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No último dia 4 de abril um farmacêutico aposentado de 77 anos de idade chamado Dimitris Christoulas atirou contra a própria cabeça na praça Syntagma, em Atenas, capital da Grécia, bem na frente do parlamento do país, onde o FMI, a União Europeia e a gerência títere de Lucas Papademos aprovam tudo o que querem e planejam para oferecer as massas trabalhadoras, as empresas públicas e tudo mais em sacrifício para os banqueiros da Europa do capital monopolista, naquela que constitui uma das maiores selvagerias capitalistas da história recente.
Testemunhas do suicídio disseram que, antes de se matar, o aposentado gritou: “não quero deixar dívidas para os meus filhos”. Mas o que incendiou mesmo o povo grego, além do ato de suicídio em frente ao parlamento, foi o teor da carta manuscrita que Christoulas levava consigo, um verdadeiro manifesto de agitação das massas:
“O governo de ocupação de Tsolakoglou aniquilou literalmente os meus meios de subsistência, que consistiam numa aposentadoria digna para a qual contribuí durante 35 anos (sem qualquer ajuda do Estado). Como a minha idade já não me permite uma ação individual mais radical (ainda que não exclua que se um grego tivesse empunhado uma Kalachnikov eu teria sido o segundo), eu não encontro outra solução que não seja uma morte digna, porque me recuso a procurar alimentos no lixo. Espero que um dia os jovens sem futuro empunharão as armas e enforcarão os traidores, como fizeram os italianos em 1944 com Mussolini, na Praça Loreto de Milão.”
Na carta, ao falar no general Tsolakoglou, chefe do governo colaboracionista da Grécia sob ocupação alemã, ele abertamente e acertadamente compara o atual gerenciamento grego à ocupação fascista do país em 1941 e 1942.
A morte do aposentado gerou revolta na Grécia, ainda que o monopólio internacional dos meios de comunicação fale em “comoção nacional”, para suavizar. A notícia do suicídio na praça Syntagma se espalhou rapidamente. A praça se encheu de manifestantes e já naquele mesmo dia à noite aconteceram escaramuças entre a multidão indignada e as forças de repressão.
‘Povo, acorde, pegue as armas!’
Hipocritamente, o FMI, por meio do seu porta-voz, manifestou lamento pelo suicídio do aposentado grego, como se este se tratasse de um caso isolado. Diversos estudos vêm apontando um aumento dos casos de depressão e suicídios na Grécia à medida que o próprio FMI e seus asseclas apertam o nó do arrocho imposto ao povo do país, fazendo explodir o desemprego, a depreciação dos salários e a redução das aposentadorias, a discrepância cada vez maior entre o que as pessoas ganham e o que gastam para sobreviver.
Não satisfeito, menos de uma semana depois do dramático suicídio na Grécia, o FMI ainda “recomendou” a todas as nações do mundo que criem mecanismos para o aumento automático, atrelado ao aumento da expectativa de vida, da idade para se aposentar (ver nesta edição de AND), como que debochando do morto de Atenas.
Da mesma forma, a gerência tecnocrata grega nomeada pelo FMI e pela União Europeia tentou esvaziar o suicídio de Dimitris Christoulas de qualquer significado político. O gerente Lucas Papademos disse, esbanjando ainda mais demagogia do que seus patrões do FMI: “É trágico que um dos nossos cidadãos tenha se matado. Nesses momentos difíceis para nossa sociedade, governo e cidadãos, devemos apoiar as pessoas que estão no desespero”.
Mas não adiantou. Uma árvore próxima ao local exato onde o aposentado tombou morto se tornou um verdadeiro mural de agitação das massas, com bilhetes e cartazes contendo mensagens como “Isto não é um suicídio, é um crime do Estado”; “Assassinado pela ditadura dos credores”; “Nada de eleições, revolução!”; “Povo, acorde, pegue as armas!”.
Um taxista de Atenas ouvido pelo corresponde do jornal britânico The Guardian na capital grega expressou sua revolta com a situação do país manifestando o desejo de que Christoulas tivesse ido ainda além: “Ele deveria ter se explodido no Parlamento e levado quatro ou cinco daqueles criminosos com ele”.
Milhares de pessoas compareceram ao funeral de Christoulas. Na hora do enterro, a filha do aposentado morto classificou a morte do seu pai como “um ato profundamente político” e, como ele, conclamou o povo à resistência.