“A população é levada a acreditar que a doença caiu do céu e não a enxergar que se as pessoas forem bem geradas, bem nascidas e bem criadas, os doentes deixarão de ser regra para se tornarem exceções”, é o que afirma o médico Krishnamurti Sarmento. Maranhense de São Luiz, Krishnamurti concluiu os seus estudos de medicina lá mesmo, na capital. Dinâmico líder estudantil, foi vice-presidente da UMES — União Maranhense de Estudantes Secundaristas, e, devido à sua inclinação, levou seus colegas a imaginarem que terminaria candidatando-se a algum cargo político. O que não aconteceu, porque resolveu se dedicar inteiramente à medicina, e, ao invés de legislar, curar.
Diplomado em 1968, mudou-se para o Rio de Janeiro no ano seguinte para fazer residência. Foi aceito para compor a equipe de residentes em cirurgia torácica da equipe do professor Jesse Teixeira, no Hospital Estadual Santa Maria, em Jacarepaguá. Em 1984 assumiu a direção da Faculdade de medicina de Vassouras e a presidência do colegiado superior do Conselho Departamental e, no mesmo ano, foi supervisor geral do internato da faculdade de medicina da Fundação Universitária Sul Fluminense.
Em 1990/91 passou a dirigir o Centro Marcolino Candau, da Secretaria Municipal, instalando um posto avançado de saúde no Morro da Mineira, contrariando, assim, as autoridades da prefeitura do Rio e dando assistência aos moradores. Em seguida, reinaugurou, o posto de São José Operário, no Morro de São Carlos, onde passou a prestar atendimento à comunidade, da mesma maneira que havia feito nas favelas Roquete Pinto e nas da Praia de Ramos.
Krishnamurti não tolera o discurso dos conformados. Parte para a luta em defesa da democratização da saúde. Como médico, sempre encarou a medicina como uma profissão técnica científica, mas de profunda vocação social. Por isso, em 1995, lançou o livro “Por trás da Saúde” e, em 2002, “Não há Saúde sem Soberania”, onde mostra a verdadeira situação da saúde ou da doença, como costuma dizer, no Brasil hoje. Visitado por A Nova Democracia, Krishnamurti nos fala sobre um Brasil colônia que não se importa com a saúde do seu povo, enquanto fala em cidadania, apontada por ele como uma grande farsa.
A Organização Mundial de Saúde nos afirma que saúde é o bem estar físico, social e econômico do indivíduo. No momento em que afirma que é econômico, nos dá a diretriz para raciocinar que não pode existir social sem que se pense em educação, alimentação, a própria saúde, moradia e emprego. Se é econômico, logo todas essas coisas são fundamentais e nós precisamos disso para ter saúde.
Enquanto médicos e pacientes não tiverem uma consciência crítica dessa posição da medicina, perderemos a guerra para as doenças, porque o que fazemos no Brasil do Ministério da Saúde é combater as doenças. Ou seja, combatemos as doenças sem nos importarmos com os fatores que as determinam.
Esses fatores facilitam a entrada de bacilos, micróbios, microorganismos em geral, que se instalam e produzem doenças. A fome, por exemplo, é um deles. É a expressão biológica da doença social e um problema estipulado e criado para dominar os povos. Os hegemônicos do mundo, sendo os Estados Unidos o maior deles, sabem muito bem disso.
Com todo o seu poder, a Organização Mundial de Saúde, e outras entidades mundiais no gênero, não projetam a solução dos problemas das doenças, ficando apenas apresentando estatísticas. Em 1995, por exemplo, mostraram que o Brasil era o primeiro lugar do continente americano e segundo no mundo, só perdendo para a Índia, em casos de lepra ou Hanseníase.
O Brasil não é uma nação,
e sim colônia
Em maio de 1999, enquanto toda a imprensa informava que o Brasil havia alcançado o quarto lugar nos Jogos Pan-americanos, o país ultrapassava a Índia e assumia o primeiro lugar do mundo em casos de lepra, fato que não foi divulgado.
O que chega a ser ridículo e patético é que essas organizações só fazem informar sobre o fato, ou seja, sabem que vai acontecer, mas não tomam providências, mostrando sua completa inutilidade. Junto a isso, a classe médica brasileira encontra-se acomodada. Apesar de possuir muitas revistas, organizações, academia brasileira de medicina e associações para cada especialidade, não reconhece a necessidade de mostrar a realidade ao povo.
Mas, quem responde por essa situação, na verdade, não são os médicos, e sim, os políticos. Quem cria o bandido do morro são os políticos. Eles deveriam tratar e resolver o problema da fome.
Os planos de saúde preferem a doença
Normalmente, só o rico, ou alguém com boa remuneração financeira, pode pagar um plano de saúde. Mas, como fazem parte da minoria no país, e os planos de saúde querem expandir e lucrar cada vez mais, lançam promoções e planos acessíveis, nos quais o pobre, ainda não miserável, paga cerca de 25 reais por mês.
A doença virou
comércio no Brasil
Esses tais planos só dão direito à consulta, e, muitas vezes, o médico pede uma tomografia computadorizada, um exame caríssimo, sem necessidade. E o pobre tem que “dar seu jeito” para pagar. Desses exames, 90% dão resultado normal, demonstrando servir para desenvolver os planos de saúde, tornando vultoso esse sistema no país.
Mas, esses pobres, que podem pagar os 25 reais por mês, na verdade, são minorias, porque a maioria não pode pagar nada, e como é a classe onde as doenças mais incidem, exatamente por não serem bem gerados, nascidos e criados, acabam morrendo.
Saúde e educação são duas coisas essencialmente do Estado. Não se pode querer que um grande comércio multinacional, que cada dia vende mais ou ganha mais se tiver mais doentes, tenha interesse em promover a saúde. Não querem a solução, porque vivem do problema.
Controle de natalidade para que não haja um exército futuro
Os políticos brasileiros estão fazendo uma coisa completamente comandada por todos os presidentes dos Estados Unidos, que é o controle da natalidade. Com isso, os imperialistas querem, na verdade, é impedir o brasileiro de nascer. Quanto mais nascem, pior fica para eles no caso de uma revolução. Então, estão matando na origem todo um exército que poderia defender o Brasil no futuro.
Atribuem a fome aos países pobres, porque precisam encontrar um culpado para tudo, e o culpado é o pobre. Com isso, tentam fazer com que ele não tenha filhos para que não passe fome. Isso é uma verdadeira trama, principalmente dos Estados Unidos, que fazem o tal controle como se fosse um planejamento familiar.
A educação tem que andar junto com a saúde e vice-versa
Temos que considerar que a escola, em princípio, não deve servir apenas para transmitir conhecimento, mas, também, para criar hábitos, promover atitudes, e, conseqüentemente, formar líderes. Porém, além da questão das más escolas, o filho do pobre, mal gerado, mal nascido e mal criado, na maior parte dos casos, não tem capacidade para assimilar esse conhecimento.
Para resolver essa questão da falta de condição de aprendizagem, os nossos dirigentes resolveram admitir que as crianças passem sem saber. Elas não aprendem e vão em frente. Exatamente porque esses dirigentes sabem que eles não vão aprender nunca, porque não têm condições para isso. E, para quem ainda não sabe, foi o FMI quem implantou essa idéia no Brasil e nós, fantoches dos Estados Unidos, estamos obedecendo.
O pobre fica doente,
empobrece ainda mais,
e morre
Os ministros, que não fazem absolutamente nada diferente do que mandam os Estados Unidos, estão aprovando as nossas crianças sem aprendizado. O Brasil aparece com altos níveis de aprovação, com uma educação quase perfeita, parecida com a de Cuba, mas com crianças na 5a. série primária que não sabem nem ler e nem escrever.
Ainda, para resolver o problema da não-educação, os políticos brasileiros deram direito ao analfabeto de votar, dizendo que, assim, ele estaria exercendo a sua cidadania, quando, na verdade, se eles não freqüentaram uma escola, e, sendo assim, não participaram do criar hábito e desenvolver atitudes, têm muito mais dificuldade em poder escolher e são mais fáceis de serem manipulados.
Além da fome, temos também a questão da moradia: debaixo da ponte não tem como se dizer que alguém possa ter cidadania. Em época de eleições, recebe a visita de políticos, que dão uma sopa, em uma espécie de restaurante volante e camisinha, distribuídas pelo estrangeiro, para que os miseráveis não possam procriar. Dizem que isto é cidadania. Vão embora, e o pobre miserável continua em baixo da ponte.
Na verdade, é muito difícil falar em cidadania e pagar um salário mínimo indecente para o pobre. Ser cidadão não é, por exemplo, entrar pela porta da frente do ônibus sem pagar. Isso é humilhação.
A farsa do natal sem fome
As crianças brasileiras sofrem com a fome e a carência geral de recursos. Entretanto, no natal tudo isso parece ficar diferente. Neste dia, menores com fome em todo o país, servem de atração e dão “ibope” aos programas de TV. Empresários aparecem diante das câmeras dando presentes de todos os tipos. Na verdade, essas crianças nem sabem que estão sendo usadas como atores de um teatro cruel.
Os imperialistas querem
controlar a natalidade no Brasil
para eliminar um possível
futuro exército pela origem
São cenas irritantes, falsas, cínicas, hipócritas, dignas da degradação moral que estamos vivendo. Industriais, vestidos de Papai Noel, com caminhões cheios de brinquedos distribuem bolas de futebol, que é a primeira dose de entorpecente, no lugar de livros e cadernos.
Nesta época, a burguesia se dispersa à procura de crianças pobres e famintas, para tranqüilizar sua consciência. Acontece, então, uma cena ridícula: o importante é que elas não deixem de comer no Natal. Lembremos que nos outros 364 dias eles não querem saber se estão contribuindo, direta ou indiretamente, para que estes menores, além dos adultos e recém-nascidos, morram de fome.
No Brasil colônia tudo pode acontecer
Todas essas coisas acontecem no Brasil, porque nós não somos nação e sim colônia. Quem dita as regras são os nossos agiotas, que fazem parte do FMI. E vivemos assim por culpa dos nossos políticos, que entendem que é preciso que se venda o país para que sobrevivam.
Possuímos um sistema de governo que é um monstro insaciável, que aceita tudo isso e permite a existência de jogadores de futebol e apresentadores de programas de televisão ganhando milhões, numa total inversão de valores. Um tremendo conluio, onde sempre predomina a exploração de uma maioria pobre, que sustenta a minoria privilegiada.
Por sua vez, o povo é levado a praticar dois princípios de psicologia: a racionalização e a sublimação. O primeiro está ligado a um comodismo que faz com que acreditem que são incapazes de reagir. O segundo, faz com que aceitem a existência de artistas, cantores e jogadores, com uma renda absurda. E, porque gostariam de estar naquele lugar, aplaudem.
Enfim, tudo isso acontece porque a educação é colonial. A política é colonial. A saúde é colonial.As idéias são coloniais e o Brasil não pertence aos brasileiros.