Segunda Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo

Segunda Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo

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Manifestantes queimam a bandeira ianque em frente ao consulado americano

 

Realizou-se nos dias 31/08, 01 e 02/09, a Segunda Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo, no Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ilha do Fundão.

O evento contou com a presença de estudantes da capital e norte fluminenses, de Minas Gerais (Belo Horizonte, Mariana, Triângulo Mineiro, Divinópolis e norte de Minas), Pará (Belém e região do Araguaia), Rondônia, Maranhão, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco, Ceará e Brasília. À Assembléia também compareceram entidades representativas dos trabalhadores produtivos, organizações classistas de operários, de camponeses, do movimento feminino em particular, bem como a Frente Cultural dos Estudantes do Povo. A Nova Democracia, atendendo ao convite formulado pelos estudantes, realizou a cobertura de todo o evento.

Ao longo de dois dias foram travados animados debates numa pauta que abarcou desde a questão do iminente conflito mundial promovido pelo imperialismo ianque, e que ameaça arrastar as nações para mais uma guerra; à grande farsa das eleições. A luta dos camponeses pobres pela terra em todo o país, os novos avanços da cultura popular e democrática, nas suas diferentes e variadas formas, além das questões relacionadas ao crescimento do próprio movimento estudantil, nada faltou que não expressasse uma cuidadosa avaliação de princípios e um “profundo e decisivo compromisso com o nosso povo”.

Enormes faixas que se espalhavam por todo espaço ocupado pela Assembléia anunciavam irrestrito apoio à luta dos camponeses pobres pela terra, ao “movimento das mulheres”, e a todos os povos oprimidos pelo imperialismo. Durante os pronunciamentos, quase sempre enfáticos, os Estudantes do Povo afirmavam que sua luta “tem caráter de classe e é internacionalista”. Outras vezes, repudiavam as eleições, considerando-as corruptas, enquanto que seus avalizadores eram caracterizados como oportunistas e “impostores que nada têm de representantes do povo”. Quanto ao imperialismo, sustentavam, “se prepara para uma nova partilha do mundo”. As palavras-de-ordem eram proferidas com entusiasmo e exprimiam o mesmo teor das faixas.

A primeira atividade organizada foi a formação, entre os próprios estudantes, das comissões de organização, seguidas pelas de alimentação, limpeza, agitação e saúde, ao que parece, levada a contendo com impressionante habilidade.

Seguiram-se os desembaraçados informes construídos à base de rápidos relatos e avaliações das lutas desenvolvidas desde a Primeira Assembléia, de 2001, em Belo Horizonte, a descrição do processo de convocação para a Segunda Assembléia e o trabalho de finanças destinado à realização do evento, custeado pelos próprios estudantes, com venda de canetas, CDs, exemplares do jornal Estudantes do Povo, livros, doações de alunos e campanhas de apoio entre professores.

À noite houve várias apresentações da Frente Cultural com intensa participação dos estudantes.

Ao segundo dia, revesaram-se pronunciamentos acerca da situação nacional e internacional, reafirmando a posição de repúdio às “eleições que, em hipótese alguma, mudarão o caráter de classe do Estado” e à intervenção ianque na Palestina, no Iraque, no Afeganistão, na América Latina. Multiplicavam-se falas ricas em detalhes e em argumentos, muitas vezes entrecortadas por frases pronunciadas em uníssono, rimadas, cujos sigificado e compasso recordam as infalíveis exaltações criadoras e entusiastas dos estudantes cultos, anteriores ao longo período de domínio oportunista nas agremiações estudantis: “Brasil, Peru, Turquia e Nepal/O proletariado é internacional” ou “Juventude palestina/sua luta continua na América Latina”.

À tarde, vários grupos de estudo se organizaram para apresentar propostas de ações que empreendessem “um crescimento ainda mais vigoroso do movimento, capaz de unir a direção às massas de estudantes, e que se reproduza o melhor das experiências, até que, um dia, o povo possa decidir e exercer o poder, também nas escolas e universidades”.

Foi durante a fase de encerramento da Assembléia que apareceu mais um convidado especial, há décadas formado nas combativas trincheiras da verdadeira frente cultural: o cantor, compositor e cineasta Sérgio Ricardo. Revelando-se surpreso e otimista com o entusiasmo do encontro, Sérgio Ricardo teceu considerações em defesa da arte que se identifica com as causas do povo e, a exemplo, cantou várias canções de sua autoria, saídas do repertório que marcou toda uma geração. Os estudantes homenagearam o cantor entoando uma marcha italiana, adaptação cujos versos descrevem a altivez dos que combatem pela liberdade.

Mas foi com alguns atos públicos, no dia 2 de setembro, que se considerou, de fato, encerrados os trabalhos da Segunda Assembléia dos Estudantes do Povo. A passeata percorreu cerca de 4 quilômetros pelo centro do Rio de Janeiro. Ao passarem pelo consulado dos EUA, os estudantes proferiram corajosos discursos contra o imperialismo e atearam fogo à bandeira ianque, em protesto à política imperialista deste país, que oprime grande parte do mundo. Na Cinelândia, um passante, Sr. César Viana Garret, aposentado de 84 anos, disse concordar “com as idéias do movimento”, afirmando que “enquanto o povo passa fome, o dinheiro enche os cofres dos bancos e multinacionais, e que os candidatos não têm intenção de mudar as coisas, sendo necessário um movimento como o desses estudantes para mudar as coisas”. Uma transeunte, também idosa, não desejando se identificar, disse: “é uma vergonha o que os Estados Unidos estão fazendo com os árabes, só unindo todo mundo é que se pode derrotar os americanos”.

A manifestação foi acrescida por um contingente de estudantes de escolas e universidades cariocas, informados do ato dias antes, e por populares que aderiram durante a passeata.

No final, em frente à câmara de vereadores, foi dada a palavra aos vários movimentos presentes e houve nova apresentação da Frente Cultural dos estudantes, com várias músicas populares e revolucionárias, que agradaram as pessoas que pararam para assistir à manifestação.

Os policiais, que desde a concentração dos estudantes no Largo de São Francisco, acompanharam todo o percurso com um grande efetivo, prevendo baderna ou distúrbios, tiveram suas previsões frustradas. Os estudantes demonstraram grande disciplina e organização, não dando margem a qualquer repressão policial.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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