Grupo brasileiro de percussão corporal, criado em 1995 pelo músico paulistano Fernando Barba, o Barbatuques mostra que a música pode estar em cada pessoa naturalmente. Tendo como tema central sons gerados unicamente através do corpo, vem desenvolvendo pesquisas, oficinas, palestras e apresentações em São Paulo — sua "sede" — pelo Brasil e países como Líbano, Rússia, Colômbia, França e USA. Com quatorze componentes fixos, o grupo, através de batuques e algumas vezes voz, valoriza a cultura brasileira no palco, e mostra a importância da coletividade.
O Barbatuques surgiu de uma maneira espontânea, natural, a partir do momento em que seu criador resolveu levar a sério as brincadeiras que fazia desde a infância, produzindo sons com palmas, batidas no peito, estalos com os dedos, com a boca, fazendo músicas dessa forma.
— Ainda moleque, fora meu interesse por música instrumental tocando instrumentos de cordas, tinha um gosto forte por batucar, sendo o som gerado no meu próprio corpo o que eu mais gostava, até por estar conosco todo o tempo, diferente dos objetos: tomando banho podemos batucar e assim por diante. E isso começou a virar uma mania e contagiar meus amigos. Mais tarde entrei para a faculdade de música na Unicamp, e conforme fui me desenvolvendo, também fui me aprimorando nos batuques — conta Barba.
— Não estudei percussão corporal na universidade, mas o ambiente favoreceu para o desenvolvimento nessa área, e quando voltei de Campinas para São Paulo, já formado, abri uma escola de música com amigos, e tive a oportunidade de fazer uma oficina de percussão corporal, apresentando o que já tinha reunido. Isso foi atraindo gente, até o momento que resolvemos nos reunir para fazer um repertório e nos apresentar, nascendo assim o grupo — explica.
— Mas esses batuques que fazemos não são invenções nossas, eles sempre existiram, fazem parte do cotidiano do povo, que batuca na caixa de fósforos no bar, ou na mesa do escritório, e está presente em várias culturas. O que fazemos é pesquisar e aprimorar manifestações populares, batuques de toda parte do mundo, e ritmos como o xaxado, o coco, a catira, referências de músicas tribais, tradicionais e contemporâneas — continua.
O nome Barbatuques veio do seu próprio apelido ‘Barba’. Na verdade seu sobrenome é Barbosa e quando uma das pessoas do grupo brincou com as palavras ‘batuque’ e ‘barba’, todos gostaram. Fernando faz a direção musical do grupo, mas deixa claro que se trata de um trabalho coletivo.
— A coletividade é um dos componentes principais para nós, que temos que tocar ouvindo o que o outro está tocando e buscando com ele uma perfeição. Desta forma o tocar em grupo passa a ser uma referência mais importante que o individualismo, e a pessoa vai comprando a idéia dos companheiros e juntando as suas, e assim vice-versa, recebendo algo de todos, e dando algo para todos, porque se um falhar ficará uma lacuna, à medida que todos são importantes para a construção do espetáculo — fala.
— Creio que faz bem ao homem conhecer melhor a si próprio, física e mentalmente, e a partir daí enxergar os outros, descobrindo como é o som da sua palma, seu timbre de voz, suas características e os seus desejos e imaginário, valorizando sempre as diferenças, não buscando uma unidade padronizada em que todos sejam iguais, mas buscando se conhecer como indivíduo para formar com muitos outros o sentido de sociedade onde todos buscam o bem coletivo, assim é no palco e também deve ser na vida — conta.
Público participa
O grupo sempre interage com o público, mas normalmente não chama ninguém para o palco, e sim propõe gestos e movimentos, sons que as pessoas fazem de onde estão.
— Isso tem uma força muito grande, porque amplifica e dá sentido ao espetáculo, porque uma pessoa batendo no peito, por exemplo, é uma coisa, mas duzentas pessoas, ou mais, fazendo isso têm um efeito muito especial, e mostra que a união de muitas pessoas faz diferença. Esse comportamento tribal de estar com outras pessoas, batendo palmas, cantando, é muito importante. E por essa interação é comum ver as pessoas, no final do show, saírem batucando pelo saguão (risos) — diz Barba.
Além de todos esses aspectos de reflexão e valores, esse trabalho traz uma coordenação motora muito boa, quando se consegue associar movimentos de pés, mãos e voz, estimulando o corpo a funcionar melhor, uma espécie de atividade física saudável e completa.
— Esses movimentos servem para resgatar um pouco a leveza da infância, que é trocada pelas opressões do dia a dia, que enfraquecem o corpo e massificam a mente. Ele ajuda a acabar com a robotização do homem, cada vez mais sedentário. Muitas pessoas da área de dança, teatro, terapia corporal, medicina, psicologia e outras nos procuram dispostos a conhecer um pouco mais esse recurso, para somar aos vários outros que já conhecem, e ter uma dinâmica para poder trabalhar em grupo — conta.
— Atualmente nossos espetáculos têm um olhar para elementos musicais, preparação corporal e uma direção cênica, porque não é uma coreografia o que fazemos. E com todos esses cuidados ficou sofisticado, embora traga uma simplicidade que é o corpo fazendo músicas, cantando, sapateando. E independente de saber de onde vem o som, a pessoa sabe se lhe agrada ou não, e às vezes fica surpresa quando descobre que não vem do instrumento que ela imaginou e sim do corpo natural — fala Barba.
— Até o momento gravamos dois CDs e um DVD, e esses dois discos foram um desafio importante para nós, porque a pessoa só ouve os sons e não vê os gestos, que são importantes para mostrar de onde estão vindo. Consideramos que o nosso espetáculo tem uma importância visual grande, mas esses CDs mostraram para nós mesmos que realmente somos um grupo musical. Já o DVD tem uma importância grande para os educadores que usam o trabalho como referência em salas de aulas, ou como ferramentas em aulas de educação física, poder mostrar para seus alunos a parte mecânica — diz Fernando acrescentando que o CD foi distribuído no exterior e já foi usado até em olimpíada, para sonorizar nado sincronizado e ginástica rítmica.
Os CDs e DVD foram feitos totalmente independentes, e estão sendo distribuídos pela gravadora MCD.
— Tudo que fazemos até agora foi com recursos próprios. Desenvolvemos e aperfeiçoamos um show que foi o Corpo do som, e já viajamos com ele para vários países. Estreamos em março um novo espetáculo, que é o Indivíduo corpo coletivo, e pretendemos rodar com esse show para estados brasileiros, porque temos conseguido ir mais para o exterior, influenciando inclusive na formação de grupos por lá, do que nos apresentar no nosso próprio país, isso porque não contamos com verbas e ajudas para turnês, mas estamos lutando para isso — finaliza Fernando Barba, avisando que para quem quiser conhecer melhor o grupo o sítio é: www.barbatuques.com.br .