Subjugação nacional e repressão: O que a turma do Bush Maluco deixou por aqui

Subjugação nacional e repressão: O que a turma do Bush Maluco deixou por aqui

Bogotá
Bogotá

O monopólio fascista da imprensa cuidou de orientar não apenas setores beneficiados pelos negócios imperialistas no Brasil e na América Latina, assim como as camadas vacilantes (e sua expressão ideológica, o oportunismo), passando pautas para a sua base social interna e a direita autêntica — incluindo a falsa esquerda.

Mas a primeira iniciativa do monopólio da imprensa foi o de esvaziar as informações (em detrimento, além das massas trabalhadoras, da parte passiva e majoritária de sua própria clientela), sobre a agenda dos bandidos enviados pelo sistema de Estado e de governo do USA ao Brasil, Uruguai, Guatemala, Colômbia e México — de 8 a 13 de março. Era indispensável, durante a estadia, ocultar a essência das reuniões promovidas pela comitiva, sem contudo lançar qualquer suspeita sobre as garantias dos negócios estabelecidos com os imperialistas em nosso país.

A mais descarada contra-propaganda e suposições desorientadas inundaram não só os jornais fascistas como as análises de vários setores da “esquerda”, em particular durante o périplo da comitiva pela América Latina.

Pelo sim e pelo não, a viagem de Bush precisava ser “explicada” na imprensa fascista, antes que o povo a entendesse. E mais do que a indesejada estadia — também para confundir as massas e assegurar o prestígio do circo falido — versões que distorcessem o caráter das manifestações antiimperialistas que tiveram curso no período se faziam necessárias.

Daí que a imprensa fascista buscou assegurar a imagem de autoridade, tentando nos impingir que:

1 Bush não é um subordinado dos grandes bandidos que governam o USA e o mundo, mas o chefe desses magnatas;

2 Luiz Inácio, igualmente, não é gerente, preposto colonial etc., mas governante saído de duas eleições democráticas, com total poder decisório.

3 é inteiramente desnecessário tratar nesses encontros de devolução e indenizações aos saques, pilhagens e destruição do imperialismo ianque na América Latina — que remontam mais de 100 anos;

4 muito menos deve haver qualquer comentário sobre a crise sem precedentes que acomete o sistema imperialista no mundo, ao qual resta viver apenas de tráfico de drogas, guerras de rapina, matança e corrupção. [E essa crise se reflete, em particular, no campo, levada pelo capitalismo burocrático]

5 não se deve prestar contas que os encontros paralelos — os mais importantes — trataram de implantar consultas semestrais entre representantes do sistema de estado do USA e Brasil. Por enquanto estabeleceram: financiamentos para latifundiários — ver monopólio no plantio de cana e intervenção de empresas testas-de-ferro na compra apressada da Ipiranga pela Petrobrás, Brasken (Odebrecht) e Ultra e de investidores gringos —; militarização do país; apologia do terror; instigação de ódio nacional para acirrar problemas fronteiriços; crescimento da organização de ronderos paramilitares (milícias) na cidade e no campo; investimentos para guerras de agressão; táticas de repressão e carceragem; política ilegal de extradição (esta última, prontamente atendida, quando no dia 18 de março foi sequestrado o italiano Cesare Battisti, há longos anos no Brasil, acusado de ter pertencido às Brigadas Vermelhas, na Itália, década de 70); — ao que não faltaram leis de exceção na área trabalhista.

6 que apenas vieram tratar do uso de combustíveis e o “governo” brasileiro simplesmente aguarda por definições sobre padronização internacional (indispensável o aval do USA) quanto ao uso e distribuição, enquanto que o produto escolhido, à maneira do petróleo, soja etc, será mais uma commodity [que ótimo], como tal, cotada na Bolsa. Que o álcool (se preferido) passou a ser moeda de troca, não importando que espécie de troca há entre metrópole e colônia.

7 nada melhor que o prestigiado USA para bancar (pouco importa o que, como sempre, nós é que pagamos esses financiamentos ianques), agora, as usinas de álcool. Nesse caso, o imperialismo quer ser chamado de (mais indecente que programação televisiva da Globo!) parceiro.

8 de passagem, a imprensa fascista deve permanecer afirmando que Chávez (um dos “inimigos de palha” do governo ianque) é dirigente independente e insubmisso (apesar de entregar toneladas de petróleo crú ao USA, religiosamente), e que os ianques tentam neutralizá-lo caindo nas graças de Luiz Inácio. Nessas condições, ninguém sabe para que serve, exatamente, ao USA cair nas graças de um subalterno do USA;

9 igualmente não cabe mencionar que o imperialismo ianque — embora detendo a hegemonia entre as demais potências — trata de fortalecer o sistema colonial e semicolonial na América Latina, sua retaguarda estratégica;

10 Bush aproveitou o ensejo da campanha oficial de combate ao que os ianques chamam de “anti-americanismo” para fazer seus negócios particulares e retornar (ao lugar onde perde prestígio diariamente), aventando ter recebido abundantes elogios e otimismo.

11 a mensagem plantada pelo monopólio dos meios de comunicação sugeria que o USA houvesse abandonado a América Latina [quem dera] e a comitiva veio provar o contrário: cargueiros ianques entrarão livremente em águas nacionais da Guatemala, Panamá, Nicarágua, El Salvador, Peru, Equador e Colômbia para atender à “população carente”. Equipes médico-militares em inúmeros exercícios já são realizados em 14 territórios nacionais. Um programa de US$ 75 milhões “ajudará jovens a melhorar o seu inglês e estudar no USA”. O imperialismo ianque está investindo em empreiteiras cerca de US$ 485 milhões a pretexto de programas de habitação no Brasil, México, Chile e América Central e acaba de convocar quadros contra-revolucionários, através de ONGs, para discutir e “proporcionar ajudas à sociedade civil” na América Latina.

12 sobre a fixação do imperialismo na área das Três Bandeiras, o USA suspeita que a região de fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai — onde é grande a colônia de árabes — é ninho de recursos materiais para organizações radicais islâmicas como o Hezbollah [o Hezbollah é que leva a fama de terrorista!] libanês. Relatórios do governo ianque sobre criminalidade no continente invariavelmente citam a região, apesar de o Brasil afirmar que não há provas de dinheiro ilegal da fronteira para o Oriente Médio, embora o serviço de delação tenha sido intensificado.

São Paulo
São Paulo

Convertidos de ultima geração

Apesar de seu cinismo, Clifford M. Sobel, embaixador do USA no Brasil, não conseguiu desconversar tanto quanto os quadros da colônia especializados em contra-propaganda. Para argumentar, clamou pela ajuda dos convertidos internos.

Ainda quando, em março, escreveu para uma edição dominical de um jornal paulista que a permanência de Bush no Brasil “enfatizará o compromisso dos EUA com o hemisfério ocidental e destacará nossa agenda comum para fazer avançar a liberdade, a justiça social, a saúde, a educação e as oportunidades econômicas” [??!!], não ficou na dianteira dos submissos da colônia que, no mesmo período, conseguiram proferir bajulações com muito mais ênfase. Isso é um fato, ao menos até o momento em que o embaixador se obrigou a usar da franqueza como “atingir nossa meta comum de um hemisfério seguro, próspero e democrático“. Quer dizer, respectivamente: fascista, atrelado à tecnologia imperialista e colonial.

A estranha diplomacia de Sobel permite afirmar publicamente que o sistema político vigente no USA e na colônia brasileira se constituem nas “duas maiores democracias do hemisfério“. E se as demais gerências das colônias e semicolônias não se sentiram ultrajadas com essa comparação — de que ambos os países dispõe de regime político cujo poder pertence ao povo, que seus cidadãos são livres e iguais — é porque dentro dos outros países o USA fala o mesmo. Mas o que preocupa é o que está em andamento para privar todos os povos da acanhada liberdade de hoje.

Concluiu o embaixador que as portas foram abertas [as de nosso país, a de todos os cofres públicos e privados, desde 1964, estão escancaradas para o imperialismo] e, a partir de agora, outras autoridades de primeiro escalão visitarão o Brasil para “aprofundar nossas relações“.

Além do mais, diz que, juntos [vade retro!], a metrópole e a colônia brasileira são “responsáveis por 70% da produção de etanol”.

Voltando ao álcool. Já conhecemos o que nos deixou o ciclo da cana: destruição da Mata Atlântica, desertos. A cana — exatamente num país que desconhece a agricultura racional, diversificada, nacional e democrática —, consome vastas extensões de terra. Não compensa para o pequeno proprietário, nem para a economia verdadeiramente nacional, mas para as oligarquias latifundiáriárias ligadas ao imperialismo, as mesmas que estão negociando áreas para o plantation. Castro recusou-se a produzir álcool para tal finalidade porque seus técnicos concluiram de pronto que Cuba inteira não teria terras suficientes ao plantio de tanta cana destinada à produção de álcool combustível, ainda que para consumo interno.

Em nosso caso, que relações de produção são contraídas nessas propriedades descomunais onde o bandido latifundiário ganha o nome de usineiro, em seguida [que falta de compostura!], de herói? Vão das relações de produção semi-feudais às relações escravagistas. E para onde se dirige esse plantio? Para a Amazônia, não é cara-pálida?

Consulado ianque — Rio de Janeiro
Manifestação na Avenida Paulista — São Paulo

Bush visitou Bush

O império exige isenção de impostos para ele, aqui, mas não abre mão da cobrança de tarifas para o ingresso do mesmo produto brasileiro, lá. Por que “parceria”?

Por que o imperialismo ianque não recupera o solo em regiões de clima quente — aquelas que ele tomou do México — e passa a plantar cana por lá? Porque podem usar e roubar terras dos outros, no mundo inteiro, especialmente na América Latina.

As oleaginosas não nos trariam tantos problemas. Haveria mais combustível por menos terra ocupada. O produto é uma fonte praticamente inexaurível, facilmente transformado em comestíveis, em combustíveis etc. Além do mais, elas não danificam a terra.

Mas se a questão fosse realmente opção entre etanol e biodiesel, o determinante seria sempre: em que mãos ficará o monopólio dos meios de produção, incluindo o do combustível escolhido — em mãos do imperialismo e dos latifundiários, além de outros especuladores nativos por um lado, ou do povo brasileiro?

A questão fundamental é que os projetos imperialistas são imperialistas. Pagaremos royalties aos gringos por propriedade intelectual, pelo plantio, transformação e transporte em nosso próprio país, pelo uso seja lá de que produto for, e demais chantagens; serão liberadas incontáveis vantagens para o latifúndio; nos ocuparemos menos ainda de produção alimentar e nos encherão de obrigações para sustentar os gringos (de dentro e os de fora) com matérias-primas e superlucros.

Os produtores de milho no USA — de onde eles extraem o etanol, cuja produção é 30% mais cara —, recebem subsídios e exigem sobretaxação do álcool importado. Aqui, os cofres públicos darão subsídios aos latifundiários nativos, que nas colônias é sempre algo muito lucrativo, uma espécie de restituição do saldo negativo resultante da cotação (que o império faz baixar constantemente) de um produto exportado das colônias e semicolônais.

Esse é o hemisfério “seguro, próspero e democrático” que sempre nos prometem seus projetos criminosos.

Do império, nem parte de seus lucros nos interressam, porque eles são feitos de destruição da economia dos demais povos, de pilhagem, de genocídio; de fascismo, numa palavra.

Não surpreende que o imperialismo tenha a petulância de prometer reduzir a estrutura econômica e política de nosso país à condição de Arábia Saudita, tampouco que ele mande os diretores da sua imprensa tecer elogios ao status de protetorado como é tratado o Brasil.

Quanto a “encher a bola” de Chávez, isso tem duplo significado. De fato, o império encontra-se comodamente instalado na sua retaguarda estratégica, a América Latina. Mas o imperialismo precisa manter a ilusão de que, de uma maneira geral, há 34 governos independentes do USA, sendo alguns de oposição. Aliás, 34 governos aparentemente sem caráter de classe, ou seja, como se não houvesse classes dirigentes servindo de apoio social interno ao imperialismo em cada um desses países, tampouco classes exploradas. Talvez, por isso, ano a ano, esses 34 Estados vêm recebendo o status de Estados anexados.

Sobre o vigoroso movimento de massas da Venezuela — para contê-lo é que Chávez existe não se dá uma palavra. Os partidos oportunistas, dirigidos pelos cartéis de megapelegos com representantes como Luiz Inácio, Morales etc., além de outras personalidades que têm histórico nos diferentes ramos de traição, cumprem a mesma finalidade — evidentemente depois que as ditaduras militares latino-americanas, por mais de 20 anos, promoveram o assassinato seletivo e sistemático das verdadeiras lideranças políticas, sindicais, culturais etc.

Também é verdade que a falsa esquerda prefere concentrar suas críticas hipócritas (sempre se manteve assim) na figura que o imperialismo escala como vilão de turno. Obedientes, os cartéis oportunistas não poupam xingamentos quando, cuidadosamente, evitam desmascarar o sistema e suas instituições, como se o determinante fosse o preposto. Assim, evita-se explicar o papel do gerente da metrópole, o das gerências subalternas dos 34 países, como o caráter de classe do poder, com todos os seus envolvidos e respectivas reponsabilidades, enquanto cumprem admiravelmente os papéis que lhes foram incumbidos pelo mesmo poder. Tudo, como se as “agências reguladoras” e conexões semicoloniais (diretamente dirigidas pelos enclaves imperialistas) nesses países não fossem o verdadeiro comando econômico e político.

Os discursos oposicionistas servem apenas para compensar a ausência da oposição — por falecimento nos cárceres durante décadas de gerência militar e por intermináveis acordos colaboracionistas —, assim como controlar a pressão do pulso (greves, movimentos reivindicatórios no plano das liberdades democráticas etc., etc), assentada no processo eleitoreiro e nas organizações de controle.

 

Ocultam agentes e intenções

Consulado ianque — Rio de Janeiro

 

A maneira com que os grupos representantes da imprensa imperialista operante no Brasil confessam, um dia antes da indesejada visita, que veículos, combustíveis, alimentação e até mesmo água, vieram do USA — afora helicóptero, automóveis selados e blindados, com visão noturna etc, além do acompanhamento das três forças que compõem o US Army — é decididamente cínica. Mas omite, por exemplo, que as autoridades nativas tradicionalmente são submetidas a mais rigorosa revista pelos capangas estrangeiros, sempre que se aproximam dos representantes do governo ianque.

Cerca de 500 capangas em trajes civis, com diferentes níveis de periculosidade, acompanharam Bush, enquanto que o contingente nativo, à disposição do gerente imperialista, chegava a 4 mil homens [embora reclamem do contingente permanente disponível para conduzir Beira-Mar de cadeia em cadeia]. Isso todos sabem. O problema é que essas atividades já existiam desde alguns dias que precederam a chegada dos gerentes da metrópole.

Da fauna de “acompanhantes” presidenciais nos seis dias de despachos do poder ianque pelos quatro países latino-americanos, a imprensa imperialista destacou apenas alguns conhecidos auxiliares: a provocadora Condoleeza Rice, que figura como secretária de Estado; Susan Schwab, que aparece como secretária do escritório ianque de comércio exterior; Thomas Shannon, nomeado para envolver-se nos assuntos internos da América Latina na função de secretário adjunto do Departamento de Estado; Gregory Manuel, encarregado da política imperialista de energia e conselheiro do Departamento de Estado. Por fim, a inocente Laura Bush.

Dificil imaginar que tivesse vindo alguém sem qualquer vínculo direto com a Gestapo ianque, ao contrário do que diz a rede facista de imprensa que atua em nosso país, orgulhosa porta-voz da CIA.

Desforço de guerra

A periculosidade da comitiva foi muito mais além, no entanto. Um mês antes, tinha chegado o Procurador-geral, um tal Alberto R. Gonzáles. Defensor da pena de morte, ele aprecia ser chamado Cavaleiro da tortura. Gonzáles é autor de um memorando secreto que autorizou a prática de tortura em Guantánamo e em Abu Ghraib. Veio especialmente para discutir questões referentes ao que eles chamam de narcotráfico e de terrorismo [sendo que o USA é, hoje, o maior governo terrorista, o maior traficante de armas e o mais interessado no tráfico de drogas do mundo], além do novo funcionamento de carceragem. Na bagagem, também esqueceram de citar o sub-secretário ianque para Assuntos Políticos, Nicholas Burns.

Enquanto preparavam o “jogo para platéia”, antes e durante a permanência do imenso contingente de ianques, sucederam-se reuniões voltadas para as questões de segurança do império e seus negócios, incluindo colaboração e instalação de “mecanismos de consulta” entre os estados brasileiros e USA, espionagem e repressão contra as colônias árabes na área da tríplice fronteira — Brasil (Paraná, pelo lado brasileiro), Paraguai e Argentina.

Houve também uma reunião na residência do embaixador ianque, onde estavam presentes os governadores de alguns estados: Sérgio Cabral (RJ), Jaques Wagner (BA), José Roberto Arruda (DF), Eduardo Campos (PE), Cid Gomes (CE) e Yeda Crusius (RS).

Tutti buona gente…

Se a comitiva completa não foi à Argentina, alguns de seus quadros estiveram por lá, tratando de assuntos idênticos. O tal Gonzáles — esteve em Buenos Aires nos dias 7 de fevereiro, e dia 8, do mesmo mês, no Brasil. — é um ideólogo das torturas, “alter ego judicial de George Bush” e interpreta leis de conveniência do seu chefe.

Filho de mexicanos, a carreira de Gonzáles é toda ela feita junto à quadrilha de George W. Bush. Quando secretário de Estado do Texas, na administração Bush Maluco, raras vezes atendeu aos pedidos de clemência dos condenados à morte, chegando a omitir informações que poderiam ter salvo a vida de alguns presos. Durante a mesma administração no Texas, aquele estado aplicou a pena de morte como nenhum outro estado ianque: 152 casos.

Gonzáles divulga a doutrina de guerra aos povos, lançada pelo USA, afirmando entre outras coisas que, depois de 11 de setembro, “o mundo enfrenta um novo paradigma” e, para isso os direitos civis da Convenção de Genebra se tornaram “obsoletos”. Claro, os termos da Convenção de Genebra, por um lado, não são obsoletos. Ele até os defende quando lembra que a Convenção garante “a proteção aos militares ianques” nas suas ações terroristas.

Uma das missões da comitiva, através de Gonzáles, foi exatamente a de criar estrutura legal para comportar a filosofia e procedimentos do imperialismo na sua retaguarda estratégica, a América Latina, abrindo todos os espaços para o terrorismo ianque.

… e das melhores quadrilhas

De 6 a 9 de fevereiro, além de Gonzáles, outros dois agentes do primeiro escalão do imperialismo ianque estiveram aqui e na Argentina: R. Nicholas Burns e Thomas A. Shannon, Jr. — respectivamente com mandatos de subsecretário de Estado para Assuntos Políticos e secretário adjunto de Estado para o Hemisfério Ocidental. Missão desempenhada: encontros com “lideranças” dos setores público e privado desses dois países destinados a aprofundar cooperação existente para (novamente) manter um “hemisfério mais seguro, próspero e democrático” [?!].

Enfim, tratam apenas de repressão política.

Um terceiro nome na hierarquia do Departamento de Estado, Burns foi representante chefe permanente do USA na organização terrorista OTAN quando os ianques se empenhavam em agredir o Iraque, o Afeganistão e em deflagrar a guerra global contra os povos. Sua carreira foi iniciada no Serviço de Relações Exteriores — na África e no Oriente Médio. Na administração George H. W. Bush (o pai), Nicholas foi diretor de Assuntos anti-soviéticos (depois, russos). Funcionário de carreira do alto escalão do Serviço de Relações Exteriores, entre 1995 a 1997 coordenou todos os programas de convencimento público sobre a política do departamento de Estado, sendo o seu porta-voz. De 1997 a 2001 foi embaixador na Grécia, diretor de políticas anti-soviéticas, atuou nos Bálcãs, fez parte do Conselho Nacional de Segurança.

É um quadro contra-revolucionário tão perigoso que recebeu vários prêmios pelos serviços prestados ao império.

Thomas A. Shannon Jr. Membro do serviço diplomático, foi assessor especial para o presidente no Conselho de Segurança Nacional, serviu como sub-secretário de Estado, onde ocupou o cargo de diretor para os Andes… Foi representante do USA na OEA, diretor de Assuntos inter-americanos no Conselho de Segurança Nacional, conselheiro da embaixada na Venezuela. Já foi assessor especial na embaixada em Brasília.

Bush fascista, você é o terrorista!
Mário Lucio de Paula
Cerca de 23 mil pessoas — no dia 8 de março, em 17 estados brasileiros — foram às ruas para protestar contra a presença da estranha comitiva liderada por George Bush, o gerente dos magnatas ianques no sistema de governo do USA. Enquanto a imprensa da colônia desconversava, os jornais sediados no USA davam grande cobertura ao repúdio manifestado pela presença da comitiva ianque na América Latina, porque estão conscientes que cresce o sentimento antiimperialista no continente, ao que não faltam protestos contra a agressão ao Iraque, Afeganistão, Haiti etc.

Em São Paulo, os confrontos na Avenida Paulista, entre a polícia e cerca de 6 mil manifestantes foram iniciados quando os ativistas buscavam bloquear completamente a avenida. Os ativistas responderam atirando pedras e garrafas contra a polícia que teimava em desrespeitar a ação legítima dos brasileiros em seu próprio país contra aquele que é considerado um dos maiores criminosos de guerra de todos os tempos.

A violência policial obrigou o comércio a cerrar suas portas. A repressão buscou proteger a todo custo a rede ianque denominada Mc Donalds e os diversos bancos ligados ao imperialismo.

Entre as faixas que os manifestantes erguiam, liam-se: Hoje é dia de luta da mulher!; Fora Bush !; Pelas mulheres do Iraque!; e Bush assassino!

Protestos se multiplicaram em São Luis, Goiânia, Salvador e Fortaleza. Em Porto Alegre estudantes e camponeses queimaram bandeiras do USA e um boneco de Bush em frente ao Citibank. A manifestação não poupou o governo serviçal vigente no Brasil, desde o golpe contra-revolucionário e pró-ianque de abril de 1964.

Em Belém, PA, a mobilização contou com 1.500 pessoas e teve como lema Mulheres da Amazônia contra o imperialismo e em defesa de seus direitos.

Na Paraíba e em Mato Grosso, os manifestantes protestaram contra o novo projeto de monocultura de cana-de-açúcar e a tecnologia nacional para a produção de etanol, entregue de presente para o imperialismo ianque.

Em Alagoas, Sergipe, Piauí, Espírito Santo, Distrito Federal e Paraná, também se verificaram manifestações antiimperialistas.

Em Recife, PE, manifestantes queimaram um boneco que representava a triste figura do criminoso de guerra com cartazes que diziam Bush assassino, tire as patas do Iraque! e Viva o Iraque!, além de slogans como Bush fascista, você é o terrorista! Grande aparato foi utilizado pela repressão, mas em todos os momentos os manifestantes responderam corajosamente.

Estudantes do povo contra oportunistas
José Ricardo Prieto
A tarde de 8 de março, no Rio de Janeiro, guardava a mesma rotina de sempre. O calor intenso, natural dessa época do ano é piorado pelo tal aquecimento global, cuja responsabilidade o imperialismo insiste em impingir aos povos da semicolônias. Nada que indicasse ao menos a celebração do Dia Internacional da Mulher Proletária.

Centro do Rio, na Rua São José, conhecida como Buraco do Lume, tradicional ponto de encontro dos movimentos sociais da cidade e que, agora, encontra-se povoado de direções oportunistas. Uma aglomeração prometia promover uma manifestação diante do consulado geral do USA, na Avenida Presidente Wilson.

Bandeiras do PCB, do P-Sol e do PSTU haviam deixado o Buraco do Lume e partiram pela Avenida Rio Branco em direção à Cinelândia. Ali, se encontraram com um grupo de estudantes do Movimento Estudantil Popular e Revolucionário, outro do Grêmio do Instituto de Educação e mais um, da Escola Técnica Estadual República, que se concentravam para a manifestação diante do consulado ianque. O convite das direções oportunistas para se juntarem a elas é prontamente recusado pelos estudantes que seguem separados pelas ruas.

Os seguranças da legação ianque — brasileiros contratados no regime de terceirização — estavam alertados de que haveria uma manifestação pacífica e se contentam em cercar a frente do edifício com cordas enroladas em pequenos obstáculos de concreto, desses que se colocam nas calçadas para evitar estacionamento.

Chegada à frente do consulado, a massa remove sem dificuldade a corda e se aproxima da porta. Os seguranças recuam para as entradas do prédio.

Palavras de ordem despolitizadas são repetidas à exaustão: Chega de bomba, chega de ataque. Fora imperialismo do Iraque! — como se em algum momento o bombardeio sobre o povo iraquiano e as invasões tenham sido necessários e que somente agora deviam cessar.

Tudo terminaria assim, talvez com mais meia hora de envergonhadas considerações sobre o Iraque e xingamentos ao assassino Bush.

Súbito, um comando de estudantes irrompe à frente da manifestação e atira pedras e garrafas com tinta vermelha na fachada do prédio. Os “projéteis” quebraram as vidraças e mancharam o prédio. Ao espanto, se seguiram atitudes típicas dos diferentes atores envolvidos.

Enquanto os estudantes sustentavam suas palavras de ordem, os seguranças do consulado abandonavam a aparente pose de tranquilidade e buscavam desesperados a proteção do edifício providencialmente blindado. Já os que obedeciam às direções dos partidos eleitoreiros imediatamente jogaram seus panfletos para o alto e recuaram, pretendendo deixar bem claro que os sensatos eram eles. A maior parte dos que os acompanhavam passaram-se para o lado dos estudantes, assumindo suas palavras de ordem.

Nas imediações, os transeuntes olhavam orgulhosos os jovens defensores do seu povo e os povos irmãos, como o do Iraque.

Os planos oportunistas são mudados e seu ódio é nítido. Querem agora se dirigir à Cinelândia, mas diante do ousado ataque, parte da massa permanece firme. Diálogos interessantes são ouvidos entre os dirigentes:

— Vamos para a Cinelândia que a polícia está vindo aí — diz um.

— Vamos embora agora! Esses caras sempre estragam tudo — diz uma mulher.

— É, mas agora não adianta. A coisa já está feita — responde outro, ex-candidato pelo PSTU na última farsa eleitoral.

Os estudantes do povo encerram o ato mais fortalecidos, enquanto acorrem populares orgulhosos para perguntar sobre o movimento.

Fim da tarde, os trabalhadores abandonam o centro do Rio para voltar aos bairros proletários. O calor ainda não diminuiu o bastante. Nos tapumes que hoje cobrem a fachada do Museu Nacional de Belas Artes uma inscrição, em grandes letras, diz: Fora Bush assassino! — MEPR.

Bela obra. Com arte. Impossível não ler.

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