Uirassu Assis Batista, Telma Regina Cordeiro, Orvaldo Orlando da Costa, Rosalindo de Souza, Orlando Momente, Jana Moroni, Maurício Grabois, Maria Lúcia Petit da Silva, Lúcio Petit da Silva, José Huberto Bronca, João Carlos Haas Sobrinho, Idalísio Soares Aranha Filho*
Segunda parte
"Já faz algum tempo que no dia 25 de março algumas organizações políticas, entre grandes e pequenas, apressam-se em celebrar a fundação do Partido Comunista do Brasil. Essas organizações comumente reivindicam como suas essa data histórica do proletariado e massas populares brasileiras. Pelas posições ideológico-políticas e a prática da maioria dessas organizações não há identidade alguma com o grandioso propósito dos fundadores do partido.
Tampouco há identidade com a devoção e abnegação de tantos militantes de base que honradamente se dedicaram totalmente ao partido. Também e, menos ainda, pode haver identidade com os heróicos combatentes do Levante Popular de 35, da gloriosa Guerrilha do Araguaia e de tantos outros que verteram seu sangue, no combate aberto ou dentro dos cárceres e na tortura, doando generosamente sua vida à causa proletária. Dessas organizações só há mesmo identidade com as posições oportunistas, reformistas e revisionistas que por períodos inteiros predominaram na direção do partido e com os episódios negros de traição ao proletariado e de capitulação que tiveram lugar na sua direção fazendo-o sucumbir. As posições de ditas organizações são nada mais que a versão atualizada daquelas podres concepções.
A trajetória do movimento comunista no Brasil tem sido muito difícil e tortuosa. Nela o partido cometeu muitos erros, mas também construiu uma grande experiência. Chegou mesmo a um elevado nível em sua constituição enquanto um partido marxista-leninista. Só que neste momento (a partir da Reconstrução de 1962, particularmente a partir de 1966) a situação da luta de classes e da revolução proletária mundial já se exigia ser marxista-leninista-maoísta, o que não foi devidamente compreendido. Na direção do partido, dado o dogmatismo de alguns e os duros golpes da polícia política da reação que eliminou os melhores quadros forjados pela classe, terminou por prevalecer uma posição que capitulou da linha revolucionária da guerra popular. O maoísmo foi completamente rechaçado e atacado e o partido foi liquidado como partido revolucionário do proletariado. Os revolucionários proletários, principalmente os das novas gerações, devem tirar sérias lições e empreender a luta pela reconstituição do partido, como um partido comunista marxista-leninista-maoísta no fogo da luta de classes, combatendo o imperialismo e a reação de forma inseparável do combate ao revisionismo e a todo oportunismo, para levantar a revolução brasileira a novas e grandes alturas dentro da nova onda da revolução proletária mundial que já se iniciou."
Do depoimento tomado de um militante maoísta do movimento clandestino pela reconstituição do Partido Comunista do Brasil.
Terceira Etapa
O V Congresso, em 1960, será precedido de intensa luta no interior do partido. Os revisionistas encabeçados por Prestes não toleravam a luta interna e expulsaram a maioria dos que não aceitavam os ataques covardes contra Stalin. Ainda assim a luta contra o oportunismo ganha fôlego. Pedro Pomar encabeçará, nos debates do V Congresso, o ataque às teses oportunistas do nacional-reformismo. Em 1962, os quadros que conformavam o campo revolucionário levarão à cabo a luta por depurar o partido do grupo revisionista de Prestes. Estando em minoria promovem a decidida cisão com os revisionistas, iniciando o processo de Reconstrução do partido. Este acontecimento marcará o início de uma nova e terceira etapa da história do partido, etapa das mais ricas e mais importantes do seu amadurecimento que, em teoria e prática, o PCB (agora sob a sigla de PCdoB, para se diferenciar do grupo revisionista) se constituirá de fato enquanto partido comunista marxista-leninsta.
É relevante destacar que o partido foi um dos primeiros no mundo a combater abertamente as posições traidoras de Kruchov. A carta de Maurício Grabois a Kruchov, em que ataca suas posições revisionistas e em defesa de Stalin, levou Kruchov a atacar os comunistas brasileiros, citando-os nos debates surgidos com a Carta Chinesa1 em 1963. Também, anteriormente ao V Congresso (1960), Pedro Pomar, presente no congresso do Partido Comunista da Romênia, rechaçou de forma contundente os ataques aos dirigentes do Partido do Trabalho da Albânia, ausentes àquele evento, feitos por Kruchov que os acusara de aventureirismo.
Será esta a etapa em que o partido passará a viver, pela primeira vez, a luta aberta contra o revisionismo moderno, ao se acercar do Pensamento Mao Tsetung (como se designava o maoísmo à época). Momento em que a luta entre marxismo-leninismo e o revisionismo moderno ganhará dimensão mundial. Mao, à frente dessa grande batalha, irá desmascarar o oportunismo de Kruchov como o revisionismo moderno, sistematizando-o na fórmula das "Três Pacíficas" e os "Dois Todos"2. No mesmo período o partido terá que combater também o oportunismo de "esquerda", surgido como reação ao pacifismo do grupo de Prestes (ALN de Carlos Marighella, MR8, PCBR, etc., e as de outros processos como VPR, Polop, etc.).
Hélio Luiz Navarro de Magalhães, Helenira Rezende de Souza Nazareth, Guilherme Gomes Lund, Gilberto Olímpio Maria, Elmo Corrêa, Divino Ferreira de Souza, Dinalva Oliveira Teixeira, Dinaelza Soares Santana Coqueiro, Demerval da Silva Pereira, Daniel Ribeiro, Custódio Saraiva Neto, Ciro Flávio Salasar Oliveira
A Revolução Cubana, que tanta importância e significado tivera para a luta dos povos da América Latina, terminou por causar prejuízos, devido a que a maioria de sua direção rapidamente se alinhara com o revisionismo Kruchovista. A repercussão da Revolução Cubana no movimento revolucionário brasileiro fora muito grande e consequentemente a influência de suas teses de caráter revolucionário pequeno-burguês. Concepções que desprezavam princípios e postulados marxistas fundamentais como a necessidade da direção proletária, expressa na ideologia e no partido proletário. Estes eram então substituídos por concepções de "frentes revolucionárias", "frentes de esquerda" e teorias militares que predicavam militarismo como as do tipo "foquista". O fenômeno dessa influência, além do mais, se explica pela situação de sufocamento e ardor revolucionário represado pelo reformismo, pacifismo, eleitoralismo (filhos do revisionismo) do grupo liderado por Prestes. Esta contradição aguda se rompe pelo caminho mais fácil, que despreza uma dura e tenaz luta ideológica. Assim, milhares de revolucionários brasileiros se perderam nos desvios de "esquerda", impacientes em levar uma luta ideológico-política que fosse mais ao fundo, descobrindo as raízes do mal que tanto afetava o movimento revolucionário no país e buscasse a forja na ideologia proletária.
Este será um problema grave do movimento revolucionário em que pese todo o heroísmo revelado por tantos combatentes na luta armada contra o gerenciamento militar fascista pró-ianque. O PCdoB terá que dar combate também ao oportunismo de "esquerda", revelando-o como forma de expressão do revisionismo kruchovista na América Latina (revisionismo armado)3. Contudo, o partido não conseguirá se livrar de desvios graves como o dogmatismo. A direção do PCdoB, formada por experientes quadros comunistas, embora assumisse o Pensamento Mao Tsetung, fazia-o formalmente e estancando burocraticamente a luta interna. Não compreenderá algo essencial do maoísmo, a luta de duas linhas4, como o correto método de forjar o partido. Tal incompreensão será crucial para impedir o partido de assimilar o maoísmo plenamente.
Os 30 anos que se seguirão após
a destruição do partido
(de 1978 aos dias de hoje),
serão marcados pelo obscurantismo
da prevalência do oportunismo
no movimento popular
Não irá examinar e compreender as verdadeiras origens do reformismo no partido. Seguirá sem a correta compreensão sobre a burguesia brasileira, suas frações e papel na luta de classes. Embora o PCdoB propugnasse a estratégia maoísta de cercar a cidade a partir do campo, ou seja, tomar o campesinato como força principal na primeira etapa de nossa revolução, não compreenderá que, onde mais se condensavam no país as contradições fundamentais e a principal entre elas, era a região nordeste e não a norte, onde centraria a força estratégica principal.
Ao não compreender e não praticar a luta de duas linhas, não só levou ao fracionamento o partido (PCR sob a liderança de Manoel Lisboa e Amaro Luiz de Carvalho, o Capivara, e PCdoB Ala Vermelha5), como impossibilitou o desenvolvimento da direção na correta compreensão da concepção da guerra popular. E isto foi o pano de fundo da derrota da Guerrilha do Araguaia, bem como do bloqueio de seu balanço crítico no partido e consequente capitulação e apodrecimento completo a partir da morte da maioria dos quadros revolucionários.
Importantes documentos partidários marcarão este período da terceira etapa da história do partido: Carta de 12 Pontos aos Comunistas Revolucionários, do PCR de Manoel Lisboa; Crítica à União dos Brasileiros para Derrotar a Crise, a Ditadura e o Neocolonialismo, do PCdo B-AV e Guerra Popular Prolongada, Caminho da Luta Armada no Brasil, do PCdoB. Documentos que tratam da questão teórica da revolução Brasileira, guiados pelos aportes de Mao Tsetung e ao mesmo tempo conflitantes entre si em diversas questões. Além do que há de se destacar outros de autoria de Pedro Pomar: Grandes Progressos na Revolução Cultural de 1969, acerca do desenvolvimento da Grande Revolução Cultural na China, A Gloriosa Bandeira de 35, O Partido — necessidade histórica e Sobre o Araguaia, documento sobre o balanço da experiência da guerrilha do Araguaia.
Em virtude da total incompreensão sobre a questão da luta de duas linhas pela direção do partido, a derrota da Guerrilha do Araguaia e a sabotagem da luta pelo correto balanço de tão importante experiência, somada à eliminação dos melhores quadros comunistas, completada com o episódio da Lapa6 (1976), será inevitável a capitulação. A capitulação da linha revolucionária da guerra popular encabeçada pela direção de João Amazonas levou o partido à conversão ao revisionismo e sua completa liquidação enquanto um partido marxista-leninista, transformando-o em mais uma organização oportunista sob a continuação da sigla PCdoB.
Essa linha capitulacionista, capitaneada por João Amazonas, como negação do caminho revolucionário, só pôde se estabelecer no partido após a eliminação dos principais quadros comunistas na direção, sustentadores do caminho da luta armada revolucionária. Sem quadros mais preparados para o combate aos subterfúgios revisionistas, Amazonas encontrará caminho livre para passar ao ataque aberto e declarado ao maoísmo, através de seguir a linha dogmático-revisionista de Enver Hoxha7 para disfarçar sua traição.
Com a capitulação da direção, reforçada ainda mais pela sua complementação com os quadros oriundos da APML8, o partido foi convertido em mais um partido oportunista revisionista. Transformará em ícone morto a heróica experiência revolucionária dos anos anteriores, utilizada agora apenas como "troféu" para seguir enganando a juventude em busca de militância política. Passará então a se integrar por completo à vida oficial do velho Estado brasileiro, no legalismo, eleitoralismo e cretinismo parlamentar até a mais degenerada situação que se acha nos dias de hoje como parte da velha ordem burocrática pró-imperialista, como força auxiliar do gerenciamento de turno de Luiz Inácio.
Cilon da Cunha Brun, Bergson Gurjão Farias, Áurea Eliza Pereira Valadão, Arildo Valadão, Antônio Guilherme Ribeiro Ribas, André Grabois, Antônio de Pádua Costa, Antônio Carlos Monteiro Teixeira, Amaro Luiz de Carvalho, Adriano Fonseca Filho, Valquíria Afonso da Costa, Líbero Giancarlo Castiglia
Os acontecimentos que marcarão 1976 serão mais dramáticos ainda para o movimento revolucionário em todo o mundo. Com a restauração burguesa na China, promovida pelo golpe de Estado de Teng Siao-ping, que levará ao sangrento massacre dos quadros maoístas, encerra-se todo um longo período, a primeira grande onda da revolução proletária mundial, anunciada pela publicação do Manifesto do Partido Comunista, em 1848, marcada pela Comuna de Paris de 1871 como seu "ensaio geral" e impulsionada com a Revolução Bolchevique de Outubro de 1917. No Brasil, as reviravoltas no PCdoB nos anos seguintes ao dramático episódio da Lapa, liquidando-o enquanto partido revolucionário, culminará toda uma fase riquíssima da terceira etapa da história do partido.
Os 30 anos que se seguirão após a destruição do partido (de 1978 aos dias de hoje), serão marcados pelo obscurantismo da prevalência do oportunismo no movimento popular. A ausência do partido do proletariado, em meio à ofensiva geral da contra-revolução mundial, conformou o terreno para se erigir um verdadeiro cartel do oportunismo formado pelas tendências mais nocivas ao proletariado: as correntes clericais, trotskistas, os quadros egressos do sindicalismo amarelo travestido de radical, ex-guerrilheiros arrependidos e demais renegados do marxismo-leninismo. Todos empenhados em engrossar o coro anti-stalinista da reação mundial sobre o "fim do comunismo" e "fracasso do socialismo". Este aglomerado, ao qual vieram juntar-se os revisionistas de todas as siglas, pôde, ao fim e ao cabo, alcançar o topo do aparelho do velho Estado reacionário para desempenhar o papel de seu gerente de turno. Tal situação, ao lado de grandes perigos e atrasos que representam para a luta do proletariado e de libertação do povo brasileiro, trouxe à luz a real natureza reacionária e pró-imperialista de suas posições.
A autocrítica de Prestes
Quando do seu retorno ao país, em 1979, Luiz Carlos Prestes rompeu com a organização que dirigira por quase 40 anos. Impossibilitado de mudar as posições ideológico-políticas revisionistas já tão cristalizadas naquela agremiação, num exemplar esforço autocrítico lançou sua Carta aos comunistas, num chamado a retomar o caminho revolucionário. Sem sombra de dúvida este gesto é demonstrativo de sua condição de comunista, porém o conteúdo de sua autocrítica, que politicamente dá um giro à esquerda, no ideológico revelou-se muito limitada. Manteve a mesma hostilidade à Stalin e sua direção tirada do baú do revisionismo kruschovista e sequer considerou a experiência extraordinária da Revolução Chinesa, aquele que foi o patamar mais elevado da revolução proletária mundial — a Grande Revolução Cultural Proletária — e menos ainda ao grande ideólogo e dirigente comunista Mao Tsetung.
Da mesma forma iludiu-se com a Perestróika de Gorbachov, a qual entendia ser um movimento de recuperação do socialismo quando esta, como rapidamente ficou demonstrada, não passara de mais um truque revisionista destinado a levantar uma ofensiva contra-revolucionária à escala planetária. Contudo, diferentemente de outros recalcitrantes que tanto o acusaram de revisionista e nunca foram capazes de qualquer reconhecimento do seu próprio revisionismo, Prestes com sua autocrítica, por si só, deu grande contribuição à causa proletária no Brasil. Prestes segue sendo a maior e principal personalidade do movimento popular na história do Brasil. Os revolucionários que hoje se proclamam sinceramente seguidores de Prestes devem esforçar-se por aprofundar a autocrítica lançada por ele, para compreender que o marxismo como ciência se desenvolve e que tal desenvolvimento já atingiu um terceiro estágio, o marxismo-leninismo-maoísmo e que só sob seu guia é possível reconstituir o Partido Comunista do Brasil.
Lutar pela reconstituição do partido deve ser tarefa dos revolucionários proletários
Por mais importantes que sejam as lutas econômicas dos trabalhadores, por aumentos salariais e em defesa de direitos, resultarão em fracasso se não tiverem em perspectiva a destruição de toda ordem do velho Estado burocrático. Só com a edificação de um novo poder, uma nova democracia que expresse os interesses das classes oprimidas e assentada na aliança operário-camponesa, que confisque todas as terras do latifúndio, os capitais da grande burguesia e do imperialismo se garantirá a transição ao socialismo. E isto depende da existência de um verdadeiro partido revolucionário do proletariado. É esta a lição que nos dá a história do movimento comunista no mundo e no Brasil. Na questão da existência ou não de um autêntico partido do proletariado, o partido comunista, armado de uma ideologia científica, reside o ponto crucial, do avanço ou não da revolução no país.
Como expressão do agravamento da condição semicolonial do país, o acirramento crescente e inevitável da luta popular terminará por se impor. No bojo das lutas dos camponeses pobres pela terra, contra o sistema latifundiário semifeudal, das lutas de resistência da classe operária, dos estudantes, das mulheres do povo e demais classes populares frente ao estado de miséria e obscurantismo atual em nossa sociedade, desenvolverá a revolução. Assim como cresce a resistência popular em todo o mundo, seguramente estão se forjando novos combatentes do proletariado e do povo para as novas batalhas revolucionárias em todo o país. As lutas implacáveis contra todo o oportunismo recolherão, pouco a pouco, das desilusões com o processo eleitoral farsante, a corrupção, o desemprego e a fome e todos demais flagelos que expressam a farsa de república e democracia existente, a força para levantar o movimento revolucionário e comunista no Brasil.
A tarefa do proletariado brasileiro por seu partido revolucionário segue inconclusa. Mas ela não deve ser entendida como a criação de um partido novinho em folha, tampouco a de sua "refundação", versões antidialéticas e anti-históricas que rechaçam o processo histórico como um todo. O partido comunista foi criado em 1922 e atravessou décadas de tormentosas e complexas lutas, atingiu um elevado nível de sua constituição, porém foi liquidado enquanto partido revolucionário. A questão que se coloca para os verdadeiros revolucionários proletários, que não se quebraram nem se venderam frente à ofensiva geral da contra-revolução mundial, é a tarefa de reconstituí-lo. Reconstituí-lo como partido comunista marxista-leninista-maoísta.
*As fotos que ilustram essa matéria são dos heróicos guerrilheiros do Araguaya
1. Carta Chinesa — Como ficou conhecida a Proposições acerca da linha geral do movimento comunista internacional emitida em 14 de junho de 1963, pelo Partido Comunista da China em defesa do marxismo-leninismo e de combate as teses do revisionismo moderno de Kruchov. Em sua carta de 14 de julho de 1963, de resposta à Carta Chinesa, o CC do PCUS chama Grabois de "grupo antipartido".
2. Três Pacíficas e Dois Todos — Em sua essência as teses revisionistas de Kruchov advogava a "Coexistência pacífica" não como Lenin a definira nos primeiros dias do Poder Soviético como relações somente entre países de regime social diferentes, mas para regular todas as relações entre classes antagônicas e entre os países dominados e o imperialismo; a "Transição pacífica" com que revisava o conceito marxista de violência revolucionária, afirmando não ser mais possível realizar as transformações sociais pela via revolucionária, dado a existência da bomba atômica e o perigo duma guerra termonuclear, e mais, que a via parlamentar passara a ser o caminho para se chegar ao socialismo; a "Emulação pacífica" com que completava sua revisão do marxismo-leninismo sobre a luta de classes, propugnando que a competição pacífica do desenvolvimento econômico e social entre socialismo e capitalismo levaria aos homens de forma geral a compreensão sobre a superioridade do socialismo e consequente definição por ele.
Com os "Dois todos", "Estado de todo o povo" e "Partido de todo o povo" destituía do caráter de classe proletário o Estado Socialista e o Partido Comunista. Revisava a concepção marxista-leninista sobre o Estado, segundo a qual este é fenômeno da sociedade de classes, sendo nada mais que "o instrumento especial de repressão" da classe dominante. Segundo o novo revisionismo de Kruchov o Estado no socialismo, a Ditadura do Proletariado, perdera a razão de ser e passara a ser Estado de "todo o povo", pois no socialismo não existiriam mais classes sociais. Consequentemente, para esta concepção, derivava que nos países capitalistas a democracia burguesa em sua forma parlamentar deixaria de ser a Ditadura da Burguesia, passando à condição de Estado de todo o povo, devendo ser disputado e ocupado pacificamente pelo proletariado. Quanto ao Partido Comunista este de partido revolucionário do proletariado deixara de ter caráter de classe proletária e se tornara o partido de "todo o povo".
3. Essa crítica ao oportunismo de "esquerda" está exposta nos documentos do PCdoB A Linha Revolucionária do PCdoB.
4. Luta de duas linhas — Concepção desenvolvida por Mao Tsetung como método para conduzir a luta interna no partido comunista. Parte da concepção materialista dialética de que tudo é contradição, sendo assim o partido é uma unidade de contrários, uma contradição. Afirma que no interior do partido se refletem as contradições de classes da sociedade, as contradições entre o velho e o novo, entre o certo e o errado. Assim, os comunistas reconhecendo o partido como uma contradição devem organizar a luta de duas linhas para forjar e defender a linha proletária contra as linhas burguesas e outras não proletárias. Mao chama atenção ainda para a necessidade de se saber manejar corretamente a luta de duas linhas para o êxito do partido. Enfatiza que a luta é para alcançar a unidade num patamar cada vez mais elevado. No balanço geral do processo da Revolução Chinesa Mao fala sobre as Dez grandes lutas de duas linhas e seu papel fundamental na construção do partido. Durante a Grande Revolução Cultural Proletária enfatizou-se na luta interna do partido e na sociedade o lema: "crítica-luta-transformação" que expressava o processo de unidade-luta-transformação-nova unidade.
5. PCdoB Ala Vermelha — Partido surgido das divergências de inúmeros militantes do PCdoB com as posições do comitê central e sua tese para a 6ª Conferência. Por influência da Grande Revolução Cultural Proletária lançaram o documento "Crítica ao União dos brasileiros para livrar o país da crise, derrotar a ditadura e o neocolonialismo" criticando duramente o que apontavam por desvios oportunistas na tese central da conferência. Este é um importante documento do movimento comunista brasileiro que tem dois aspectos. Um que representa uma justa crítica à tese do comitê central à 6ª Conferência e outro que expressa desvios "foquistas" quanto à concepção da guerra popular. A intolerância do comitê central ao não aceitar a luta interna e desenvolvê-la levou ao isolamento dos partidários da crítica que posteriormente vieram a conformar o Partido Comunista do Brasil Ala Vermelha. Em seu documento de Dezesseis Pontos a Ala faz autocrítica dos desvios presentes no documento Crítica ao União dos brasileiros…, mas logo abandonam o maoísmo, definindo-se então apenas por marxista-leninista e denominando-se daí em diante por Partido Comunista Ala Vermelha.
6. Massacre da Lapa — Episódio dramático em que a casa de segurança utilizada para as reuniões do comitê central do PCdoB, no bairro da Lapa em São Paulo, foi cercada por uma grande operação do II Exército. Os componentes da reunião iam sendo presos assim que eram deixados em ruas distantes do local. Quando a repressão atacou com fuzilaria a casa, nela se encontravam Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e Maria Trindade. Pomar e Arroyo foram massacrados. João Batista Drumond, um dos presos ao deixar o local, foi barbaramente torturado e assassinado.
7. Enver Hoxha —Dirigente do Partido do Trabalho da Albânia e chefe a Revolução Albanesa. Tomou posição em defesa de Stalin frente às covardes acusações de Kruchov, bem como das decisões do XX Congresso do PCUS. Apesar de inicialmente ter combatido o revisionismo moderno de Kruchov, durante a Grande Revolução Cultural da China mudou de posição e tornou-se hostil ao maoísmo. Em razão do seu dogmatismo terminou por rever posições antes assumidas na luta contra o revisionismo moderno, tal como a do reconhecimento de que no socialismo as classes e a luta de classes seguem existitindo.
8. APML – Organização originada no cristianismo revolucionário no início da década de 1960, aderiu posteriormente ao marxismo-leninismo e no final dos anos de 1960 assumiu o maoísmo. Na luta entre ingressar ou não no PCdoB dividiu-se. A parte que terminou por ingressar no PCdoB rapidamente abandonou o maoísmo e seus quadros ocuparam a direção do partido com a morte dos melhores quadros comunistas que o partido havia forjado.
Carlos Marighela
Destacado dirigente do PCB, Marighella nasceu em Salvador ( 5 /12/ 1911), na Bahia, e ingressou no partido ainda jovem.Logo se deslocou para São Paulo para atividades de organização do partido. Preso com a derrota do Levante Popular de 1935, brutalmente torturado cumpriu longos anos de prisão na Ilha Grande. Marighella elegeu-se deputado Constituinte em 1946 e teve ativa atuação parlamentar. Não participou da ruptura de 1962, mas logo após o golpe de 1964, rompeu com o grupo de Prestes e fundou a ALN (Ação Libertadora Nacional ) juntamente com Joaquim Câmara Ferreira, aproximando-se de Cuba através da OLAS (Organização Latino-americana de Solidariedade). Seus escritos sobre a guerra de guerrilha e especialmente sobre a guerrilha urbana serviram de guia não apenas para a ALN como para outras organizações revolucionárias do Brasil e da América Latina. Sua justa revolta contra o burocratismo, o pacifismo e o oportunismo dos partidos revisionistas levou-o a dar maior importância às frentes, secundarizando o papel do partido como a vanguarda da luta do proletariado. Esta incompreensão, juntamente com a adoção de teorias militaristas, leva-o a cometer importantes erros de estratégia. Marighella foi assassinado pela OBAN (Operação Bandeirantes, operativo repressivo vinculado ao quartel do Exército Brasileiro, sediado na rua Tutóia em São Paulo), numa emboscada que contou com a delação de freis dominicanos e comando do delegado Fleury, em 4 de novembro de 1969.
Manoel Lisboa
Militante comunista que desde jovem ingressou no partido, participou do processo de Reconstrução e a partir de 1966, juntamente com Amaro Luiz de Carvalho, que de regresso de estudos na China Popular, romperam com o PCdoB e organizaram no Nordeste o Partido Comunista Revolucionário. Manoel Lisboa combateu o revisionismo e expressou suas posições no importante documento Carta de 12 Pontos aos Comunistas Revolucionários, com o qual sustentou as concepções essenciais do maoísmo para a revolução brasileira sintetizando que "O cerne da estratégia do proletariado e de seu partido é a guerra popular através da guerra de guerrilhas". Manoel Lisboa foi assassinado brutalmente em 1973, após várias semanas de tortura nos porões do regime militar, em Recife.
Pedro Pomar
Nascido em Óbidos, Pará, em 23 de setembro de 1913, cedo ingressou no Partido, no início dos anos de 1930, e em Belém participou das atividades que desembocaram no Levante Popular de 1935. Da sua participação em tantas lutas na construção e organização do partido e da luta do proletariado e povo brasileiros, destaca-se algumas que demonstram sua estatura de comunista e chefe revolucionário. Participou intensamente da Comissão Nacional de Organização Provisória — CNOP e das atividades de reorganização com a Conferência da Mantiqueira (1943) e das atividades de propaganda impulsionando a imprensa popular. Tomou parte do campo revolucionário do comitê central do partido na luta contra o reformismo, o liquidacionismo e o revisionismo na década de 1950. No cenário de extrema tensão que já vivia o movimento comunista internacional, presente no congresso do PC da Romênia, em 1959, como representante do PCB, respondeu aos ataques que Kruchov fizera ao Partido do Trabalho da Albânia, ausente no evento. Contra a corrente criticou a atitude de Kruchov e solidarizou-se com o Partido do Trabalho da Albânia e o governo deste país.
Já em 1960, como delegado ao V Congresso do Partido, sustentou titânica luta contra as posições lideradas por Prestes e lançadas pela Declaração de Março de 1958. A tese central de Prestes, quanto à caracterização da sociedade brasileira, afirmava como principal tarefa revolucionária promover o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Foi contra teses reformistas e antimarxistas como esta que Pomar se colocou na primeira trincheira na defesa do marxismo-leninismo.
Como destacado reorganizador do Partido em 1962 e consequente anti-revisionista, rapidamente identificou no Pensamento Mao Tsetung a força revigorada do marxismo-leninismo. Em 1968, com seu artigo Grandes progressos na Revolução Cultural na China, captou o significado da Grande Revolução Cultural Proletária que dirigia o Presidente Mao na China, afirmando ser esta uma "contundente derrota para a coalizão mundial contra-revolucionária do imperialismo, da reação e do revisionismo contemporâneo." … "Ao mobilizar massas de centenas de milhões, num movimento de envergadura sem precedente, a Revolução Cultural Proletária, em menos de dois anos, já estendeu-se a toda a China e desbaratou a trama revisionista burguesa, que visava a restauração do capitalismo." … "Ela é resultado inevitável da exacerbação da luta de classes na China e em todo o mundo."… "A Revolução Cultural Proletária veio demonstrar a importância histórico-mundial do Pensamento Mao Tsetung, como o marxismo-leninismo de nosso tempo." E concluindo: "Os comunistas brasileiros, que receberam com entusiasmo os grandes êxitos da Revolução Cultural Proletária, procuram estudar seus ensinamentos e divulgar suas experiências. Ao mesmo tempo erguem, cada vez mais alto, a bandeira vermelha do pensamento de Mao Tsetung, que descortina para nosso povo o caminho da revolução e da guerra revolucionária de libertação."
Já após a derrota da Guerrilha do Araguaia, em sua luta no comitê central do partido por realizar o correto balanço daquela importante experiência afirmou que "no Brasil o problema do caminho revolucionário para livrar o povo da exploração e da opressão tem sido dificílimo. E a determinação de palmilhá-lo tornou-se a pedra de toque das diferentes forças revolucionárias, em especial das marxistas-leninistas. Em torno do caminho, da concepção e método da luta armada sempre surgiram grandes divergências."
Concluindo que a derrota na Guerrilha do Araguaia não havia sido apenas de caráter "militar e temporário" como afirmava o relatório Arroyo e a posição imposta pelo grupo de João Amazonas, demonstrou que sua causa estava numa errônea compreensão da concepção da guerra popular. Evocando o sacrifício heróico e supremo dos combatentes do Araguaia, Pomar fez a defesa da guerra popular prolongada, do seu caráter cientifico e de teoria militar do proletário e da necessidade de compreender as lições desta experiência e assimilar no mais profundo possível a justa concepção para retomar e prosseguir a luta armada revolucionária e levá-la a seu triunfo no país. Concluiu afirmando que "a bandeira da luta armada que empunharam tão heroicamente e pela qual se sacrificaram os camaradas do Araguaia deve ser erguida ainda mais alta. Se conseguirmos de fato nos ligar às grandes massas do campo e da cidade e ganhá-las para a orientação do Partido, não importa qual seja a ferocidade do inimigo, com toda a certeza a vitória será nossa."
Maurício Grabois
Nascido em 02/12/1912, com 18 anos é admitido no Partido e pouco depois se torna o responsável pela agitação e propaganda da Juventude Comunista do Brasil. Participa ativamente da Aliança Nacional Libertadora — ANL e, posteriormente, da CNOP. No breve período de legalidade do partido, é eleito deputado Constituinte (1946). Participa do processo de cisão com o revisionismo e da reconstrução do partido (1962), agora sob a sigla PCdoB. Logo com a aproximação do partido com o pensamento de Mao Tsetung contribui na elaboração da estratégia da guerra popular prolongada esboçada pelo partido. Era o comandante das Forças Guerrilheiras do Araguaia, tendo tombado em combate em 25 de dezembro de 1973.