Sem válvula de escape

Sem válvula de escape

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Recentemente, ao se pronunciar no plenário do Senado, o representante do Amazonas, Jefferson Peres (PDT), considerado ao lado do senador Pedro Simon (PMDB-RS), um ícone de honradez no Parlamento Brasileiro, imprimiu grave preocupação em advertência sensata.

Ao se referir a acusações trocadas entre os senadores Mozarildo Cavalcanti (PTB) e Romero Jucá Filho (PMDB), ambos de Roraima, Jefferson Perez afirmou ser preciso apurar com isenção e rapidez tudo que foi apontado, para que o Senado não seja mergulhado na lama em que parece afogar a Casa vizinha, a Câmara dos Deputados.

O problema é que o Senado vem também soçobrando em rebaixamento moral já há muito tempo. Só para ficar em recente exemplo de humilhação e vexame (quando o senador ainda não estava por lá), lembre-se o episódio de renúncia dos senadores ACM (PFL-BA), José Roberto Arruda (PFL-DF) e Jader Barbalho (PM DB-PA).

ACM e José Roberto Arruda foram flagrados violando o painel do Senado e deram o fora antes que fosse aberto processo que pudesse levá-los à cassação e perda dos direitos políticos.

Jader Barbalho, envolvido em falcatruas consideráveis em financiamentos da Sudam, foi pilhado carregando malas de dinheiro público na construção de um ranário que não saiu do papel. Ficou tudo por isso mesmo. ACM foi reconduzido ao Senado na eleição seguinte, enquanto Arruda e Jader foram eleitos para a Câmara dos Deputados.

As instituições brasileiras são desmoralizadas e vilipendiadas todos os dias por aqueles que deveriam dar o primeiro exemplo. O mais preocupante de tudo, é perceber que a maioria dos nossos homens públicos não tem qualquer senso de responsabilidade ou preparo, cuidando apenas de fazer fortuna pessoal e dilapidar o patrimônio nacional.

Mudam de posição ao sabor de correntes, sem nenhuma convicção e sem qualquer princípio. O único princípio é aquele que rege o lucro. Mesmo que os recursos não lhes pertençam.

As leis são criadas e elaboradas com o objetivo de favorecê-los. No final de sua gestão presidencial (1995-2003), FHC fez aprovar, a toque de caixa, proposição do deputado federal Bonifácio Andrada (PSDB-MG), determinando que nenhuma ex-autoridade poderia ser julgada a não ser pelo STF.

Como o sistema capitalista é por si só excludente (por isso, encontra-se à beira de colapso mundial), colocando à margem da participação econômica cerca de dois terços da sociedade, os governos que se sucedem criam currais que alimentam com recursos públicos, na esperança de perpetuarem seus mandatos.

Indague-se entre os vários setores de classe média quem se interessa pela defesa da escandalosa gestão petista de Dom Luiz Inácio (PT-SP) e o percentual encontrado será mínimo. Entretanto, nas pesquisas de intenção de voto, registra-se crescimento surpreendente na preferência pelo atual ocupante do Palácio do Planalto.

Enquanto isso, tonifica-se Estado paralelo que se movimenta nos bilhões de dólares em vendas de drogas e na pirataria, até porque não existe outra saída.

Na organização dita formal do modelo estatal, os pilares vão sendo destruídos na corrupção generalizada, na incúria e na hipocrisia de uma sociedade escrava de modelo econômico perverso, cujo único objetivo é o lucro fácil e a proteção da máfia dirigente. O modelo parece caminhar em direção ao desastre.

Dirceu continua apitando

Todo santo dia aparece uma complicação a mais e o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), vê-se impedido de concluir seu relatório na CPI dos Bingos, conhecida como CPI do Fim do Mundo (porque nela tudo se investiga). O grande problema é que "tem corrupto demais e investigadores de menos", como se comenta.

O ex-ministro-chefe da Casa Civil e deputado federal cassado por corrupção, Zé Dirceu (PT-SP), fez chegar às mãos do presidente da CPI dos Bingos, senador Delcídio Amaral (PT-MS), importante ofício.

No documento, sua ex-excelência solicita que seja convocado a depor o ex-motorista do senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR), Roberto Jefferson Camoeiras Gracindo Marques, o Xuxa.

Como se recorda, Xuxa revelou numa gravação ter ido receber 50 mil reais do esquema do publicitário mineiro Marcos Valério (através do cheque n°41.4270, emitido pela SMP&B), dinheiro que seria entregue, segundo confessou, ao senador Filho.

Dirceu quer ver esclarecida a questão, retirando seu nome pelo menos dessa falcatrua, já que lhe foi imputada a responsabilidade por tal saque bancário, pois um seu assessor e dileto amigo também se chama Roberto Marques. A guerra agora é pela paternidade do dinheiro. Mas não se deve colocar a mão no fogo por ninguém.

Zé Dirceu foi o principal articulador político da campanha presidencial de Luiz Inácio, tendo sido guindado, na República do PT, à condição de manda-chuva e descarregaraio, até ser apontado como chefe de quadrilha pelo ex-deputado federal (também cassado), Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Num contundente depoimento à CPI dos Bingos, Roberto Jefferson detalhou negociatas acontecidas dentro da Casa Civil, terminando por mandar forte recado ao então ministro, diante das câmeras: "Zé, sai daí, Zé. Sai ligeirinho". E Zé saiu.

Antes desse recado, houve o escândalo do Waldomiro Diniz (braço direito de Zé Dirceu), com denúncias que envolviam meio mundo e tudo está por isso mesmo, já que Waldomiro circula livremente e cadeia no Brasil parece só ter sido feita para quem é pobre e não tem prestígio. A impunidade se institucionaliza.

Waldomiro circulava dentro do Congresso como porta-voz do então chefe da Casa Civil e a maioria dos parlamentares o tratava como "ministro". Quando ele falava, era como se fosse a voz do próprio Dirceu. Durante algum tempo, inclusive, dividiu apartamento em Brasília com sua excelência que tentou negar ter intimidade.

Essa disputa pela paternidade do dinheiro do mensalão (50 mil), ainda irá rebimbar pelos meios de comunicação. Se Zé Dirceu tem seus problemas e dissabores, o mesmo se pode dizer do senador Jucá Filho, contra quem tramitam quatro pedidos de cassação na Comissão de Ética do Senado Federal.

No mais sério deles, Filho é apontado como falsário, por ter adulterado documentos que apresentou na JUCERR — Junta Comercial do Estado de Roraima -, quando da alteração contratual da empresa TV Caburaí Ltda.

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