Nando Cordel nasceu em Ipojuca, no interior de Pernambuco, em uma família de quatorze irmãos. Seu pai era repentista nas horas vagas e tinha o sonho de ver um de seus filhos músico, tentando com todos eles despertar o gosto musical, mas só conseguindo com Nando.
— Comecei a tocar violão, fui me interessando, e com o passar do tempo ele me disse que se eu quisesse realmente ser músico teria antes que estudar outra coisa, me formar, e só então poderia me dedicar a música. Fui para a escola e levei a sério, porque era muito difícil estudar, sendo de uma família muito pobre e sabendo que meu pai se sacrificava bastante para criar os filhos e dar educação. Na época ele trabalhava em um posto de gasolina. Consegui cursar universidade, me formando em publicidade pela Universidade Federal de Pernambuco, e depois dessa batalha toda, tive a permissão para ir à São Paulo e Rio de Janeiro batalhar a minha carreira musical. Estava com cerca de vinte anos de idade — diz.
Nando foi primeiramente para São Paulo, onde passou quase dez anos, depois para o Rio, onde permaneceu por dois anos, sempre batalhando para conseguir um espaço em uma gravadora, e nos meios de comunicação em geral. Isso era final da década de 1970.
— Na época existia um bom número de gravadoras e tínhamos que entrar em muitas para tentar um trabalho. A luta foi arranjar uma dessas para conseguir gravar, e nessa luta passei dez anos de minha vida, e só depois de ter minhas músicas gravadas por outros intérpretes, grandes nomes da musica brasileira, é que consegui gravar meu primeiro disco, em 1983 — lembra.
Tudo começou a melhorar para Nando quando foi visitar uma gravadora, em São Paulo, na esperança de ser aceito, e lá conheceu Guadalupe, a esposa do acordeonista Dominguinhos.
— Ela me apresentou para Dominguinhos e sugeriu que poderíamos gravar algo, já que ele escrevia muita música e eu muita letra. Ele gostou da idéia e nesse dia surgiu a nossa primeira música, que foi um grande sucesso, chamada Isso aqui tá bom demais, que depois Dominguinhos gravou também em dueto com Chico Buarque — conta.
A segunda música da parceria com Dominguinhos foi a de maior sucesso, De volta para o meu aconchego, e outras vieram, sempre gravadas por nomes importantes da música brasileira.
— Gosto disso porque me dá liberdade de fazer tudo o que quero, e não ficar preso a uma linha, algo que nunca desejei. Comecei fazendo uma composição que é quase um frevo, com Dominguinhos, depois fiz forró, e assim prossegui. Hoje faço todo tipo de música, incluindo instrumental — confessa.
Nando crê que tenha cerca de quinhentas músicas ao todo, gravadas por ele ou por outros artistas, bem como CDs instrumentais, de samba e choro, e mesmo quando está compondo por encomenda, tem a consciência de seleionar grupos e artistas.
— Se chegar uma banda que só toca música ruim, modismos, nada de qualidade e me pedir uma música para gravar eu não faço, porque se ela só faz coisa ruim, uma música fraca, muito provavelmente vai trocar a minha idéia. Inclusive já deixei de ganhar bastante dinheiro por causa disso, mas prefiro não fazer, porque talvez eu não conseguisse dormir— declara.
Furando bloqueios
Nando disse que foi muito difícil furar o bloqueio dos meios de comunicação, mas a luta diária e a parceria ajudaram a conquistar seu espaço.
— Posso dizer que sofri muito até abrir esse espaço que tenho hoje. Não foi nada fácil, eu lutei dez anos para isso. Mas ainda hoje tenho problema com a mídia, porque quando faço uma música que fala de uma realidade do povo brasileiro ela dá as costas para mim. Deu no passado e até hoje ainda — conta.
— No disco que estou fazendo no momento, por exemplo, havia escolhido uma música de trabalho chamada Terra e céu que diz assim: "se o boi soubesse a força que tem/ não puxava carroça/ e a abelha a sua picada/ não roubavam o seu mel/ e a terra era a terra e o céu era o céu". E quando a levei na primeira rádio daqui de Pernambuco para saber como seria recebida, ela simplesmente foi rejeitada, falaram que não iriam tocar porque não teriam audiência — acrescenta.
Nando é bem atento às manifestações folclóricas de sua terra, mas também é aberto para falar da arte de outros lugares.
— Estou sempre muito ligado para o que acontece aqui no nordeste, mas posso colocar um samba, um ritmo que está surgindo na França ou na Inglaterra no meu disco ou nas minhas músicas, sendo que não é por isso que perco essa minha característica do nordeste, do Brasil, que eu amo e faço questão de trabalhar — fala.
— Estive recentemente no Peru, e cheguei aqui cheio de idéias das coisas que eu vi por lá, dos ritmos, das manifestações, das boas coisas. Na Colômbia aconteceu a mesma coisa, passei um tempo e observei que eles fazem uma música com ritmo de salsa, que chamam de top do interior, mas que tem muito a ver com o Brasil, e achei muito bonito — continua.
Nando está gravando no momento de forma independente, inclusive tem a sua própria produtora. Vende pela internet e depois das apresentações.
— Fui um dos primeiros artistas a deixar a gravadora, isso há doze anos, e montar a minha própria produtora para poder fazer tranquilamente os meus projetos, principalmente os instrumentais. Tenho cerca de quarenta choros prontos, por exemplo, inclusive fiz um disco no ano passado que fez um grande sucesso no meio dos chorões, e estou me preparando para fazer um segundo com convidados como Dominguinhos e Altamiro Carrilho — fala com orgulho.
O instrumento de Nando é o violão, mas ele trabalha mais como letrista em suas composições. Nos discos instrumentais, normalmente chama outros instrumentistas.
— Tenho um disco só de piano e violinos, discos com valsas e um pouquinho de clássico, discos de choro, de samba. Normalmente eu faço todo o projeto e contrato uma pessoa da área para produzir, um maestro e um músico daquele instrumento que vou usar — explica.
Nando Cordel terminou há pouco uma turnê pelo nordeste e por todo o país. Esteve na Europa, deverá se apresentar em dezembro no USA, e, depois de cinco anos sem gravar, tempo que passou se apresentando fora do país, está preparando mais um disco, que deve ser lançado até o final de dezembro,
— Nesse disco aparecerá um pouco do compositor e um pouco da influência de tudo que eu vi nesses últimos cinco anos, pelo Brasil e exterior — promete.