Síria: um grande perigo

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Síria: um grande perigo

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Manifestação contra Bashar Al-Assad, em 6 de janeiro de 2012

O movimento popular sírio está sendo atacado por dois lados. Mesmo tendo-se espalhado, em termos geográficos e sociais, muito mais amplamente que em qualquer outro momento anterior, o movimento que teve origem nos grandes protestos por uma democracia popular passa a servir aos inimigos do povo.

O USA, outros estados ocidentais e seus aliados árabes etiquetam Assad de criminoso que “mata o seu próprio povo”, e isso é verdade. Ao mesmo tempo, embora o eixo Otan-monarquias árabes não esteja, neste momento, bombardeando e metralhando os bairros sírios, ele não é menos desumano e criminoso que Assad ao tentar impor a sua vontade e interesses ao povo sírio.

O movimento pelo derrubada de Assad que rebentou em março de 2011 tinha, a princípio, base nas classes médias baixas, sobretudo nos jovens estudantes e desempregados, operários e trabalhadores rurais. Começou nas cidades de província e em aldeias vizinhas em zonas que se tinham tornado centros de pobreza, em contraste com Damasco, Allepo e as cidades litorâneas, onde estão mais concentradas a riqueza do país e as forças mais repressivas do regime.

Sobretudo depois de o regime ter ordenado ataques das forças armadas contra os bairros e cidades rebelados, os elementos das classes médias e de outros extratos, que antes eram neutros ou mesmo pró-Assad, passaram a se opor ao regime.

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Carro-bomba explode próximo de um escritório de “segurança”

Mas, à medida que as concentrações de massas e as marchas relativamente espontâneas e outras formas de protesto começaram a abrir caminho a um conflito armado mais organizado face à escalada de violência pelo regime, algo de diferente começou a surgir.

Muita gente pode ter ficado satisfeita por o movimento não ter nenhum objetivo claro além da queda de Assad, mas a militarização do conflito levantou inevitavelmente outras questões. Questões de estratégia, de tática, de como lutar e onde obter armas e outros bens só podem ser respondidas tendo em conta os objetivos políticos da guerra. Algumas pessoas alegam que, uma vez que o movimento popular não poderia derrubar o regime sem armas, não houve outra escolha a não ser aceitar armas seja lá de onde pudessem vir. Mas essas armas e outras formas de apoio, acima de tudo, visam servir aos objetivos políticos, principalmente, do imperialismo ianque, embora nisso também estejam envolvidos outros Estados e interesses reacionários.

No início essas forças estrangeiras encontravam sérias dificuldades para intervir na Síria. O chamado Conselho Nacional Sírio, formado por opositores do regime de Assad no estrangeiro, cuja liderança é sustentada pelo imperialismo ianque, francês e britânico, tentou se valer da revolta popular para forçar o regime a um compromisso de partilha de poder. Apesar de todo o apoio as potências imperialistas, tal Conselho não tinha qualquer influencia entre o povo sírio.

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Soldados do “Exército Livre da Síria”

Com o desdobramento da situação política no país, o chamado Exército Sírio Livre – FSA, que emergiu ao lado do movimento de massas à medida que os soldados do exército reacionário abandonavam as suas unidades e regressavam às suas aldeias e bairros, passou também a sofrer influência das potências imperialistas, que pretendem moldá-lo como braço armado do Conselho Nacional Sírio.

O jornal The New York Times noticiou, em várias ocasiões, que instalações na Turquia da Agência Central de Inteligência ianque, a CIA, vem “selecionando os combatentes [sírios], recebendo-os e trabalhando com agentes do Departamento de Estado [do USA] na tentativa de unir os combatentes aos dirigentes políticos de dentro e fora do país”.

O governo Obama impõe sérias sanções econômica à Síria, mas autorizou o envio de dinheiro através do Grupo de Apoio Sírio, um autoproclamado canal de ajuda ao FSA, assim como fornece armamentos, medicamentos e “ajuda humanitária”. Todo esse trabalho é coordenado pelo Vice-Secretário de Estado ianque William Burns, que trabalhou no planejamento da fase pós-invasão do Iraque em 2003. Ainda segundo o New York Times, o Pentágono e o Departamento de Estado ianque já estudam como governar a “Síria pós-Assad”.

As potências imperialistas ocidentais violam seus próprios embargos de armas à Síria – criados para forçar a Rússia a aceitar um embargo às suas próprias remessas para o regime de Assad – e tentam explicar isso com o argumento de que como o USA e seus aliados representam a “democracia”, tudo o que eles fazem é automaticamente “humanitário”. Ao mesmo tempo em que protestavam pelo fato de a Rússia tentar usar o Conselho de Segurança da Onu para proteger o regime de Assad de acordo com seus interesses, o USA, a Inglaterra e a França tentavam forçar o mesmo Conselho de Segurança a aprovar uma resolução para permitir maior intervenção militar contra a Síria.

A Rússia tem apoiado a Síria simplesmente porque não quer perder seu domínio, na medida em que os ianques avançam suas garras sobre a região. A Rússia e USA concordam com a posição de remover Assad, mas deixando intactas as forças armadas e o velho aparelho de Estado.


Mais de 4 mil mortos em agosto

Nas últimas semanas, o imperialismo ianque, agindo conjuntamente com Inglaterra, França e Israel, intensificou o seu chamado “apoio humanitário” com o fornecimento de operativos de inteligência e os “meios para a aquisição de armamentos”, medicamentos e suporte logístico para o “Exército Livre da Síria”.

Essas ações do imperialismo se dão justamente no período mais sangrento do país desde março de 2011, quando explodiram os gigantescos protestos populares na Síria.

Segundo dados divulgados pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos, mais de 4 mil pessoas foram mortas e dezenas de corpos não identificados foram encontrados nos locais bombardeados pelas forças armadas do regime e pelos chamados “rebeldes”.

Também em agosto, foram divulgadas imagens de “rebeldes” lançando corpos do alto de prédios em Al-Bab, norte de Aleppo, perto da fronteira com a Turquia.

As denúncias veiculadas pelas agências internacionais dão conta de que as forças aéreas da Síria têm executado bombardeios nas áreas consideradas “redutos rebeldes”, deixando muitos de mortos e feridos entre a população. Um desses ataques aéreos, feitos na cidade de Azaz, cuja população é de 70 mil habitantes, próximo à fronteira com a Turquia, deixou centenas de mortos.

Bombardeios das forças armadas da Síria e enfrentamentos entre as forças do governo contrárias ao regime nas localidades de Ain Tarma, Zamalka, Saqba e Kafr Batna deixaram, segundo a Agência Efe, dezenas de mortos e feridos.

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