Siba e A Fuloresta do povo

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Siba e A Fuloresta do povo

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Vindo de uma família do agreste pernambucano, Siba Veloso começou a construir sua linha musical ainda menino, observando os ritmos rurais da Zona da Mata Norte do estado e as festas de rua dos subúrbios de Recife, onde nasceu. De volta as origens, depois de morar por sete anos em São Paulo fortalecendo-se como artista, formou o Siba e A Fuloresta para cantar maracatus, cirandas, coco de roda, cavalo marinho e mostrar isso para o resto do país e do mundo.

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— Meus familiares são de Lajinha do Garanhuns e o fato de ter crescido entre a cidade e o interior me deu o privilégio de formar uma grade musical bem variada. Quando comecei, nos anos de 1990, no Recife, estava acontecendo um momento de explosão cultural e musical muito forte por lá, e isso tem marcado profundamente meu trabalho até hoje, principalmente minha relação com a região da Zona da Mata, que é de onde vem boa parte do meu trabalho — explica Siba.

— Mudei-me para São Paulo, em 1996, com a minha primeira banda, a Mestre Ambrósio, porque depois que gravamos nosso primeiro disco, sentimos que  para ampliar os horizontes de Recife e do Nordeste em geral, precisávamos ir para o Sudeste. Isso é uma realidade que até hoje se mantém, um pouco alterada, mas, ainda continua — acrescenta.

— E foi na capital paulista que se abriram as principais portas profissionais e relações que fazem de alguém um artista mundialmente reconhecido. Ela me trouxe muito enriquecimento pessoal e profissional. Mas acabei voltando para a minha terra e formando meu segundo grupo, A Fuloresta — continua.

A Fuloresta,  conforme Siba, é composta por músicos sensacionais, que residem na cidade de Nazaré da Mata, que fica a 70 km do Recife.

— A Fuloresta é um grupo muito especial que só tem percussão, voz e metal. Uma reunião muito eclética, em que o mais novo tem vinte e poucos anos e o mais velho tem sessenta e poucos. E o que há de comum entre nós todos é esse gosto pela música específica daquele lugar, que procuramos articular de uma maneira que possamos nos comunicar em qualquer outro lugar do mundo, o que de fato temos conseguido fazer — conta.

O grupo é composto por uma orquestra de sopros, sendo João Minuto no saxofone, Roberto Manoel no trompete, Galego no trombone e Léo Gervásio na tuba. Na percussão estão Mané Roque, Cosmo Antônio e Mestre Nico.

Músicos do povo

— Eles não tiveram, digamos assim, uma educação musical formal e nem tão urbana como normalmente se espera, mas têm uma escola muito própria e muito intensa, que é a da música de rua. Nós nos reunimos há muito mais tempo do que temos de formação, que são oito anos, porque sempre convivemos no ambiente das festas de rua da Mata Norte — explica Siba Veloso.

— São artistas que mantém uma relação bem orgânica com a música, que é um caminho por onde ela flui naturalmente e com muita intensidade. Creio que tenho um privilégio muito grande de ter um grupo assim me acompanhando — continua.

Segundo Siba, onome ‘Fuloresta’ não tem um motivo exato, trata-se de uma brincadeira com a palavra floresta.

— É uma maneira, digamos assim, mais simples de dizer floresta, mais matuta mesmo. Juntamos isso com o fato da nossa região se chamar Zona da Mata, e ironicamente não se vê mas mata por lá, já que tudo foi transformado em cana-de-açúcar. Enfim, pegamos a floresta que não existe, juntamos com a forma do matuto falar e deu nisso — revela.

— Também nosso primeiro disco, Fuloresta do samba, nada tem a ver com o gênero samba, como muitos de fora podem pensar. Para nós, pernambucanos, a palavra samba diz respeito a todo tipo de festa de rua com música, seja a ciranda, o cavalo marinho, o coco, o maracatu. Enfim, é o encontro e a festividade na rua com música, com poesia e com dança, e tudo mais que fazem parte dos nossos folguedos — explica.

Siba diz que a vida em São Paulo e viagens pelo mundo o influenciou de alguma forma suas músicas, mas não alterou a essência.

— As viagens ajudam de alguma forma a modificar uma pessoa, que acaba carregando um pouco de cada lugar consigo. É claro que também trouxe isso comigo de volta a Pernambuco, se somando ao conhecimento que já tinha — expõe.

— Penso que essa experiência de viagem e estranhamento com o outro acaba nos dando a capacidade de estranhar a nós mesmos, e isso sempre é bom. É saudável poder olhar o nosso lugar e o estranhar um pouco, olhando como se fosse de fora. E isso está presente na nossa música também. Mas nosso principal ambiente continua a ser as festas de rua. Viemos delas e procuramos não perder esse vínculo — afirma.

— Constantemente estamos presentes nas manifestações que acontecem na nossa região, as vezes como grupo, e outras individualmente, por exemplo, fazendo parte de um grupo de cavalo marinho, maracatu de baque solto. E essa coisa de rua é fundamental para o que fazemos no palco, é a base do nosso trabalho, a escola, a referência, a âncora que não podemos perder, senão o barco afunda — continua.

O trabalho do grupo é baseado em um processo autoral de Siba, em que as letras, as músicas e os arranjos são seus.

— Gostamos de montar um repertório próprio, ser autor do que cantamos. Isso é bem fundamental para nós. E a partir de um processo autoral individual, tentamos fazer um trabalho coletivo na hora dos arranjos finais, do jeito de tocar e de apresentar isso para as pessoas. Nesses oito anos de estrada, temos tocado em um bom pedaço de Brasil, especialmente em São Paulo, que considero minha segunda casa — fala com carinho.

— Tocamos pelo Nordeste inteiro, pelo Sul e parte do Sudeste. Nosso segundo disco, Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar, foi lançado por um selo francês também, o que nos proporcionou  turnês na Europa todos os anos, além de outras partes do mundo — finaliza Siba, acrescentando que está preparando um novo disco, que deverá ser lançado no final deste ano ou começo do próximo.

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