Sina de grande artista

Sina de grande artista

Renato Teixeira — cantor, compositor e instrumentista — é um dos mais importantes representantes da música popular brasileira. O cantor está completando 40 anos de uma carreira bem sucedida. Nascido em Santos (SP), passou a infância em Ubatuba e a adolescência em Taubaté, cidades do interior de São Paulo. A família de Renato Teixeira sempre conviveu com a música, um legado que ele traz desde pequeno.

— No começo da minha carreira, eu senti logo de cara que precisava mostrar alguma coisa que fosse diferente, particular, que não fosse de ninguém. Eu percebi que os grandes cantores cantavam aquilo que tinham conhecimento. E aí eu fui buscar algumas referências na cidade em que eu vivia, Taubaté. Fui pensando nas músicas que eu ouvia e me deixando possuir pela minha história musical.

No final dos anos 60, Renato chegou a São Paulo. Logo, as portas se abriram ao grande talento do compositor. Em 1967, participava do Festival da Record com a música Dadá Maria, defendida por Gal Costa e Sílvio César. Dadá Maria do disco do Festival, foi a primeira música gravada por Renato.

Nos anos 70, devido à censura imposta pelo gerenciamento militar, a música brasileira silenciou. Pouco — ou quase nada — se podia cantar que fosse brasileiro autêntico, que falasse da vida do povo e de sua luta.

Nesta época, Renato passou a fazer jingles publicitários para sobreviver, trabalho que acabou emplacando, e fizeram sucesso. Ele já havia se identificado totalmente com a música caipira, tendo participado da gravação da Coleção Música Popular, que reunia canções populares das cinco regiões brasileiras. A coleção foi produzida pela Discos Marcus Pereira e Renato Teixeira participou de um dos quatro discos dedicados às regiões Centro Oeste/ Sudeste.

Com os recursos dos trabalhos publicitários, Renato fundou, com Sérgio Mineiro, o Grupo Água. Neste grupo eles tocavam sem visar lucros e foi através dele que Renato assimilou o espírito da cultura caipira, tal como se apresenta hoje.

Há 30 anos, Elis Regina gravou Romaria que se tornou grande sucesso e provocou uma reviravolta na sua carreira. A partir daí, músicas que contam as histórias do povo brasileiro passaram a ser cada vez mais apreciada pelo povo.

Seu estilo, muitas vezes, é confundido com a música caipira ou de raiz. Mas ele explica que a música que faz é totalmente distinta:

— Eu não faço música caipira, música de raiz (ou sertaneja), minha música é folk [que ninguém se assuste, trata-se de música contemporânea, mas à maneira folclórica tradicional] baseada na oralidade das histórias que o povo conta, do passado familiar, do passado cultural e de uma forma contemporânea, que agrega a isso uma coisa de presente, de futuro. Eu acho que a música folk pode colaborar muito com a melhoria da música brasileira, que já é maravilhosa.

Música X barulho nocivo

Renato Teixeira faz parte de um grupo seleto de artistas que sempre se distinguiu por fazer música genuinamente nacional, por exaltar as virtudes do nosso povo, do nosso país, a nossa riqueza musical e cultural. Ao contrário da maioria dos artistas que são colocados em evidência pelo monopólio dos meios de comunicação, que na verdade, não fazem mais do que repetir velhas fórmulas musicais sem nenhuma técnica e sem poesia, que só servem para alienar o povo brasileiro.

Renato Teixeira se apresenta com seus filhos

— São duas tendências completamente diferentes. Os placebos, esse pessoal que faz uma música para enrolar (“vamos enrolar aí, vamos faturar todo mundo”) e os que fazem uma música visando perenidade, que seja referência da vida de cada um. A música popular brasileira sempre teve essa característica, a de lá na frente representar um pouco da nossa história. Essa questão é decisiva, de você querer usar a música para faturar ou para se manifestar culturalmente e, aí sim, ganhar dinheiro — explica o cantor.

E ele continua:

— A minha música Romaria tem 30 anos. Se você pegar todos os sucessos sertanejos que tem aí, vai ver que é muito difícil consagrar uma música. A cada dez anos se consagra uma. Aí eu me pergunto: eu não sou popular? Eu só não encho um campo de futebol porque minha música não é para isso. Eu não faço música aeróbica, minha música é mais de considerações refletidas, mas é um sucesso duradouro.

As composições de Renato Teixeira são uma prova cabal de que o povo brasileiro gosta de música de qualidade. Ao contrário do que defendem os ideólogos burgueses e reacionários — de que se “músicos ruins fazem sucesso porque o povo tem mau gosto” —, o povo demonstra que quando tem a oportunidade de ouvir boa música, retribui apoiando esses artistas, no que fazem muito sucesso. É o que afirma Renato Teixeira:

— O povo brasileiro só pode gostar de música boa. O Brasil tem uma legião de injustiçados que vem desde o descobrimento. Esses reacionários, ao invés de melhorar a qualidade de vida dos injustiçados, ficam alimentando a ignorância para que nada se mova, para que nada aconteça. Todo mundo gosta de dançar, mas todo mundo gosta de ouvir música, de refletir, pensar. Mas para o povo brasileiro só vai mentira, do presidente da República a tudo que rola em Brasília.

Renato prossegue:

— O Luiz Inácio — que era alguém que poderia melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro — fica investindo na sua própria longevidade, sendo paternalista. Uma pessoa que tem o poder que ele tem fica se fingindo de morto para que a história não crave um prego nele. Falta coragem. E na música é assim também: falta coragem a muita gente — explica Renato.

O artista e o impostor

— Eu tenho 40 anos de carreira e vou te confessar: o lado intelectual da música, do pessoal que realmente trabalha com isso de forma real, é ótimo. Mas o outro lado é um inferno. É gente que vai à televisão e paga R$ 10 para o câmera filmar determinada pessoa. É gente que faz tudo para aparecer a qualquer custo na capa da revista, na televisão. Na música tem um monte de ratos em volta, querendo te explorar, querendo ganhar dinheiro nas suas costas.

Muitas vezes, as primeiras a explorar o trabalho dos artistas são as gravadoras, responsáveis por fabricar, distribuir e promover as gravações. Atualmente algumas poucas gravadoras transnacionais, como a Sony, BMG, Universal Music, EMI-Odeon, dominam praticamente todo o mercado mundial. Essas gravadoras impõem ao artista as músicas que devem gravar, uma estética padronizada por elas, e até a periodicidade dos álbuns musicais.

Renato Teixeira conta que nunca teve problemas com as gravadoras. Segundo ele, a tendência é que elas acabem:

— Eu não tenho nada de mal para falar das gravadoras. Sempre me trataram bem, não me apoiaram, mas também não me prejudicaram. A gravadora é outra coisa que está acabando e vai ficar melhor para o artista. Sobra mais dinheiro para o artista. Hoje você monta um site, onde pode ter um escritório de shows, promoções, venda de discos. Se você quiser, vai baixando as músicas, ouvindo. Isso é muito bom para a música.

Renato Teixeira tem cerca de 70 composições (vários artistas interpretam suas músicas, como Joana, Elis Regina, Gal Costa, etc.) excluindo as parcerias, porque ele também já fez muitas em sua carreira. Cantou com Rolando Boldrin, Elomar e Xangai, Pena Branca e Xavantinho, Almir Sater, etc. Uma das parcerias mais duradouras e bem sucedidas da carreira de Renato Teixeira é com Almir Sater. Com Almir, Renato compôs vários de seus sucessos como A poeira é ouro em pó; Boiada; Missões Naturais; Tocando em frente; Um violeiro toca.

— A parceria com o Almir é uma parceria legal. A gente fez alguns sucessos juntos. Mas o melhor desta parceria é projetar esse tipo de música no Brasil, trabalhando num mesmo conceito da boa música. O mais importante é que estamos fazendo crescer o público que gosta deste tipo de música.

Atualmente, uma outra parceria muito bonita que Renato Teixeira faz é com os filhos Chico Teixeira e João Lavraz. Numa família de músicos, o talento parece que é transmitido de geração em geração, tornando-se algo natural, explica Renato:

— Para mim foi tão natural, sempre foi assim. Desde pequenos que os meus filhos tocam. Aqui é igual à família de circo, todo mundo sabe jogar pelo menos três laranjas para cima.

Chico Teixeira compõe, canta, toca viola de 12 cordas e já tem um CD, lançado em 2002, e um DVD. João Lavraz é baixista e também compõe. Ele tem dois CDs gravados.

O novo trabalho

Este ano, para comemorar seus 40 anos de carreira, ele lançou seu 21º álbum — um CD ao vivo — e seu primeiro DVD, com participações especiais de Pena Branca, Joanna, Chitãozinho e Xororó e Leon Gieco.

O CD tem 14 faixas e o DVD, 20 canções consagradas na sua carreira, entre elas: Um violeiro toca; Amanheceu, peguei a viola; Frete; Tocando em frente; Amora e Romaria. A grande novidade ficou por conta da parceria de Renato com os filhos. Fazem parte do novo trabalho as composições Êta mundo bão e Encostada na varanda, de João Lavraz, e Curvelo, de Chico Teixeira. Joanna faz participação especial na música Recado. Chitãozinho e Xororó, em Frete e Leon Gieco, cantor argentino, divide o palco com Renato na interpretação de Como la cigarra, consagrada pela grande cantora Mercedes Sosa. Romaria foi cantada por Renato e seus convidados especiais.

— Eu coloquei todas as músicas conhecidas neste trabalho. Quando você faz um CD, um DVD, divulga, lança, faz show, aí já é hora de pensar no que virá depois. O que virá eu ainda não sei, mas não pode ser uma coisa óbvia, redundante.

Renato completa:

— É que nem o primeiro sucesso. Você corre atrás dele, mas depois ele começa a te atormentar e você tem que ter outro logo, se não vira autor de uma musica só. Eu já estou pensando. Mas o novo CD vai sair no segundo semestre do ano que vem.

Na turnê que Renato Teixeira realiza atualmente pelo Brasil, ele canta as 20 canções que estão no DVD. Em média são de 10 a 15 shows por mês e, em todas as cidades por onde passa, Renato é recebido com casa cheia. E o cantor retribui contando muitas histórias — que certamente lhe foram contadas pelo povo brasileiro —, fazendo pilhérias, esbanjando simpatia, talento e emocionando o público.

Sina de violeiro
[trechos]

Meu pai chegou aqui num fim de dia,
Há muito tempo em cima de um cavalo
E era pobre e moço e só queria
Semear de calo as mãos de plantador
Com minha mãe casou-se assim que pode
Acharam um rancho no jeito e na cor
Da terra boa e semeou o milho
E semeou os filhos, e semeou o amor

De sol a sol, o braço no trabalho
Foi como um laço mas nunca sonhou
Por isso Pedro, nosso irmão mais velho
Foi para bem longe e nunca mais voltou
Mariazinha se casou bem moça
E foi com Bento homem trabalhador
Mas veio um tempo negro em sua vida
Ele garrou na pinga e nunca mais largou

E assim a vida foi-se como um rio
Meu pai dizia, um dia será mar
E toda noite reunia a prole
E tinha cantorias para se cantar
Não era fácil a lida mas valia
Porque um homem precisa lutar
Quando a morte nos levou Rosinha
A mais pequenininha deu prá fraquejar

Uma cegueira triste
Certo dia nos olhos calmos do meu pai entrou
Varreu as cores do seu pensamento
Ele deitou na cama e nunca mais falou
A minha mãe mulher de raça forte
Pegou nas rédeas com as duas mãos
E eu me enterrei de alma na viola
Onde plantei tristezas e colhi canções

Agenda de shows

Agosto
10 – Araguaina – TO;
11 – Caldas Novas – GO;
18 – Campos dos Goytacazes – RJ;
22 – Taubaté – SP;
24 – Uberlândia – MG;
25 – Piraí – RJ

Setembro
13 – Brasília – DF

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