Teatro e reflexão política

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Teatro e reflexão política

Nascida dentro da Escola Municipal de Artes de Macaé/RJ, a companhia Inversos de Teatro, fruto de uma busca de inquietos jovens atores por novas formas de arte e expressão, prepara-se para estrear o espetáculo Companheiros. Lembrando a juventude combativa das décadas de 60 e 70, suas vivências e militância por igualdade social, mesmo correndo risco de prisões, torturas e morte, a trupe procura causar uma reflexão nos jovens de hoje quanto à necessidade de luta por mudanças, tratando um assunto real de forma artística.

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— Começamos nossas atividades aqui na escola mesmo, em 2007, com poesias de Fernando Pessoa. A partir daí, participamos de alguns festivais, como Festival Nacional de Teatro de Rio das Ostras e Festival de Esquetes de Cabo Frio, tudo aqui na região. Passamos um período recolhidos a estudos e, no ano passado, apresentamos Companheiros como um espetáculo de formatura da escola — Conta Carla Andrea, atriz do grupo.

— Formados, muitos foram para outras cidades, seguiram outros caminhos e nós, que ficamos, abraçamos Macaé e resolvemos levar a companhia adiante porque acreditamos no teatro do interior e no potencial de reflexão das pessoas daqui. Somos jovens artistas que sentimos a necessidade de fazer arte seja onde for. Por aqui, às vezes, fica tudo muito parado, então nos propomos a movimentar. Para isso, resolvemos resgatar o Companheiros e remontá-lo, desta vez, fora da escola — continua.

O grupo ficou cerca de quatro meses estudando o texto, antes de pensar em palco.

— Pegamos documentários, filmes, lemos tudo que podíamos sobre a época. Reestruturamos o texto e fizemos algumas adaptações, de acordo com nossas pesquisas porque já definimos que o estudo tem um imenso valor, não só o da técnica teatral, mas do conteúdo, afinal, estamos tratando de algo real. Contudo, não é uma peça simplesmente política porque, além da trajetória dos jovens que lutaram, pegaram em armas, mostramos as relações de amizade e amor — diz Carla.

Para dar um toque final ao trabalho, a trupe convidou o dramaturgo, diretor e professor de teatro, Ademir Martins, que está morando em Macaé no momento.

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— Queríamos um olhar de fora, de alguém de grande valor. Além disso, ele viveu essa época retratada na peça e tem muito para passar para nós. Até porque a grande verdade é que nós, os jovens, somos filhos dos que passaram por isso, mas, muitos de nós fomos educados para nunca passar, a medida em que nos foi negado um real entendimento sobre o assunto, tanto nas escolas como em nossas próprias casas. De alguma forma nos disseram: ‘deixa quieto’, ‘ já passou’, e não sabemos o que realmente é esse ‘já passou’ — declara Carla.

— A minha geração foi educada para não saber esse momento da história do país. Portanto, é claro, surgiu a alienação dos jovens. Mas não sabemos até que ponto somos alienados porque queremos, ou por nos negarem esse engajamento político. Daí vem a importância desse trabalho. Queremos que os jovens parem para pensar que precisamos mudar, que não dá mais para achar que está tudo ótimo — acrescenta.

Conscientização das massas

Carla observa que vários jovens que fomentaram o movimento de resistência pertenciam à chamada “classe média”.

— Os que tinham acesso de fato as grandes discussões eram as pessoas que conseguiam chegar nas universidades, o povo mesmo não conseguiu falar. Mas acreditamos que o povo precisa ser atingido, mobilizado para isso porque, se estivesse de fato junto nessa luta, não sabemos se teria o mesmo rumo — fala Carla.

— Tanto que, quando começou a chegar ao campo, ao povo mesmo, eles perceberam: ‘agora está chegando onde não pode chegar’. E mandaram o AI5. Então queremos acender uma luzinha nas pessoas, trazendo-as para essa reflexão nos dias de hoje, que se fala em democracia, mas não sabemos que democracia é essa — continua.

Buscamos fazer um teatro que desperte para temas que talvez estejam um pouco obscurecidos, escondidos. Trabalhamos para mostrar a realidade e aquilo que acreditamos em relação à arte, à vida, para que haja realmente um despertar e uma nova conscientização com relação ao que acontece atualmente, que democracia é essa que vivemos — complementa Douglas Gambarô, ator convidado da Companhia Inversos.

Nesse momento, o grupo conta com nove componentes. Todos trabalham em outras atividades durante o dia e se juntam a noite nos estudos e ensaios. Para ajudar na sobrevivência do coletivo, entre outras, já fizeram rifas, almoços e pedágios.

— Nosso trabalho não é para ficarmos famosos ou ganharmos muito dinheiro, e sim para mexer com as pessoas. Somos amantes do teatro e entendemos que estamos a serviço da nossa arte. O que precisamos é de apoio para podermos levar nossos espetáculos para outros lugares, principalmente daqui da região — fala Carla Andrea.

— Não temos ainda a nossa sede, então, contamos com a ajuda de amigos, camaradas que nos oferecem um espaço para ensaiarmos. Também é um pouco complicado conseguirmos pautas em teatros. Mas nada disso nos serve de barreira. Costumo dizer que se não tiver lugar, subimos em uma caixa de fósforo e a fazemos de tablado — comenta Douglas Gambarô.

— Conseguir público também é bastante complicado, porque as pessoas estão acostumadas a ir atrás dos famosos. Mas isso está mudando. Aqui em Macaé, temos uma classe artística que fervilha. Além da nossa companhia, existem outras e acredito que, de alguma forma, as pessoas se ajudam — conclui Carla Andrea.

A estreia de Companheiros, está marcada para os dias  02 de julho, as 20:00hs, e 03 de julho, as 19:00hs. No Teatro do SESI, em Macaé. O contato do grupo é: [email protected]

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