta dançarinos, a maioria bailarinos profissionais, que fazem parte do Sindicado dos Artistas e Técnicos em Diversão de Minas Gerais. Com esse registro somos um grupo profissional, apesar de todos viverem de outras atividades. Mas, temos uma carga de ensaios muito grande, em torno de dezesseis horas semanais — finaliza Gustavo.

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