Sem a luta das mulheres, não haverá um Brasil novo

Protesto após Chacina do Jacarézinho/RJ, maio de 2021. Foto: Mauro Pimentel/AFP

Sem a luta das mulheres, não haverá um Brasil novo

Texto de autoria do Movimento Feminino Popular (MFP) presente na edição 250 de AND.

O papel da mulher na sociedade foi um dos temas cruciais das últimas eleições. Maioria absoluta da população brasileira, as mulheres trabalhadoras só são lembradas pelos políticos de plantão na hora de pedir votos. Ao contrário do que os demagogos dizem, o fator decisivo da sua tomada de posição é determinado pela posição de classe que ocupam, e não a partir de qualquer ideia vaga de “sororidade”.

É sintomático o fato de que uma parcela considerável das mulheres pobres, que moram nas periferias das grandes cidades, ou nas vastas zonas rurais, tenha aderido a um candidato ultrarreacionário e antipovo como Bolsonaro, o Desbocado. Isso ocorreu, em especial, entre as mulheres evangélicas. Nelas, pouco repercutiu e repercute o apelo da Rede Globo e dos partidos tradicionais em defesa da “democracia”. Por que isso ocorre? A resposta é clara como a luz do dia: até hoje, as promessas sociais da dita “Constituição Cidadã” de 1988 não saíram do papel. Nem sequer a igualdade salarial pela mesma função, prometida por todos os governos, foi assegurada. Para as mulheres do povo, ausentes quaisquer outras instituições do Estado (com exceção da Polícia), a igreja surge aos seus olhos como a única alternativa à repressão policial ou à perda de seus filhos para as drogas e a criminalidade.

Por outro lado, o candidato eleito Luiz Inácio buscou atrair o voto feminino a partir de uma “frente eleitoreira” que incluiu desde típicas representantes das classes dominantes – como a latifundiária Simone Tebet –, passando pelas forças oportunistas e identitárias “pós-modernas” até setores da cúpula da Igreja Católica. Esta aliança tem como único princípio a ausência de princípios: convivem no seu meio as campeãs do feminismo radicalóide pequeno-burguês e as mais notórias declarações contra o aborto, em defesa da “família” etc. Por óbvio, uma vez no governo, será a posição mais à direita que terá hegemonia, sempre em nome da “governabilidade”, nome pomposo para a corrupção mais descarada e a negação das promessas feitas durante a campanha.

Sobre a situação material que empurra milhões e milhões de mulheres para o desemprego, as relações de exploração mais vis e a prostituição, a “receita” apontada tanto por Bolsonaro quanto por Lula é a mesma: turbinar os programas assistencialistas, que podem se chamar “Bolsa Família” ou “Auxílio Brasil”, sendo em essência a mesma coisa.

Não nos iludamos: o retumbante recorde da abstenção e rechaço à farsa eleitoral, ainda maior entre as mulheres, a despeito de toda a chantagem movida por um inédito aparato de contrapropaganda e mentiras, só confirma o quanto este sistema de poder está em ruínas. Como dizia o grande Karl Marx, a emancipação dos trabalhadores (dos quais a metade são mulheres) só pode ser obra dos trabalhadores mesmos, conquistada com luta dura, e não pela dádiva de um qualquer arremedo de “salvador da pátria”.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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