O Grupo de Xaxado Cangaceiros do Sertão, que faz parte da Companhia de Artes Populares de Santarém, cidade situada no alto sertão da Paraíba, apresenta uma das danças mais tradicionais nordestinas, o xaxado.
Formado principalmente por jovens, o grupo divulga a cultura de Santarém e a cultura popular nordestina a partir do teatro e da dança.
— A dança xaxado foi criada pelos cangaceiros do grupo de Lampião e Maria Bonita, como uma forma de comemorar as vitórias conquistadas. Normalmente depois de cada batalha eles faziam um churrasco, bebiam suas cachaças, e então dançavam o que recebeu o nome de xaxado em referência ao chiado das sandálias na areia do sertão — explica Clodoaldo José Souza, coordenador, coreografo e dançarino do grupo.
— No princípio da história da dança, por volta de 1920, eles dançavam com os seus fuzis, porque ainda não tinha mulher no cangaço. Faziam então de parceiras as sua armas. A partir de 1930, quando surgiu Maria Bonita, a companheira do cangaceiro Lampião, a mulher passou a fazer parte do grupo — continua.
Essa história aconteceu basicamente na região nordeste. Lampião nasceu em Vila Bela, atual cidade de Serra Talhada, Pernambuco, e percorreu os outros estados da região.
— Sua existência faz parte da própria cultura popular nordestina. Não dá para se dançar o xaxado e falar disso, ignorando os principais personagens de sua história: Lampião, Maria Bonita e os cangaceiros. O nome do espetáculo, ‘Quem disse que Lampião morreu?’ reflete bem o que se tornou este homem e seus companheiros — fala Clodoaldo.
— Nosso trabalho é resgatar, cultivar e divulgar a nossa cultura, por ser uma história verdadeira. Além disso, mostrar o homem Lampião, que para muita gente, por ouvir falar, foi um bandido, uma pessoa má que não sentia dor, não sentia amor, e não tinha uma pessoa para cuidar. Mas isso não condiz com o que sabemos — diz.
— O cangaceiro Lampião era um homem da terra, do sertão, um pequeno agricultor que para sobreviver também precisava trabalhar, e necessitava de amigos e uma companheira. Uma pessoa igual a nós. E fica a interrogação: quem foi Lampião? Na verdade, não o defendemos e nem o acusamos, simplesmente mostramos sua vida e o xaxado, e cada um pensa como quiser — acrescenta.
Dançando e representando o cotidiano dos cangaceiros
— Atualmente o grupo conta com 19 dançarinos. Normalmente nos apresentamos em festas tradicionais das cidades, em festivais e outros eventos. Nos apresentamos, em maior parte, nas ruas, onde está o povo. Algumas vezes também em teatros e, no caso de alguns festivais, em palcos montados em praças públicas — conta Clodoaldo.
— A peça dura 40 minutos. Começamos apresentando os hábitos e cotidiano da vida de Lampião, de Maria Bonita e dos outros cangaceiros, em forma de teatro: um lavando roupa, outro cozinhando, a outra varrendo o terreiro, outra limpando as armas, etc. Depois os cangaceiros vão se chegando ao espaço onde era reservado para eles fazerem as comemorações. Então recitamos sobre o xaxado e como vivia o cangaço — continua.
A partir daí o grupo apresenta as danças que os cangaceiros de Lampião gostavam: além do xaxado, o xote e o baião.
— O espetáculo termina com o assassinato de Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros pela polícia, utilizando para isso a teatralização de um grande tiroteio, e o fim de Lampião e do cangaço, mas ao mesmo tempo a preservação da sua história e da cultura local, que se misturam — fala Clodoaldo.
O grupo de xaxado Cangaceiros do Sertão gerou a Companhia de Artes Populares de Santarém.
— É uma companhia de arte que envolve dança, teatro, música, porque os dançarinos também cantam. Enfim, somos um grupo de jovens daqui dispostos a trabalhar com arte e manter viva nossa cultura. Além do xaxado, temos a quadrilha junina ‘Matutos do Sertão’ e peças teatrais voltadas para os festejos da cidade, entre outras eventuais atividades — explica.
— Como somos somente em 20 pessoas, quando necessário convidamos mais jovens da cidade para fazer parte de alguma apresentação. Para funcionar temos a ajuda de simpatizantes do nosso trabalho e dos prêmios que recebemos. Por exemplo, no ano passado fomos aprovados pela Fundação Nacional de Artes Cênicas na Rua, ganhando 20 mil reais por isso, o que nos proporcionou comprar um novo cenário e figurino, construindo toda a parte física dos nossos espetáculos — acrescenta.
No próximo mês de julho o grupo completa quatro anos de atividades. Segundo Clodoaldo, não é nada fácil trabalhar com cultura no alto sertão da Paraíba, deixando claro que é bem vinda qualquer ajuda.
— Estamos em uma pequena cidade que possui jovens, inclusive do nosso elenco, que não conhecem uma praia ou um edifício acima de 5 andares. São pessoas que jamais saíram daqui, mas que trabalham a cultura dentro da sua originalidade, sabendo reconhecer o que têm para mostrar para o resto do mundo — diz Clodoaldo, acrescentando que Santarém tem cerca de 2 mil habitantes e tenta preservar sua história e hábitos — finaliza Clodoaldo.
Os contatos do grupo são: (83) 3563-1057 (83) 9988-3540 / [email protected] e [email protected]