Em um mundo controlado pelos monopólios e mediado pelo capital financeiro, até as doenças viram alvos de especulação. O noticiário corrente sobre a chamada gripe suína, por exemplo, funciona como crônica das altas e baixas nas cotações em bolsa dos grandes laboratórios do farma-cartel, para quem o alerta de pandemia emitido pela Organização Mundial da Saúde no início de junho significou um alento no exato instante em que o declínio das ações de farmacêuticas, ao lado das de bancos, puxavam as mais significativas baixas das bolsas de valores européias.
A Novartis, mega-companhia suíça do ramo, anunciou a produção do primeiro lote de vacinas contra o vírus H1N1 apenas um dia depois de a OMS elevar o nível de alerta sobre a nova gripe para o máximo, e viu o valor dos seus papéis disparar na bolsa de valores de Nova Iorque. Todo o setor farmacêutico europeu inverteu a tendência de desvalorização nos mercados financeiros depois que, além da Novartis, a francesa Sanofi-Aventis, a britânica GlaxoSmithKline e a belga Solvay sopraram às bolsas que esperam concluir a elaboração de vacinas contra o H1N1 antes da chegada do inverno do Hemisfério Norte. Outra farmacêutica suíça, a Roche, também se valorizou depois de especular com o remédio que até aqui vem sendo usado para tratar a gripe suína, anunciando de que iria estocar o antiviral Tamiflu "para ser distribuído aos países em desenvolvimento".
O alarmismo com uma doença de fácil contágio, mas com taxa de mortalidade de apenas 0,4% é um insulto às 500 mil pessoas que morrem todos os anos no mundo inteiro em razão de complicações decorrentes da gripe comum, a maioria idosos que não têm acesso a cuidados médicos adequados ou à profilaxia doméstica necessária. Destas vítimas, 36 mil morrem todos os anos no USA, cuja administração castiga o povo com um sistema de saúde assassino, que pratica extorsão no lugar de medicina.
Os parasitas que se amontoam nas gerências do Estados burocráticos vão arrancando os cabelos com uma doença que, apesar das especulações quanto à sua gravidade, circula em aeroportos, hotéis de luxo e estúdios de televisão tanto do norte dominador quanto do sul oprimido, em vez de ficarem restritas aos guetos, subúrbios e favelas das semicolônias. Em vez de informarem o povo com honestidade e chamarem as massas para um esforço coletivo de controle da nova gripe, esmeram-se em tergiversações que têm como parâmetro as razões eleitoreiras, e como objetivo não deixar a popularidade cair.
Vide o ministro brasileiro da Saúde, o Temporão, dizendo em rede nacional que a situação no país está controlada, cinicamente usando a mesma frase para falar de sete ou setecentos casos confirmados. Por outro lado, as gerências da Argentina e do Chile, por exemplo, atendendo aos apelos do empresariado que atua no setor de turismo, vociferam contra as recomendações de outros países, aquelas no sentido de que as viagens para estes destinos sejam evitadas em razão do alto grau de infestação. Enquanto isso, para o povo sobra desinformação.
Presidente Mao ensina: a revolução faz bem à saúde
Enquanto uns lucram e outros se esmeram na demagogia, enfermidades milenares como a malária, a tuberculose e a esquistossomose continuam assolando as classes populares nas semicolônias, ou mesmo em nações como a China, cujas forças capitalistas hegemônicas nutrem pretensões imperialistas enquanto oprimem e exploram as massas, usando mão de ferro para dificultar-lhes a luta por emancipação, impondo-lhes imensas dificuldades para o desenvolvimento do processo revolucionário, perpetuando e agravando condições precárias de trabalho, habitação e saúde.
Lá, a esquistossomose voltou a se tornar um flagelo, 50 anos depois de o Presidente Mao Tsetung, à frente da China revolucionária, ter comandado a elaboração e a execução de uma ampla e exitosa estratégia de erradicação dos caramujos, hospedeiros do parasita causador da doença. Em uma década de mobilização popular, conseguiu-se reverter um quadro de 12 milhões de portadores do verme Schistosoma japonicum. Hoje, entretanto, após o fim da revolução e depois de anos de restauração capitalista, há aldeias chinesas com 90% de sua população infectada. Números oficiais de 2004 dão conta de 726 mil casos de esquistossomose, sendo que projeções independentes apontam para um número muito maior, ainda que desde 1980 exista o remédio anti-helmíntico Praziquantel. A situação tende a piorar agora, em meio à atual crise do capital, quando milhões de chineses desempregados estão voltando para o campo, aumentando a população das áreas atingidas (lugares perto dos rios e lagoas novamente infestados de caramujos). A ignorância sobre a doença e sobre a maneira correta de tratá-la é altíssima.
Algo muito diferente dos tempos das campanhas de larga escala contra a esquistossomose, das patrulhas anticaramujo, da drenagem periódica de todos os canais contaminados, da remoção e queima das margens infectadas pelo parasita, das táticas inspiradas na história das vitórias passadas da Guerra Revolucionária, da confiança no poder, no empenho e no conhecimento do povo para vencer a guerra contra o molusco.
No relato de suas experiência na China Revolucionária como cirurgião, professor e médico de campo, o britânico Joshua S. Horn percebeu durante aquela luta contra a "doença invencível" a importância de uma liderança democrática e da participação direta e entusiasmada das massas no trato dos males públicos:
"Esse foi um ponto em que a política e a medicina preventiva se harmonizavam, a primeira operando como uma vanguarda, já que um esquema de tais proporções não teria êxito sem a liderança do Partido e o apoio ativo de milhões de pessoas, sem um perfeito planejamento estratégico global".
Atualmente, o máximo que os dirigentes revisionistas entocados em Pequim conseguem fazer contra a esquistossomose é mandar espalhar placas de "Perigo! Não toque na água", ou substituir búfalos, uma das muitas fontes de infecção, por tratores no transporte de cargas. Isso mostra a total incapacidade e desinteresse dos Estados burocráticos para atacar de frente os problemas de saúde pública. Nove em cada dez pessoas com esquistossomose estão na África, onde o mal agrava uma outra tragédia: os doentes ficam mais susceptíveis à infecção por HIV. Reverter esta situação não é possível sob a dominação do capital, o que equivale a dizer que as tarefas revolucionárias dos trabalhadores do campo e da cidade são, além de tudo, e como o presidente Mao mostrou, uma urgência de saúde pública.