Comemorando dez anos de trabalho com o teatro de rua, a trupe carioca Será o Benidito?! tem uma pesquisa voltada para a arte de rua, o teatro popular, o circo, a comédia, contos populares, cordéis, música, autores brasileiros e criações coletivas. Nascidos do tradicional grupo Tá Na Rua, criado por Almir Haddad, em 1980, o grupo tem uma linguagem clara e objetiva e a preocupação de ganhar a confiança e aproximação do povo que o assiste, para que melhor possa refletir, brincar e vivenciar o momento.
— Começamos nossas pesquisas em 1992 e depois de passarmos por vários nomes, modificações, entradas e saídas, e instabilidades até mesmo na própria pesquisa, já que algumas pessoas foram seguindo outras linhas, em 2002 iniciamos oficialmente nossas atividades com o espetáculo As aventuras de Pedro Malasartes, e adotamos o nome definitivo de ‘Será o Benidito?!’ — conta André Garcia Alvez, que é diretor, ator e pesquisador do grupo.
— E o curioso é que foi exatamente por conta de termos passado por vários nomes, que escolhemos esse, porque um dia, em uma reunião, alguém falou: “mas será o benidito que a gente nunca vai chegar a um nome?” Então chegamos ao consenso que ‘Será o Benidito?!’ seria um bom nome para a companhia e adotamos (risos) — continua.
— Somos oriundos de uma oficina de teatro feita pelo grupo Tá na Rua, daqui do Rio de Janeiro. Inclusive a nossa grande mestra, Ana Carneiro, que hoje também trabalha como diretora e pesquisadora do grupo, foi nossa professora nessa oficina — diz.
Já com nome e linha de pesquisa popular bem definida, o grupo seguiu realizando vários espetáculos, sempre voltado para a temática da rua, dos espaços abertos e gratuitos, a participação do povo.
— Ao longo desses anos, montamos vários espetáculos: As aventuras de Pedro Malasartes foi um marco para nós, indicado a prêmios; tivemos o Brinca e roda, roda e brinca; logo em seguida O salto; depois Colombina, performance circense e poética de rua, entre outros. Sempre participamos de editais. Dessa forma, vamos montando nossos espetáculos — explica André.
— Mas tem alguns espetáculos que queremos muito levantar e realizar, então, produzimos com nossos recursos para não deixar de fazer o que acreditamos. Nosso objetivo já está na descrição do nosso nome: Será o Benidito?! Companhia de Teatro, Circo e Rua. Fazemos teatro em palco, rua e o circo teatro. Exploramos todas as possibilidades do teatro, do circo e da arte de rua. Trabalhamos com circo no picadeiro, na rua e no teatro — acrescenta.
— O atual espetáculo se chama Dados variáveis. É baseado na pesquisa da oralidade e a cameloturgia, e no teatro de variedades. Essa pesquisa tem todos os elementos das ruas do Rio. Pesquisamos os camelôs das ruas, trens, praias e de vários cantos da cidade. Isso reflete diretamente na construção do espetáculo. Estreou no último dia 15 de julho. Realizamos uma temporada de rua que circulou pelas quatro regiões da cidade: centro e zonas Sul, Norte e Oeste — continua.
A importância do público
Ganhar a confiança e amizade do público, segundo André, é uma das metas mais importantes do grupo, para melhor desenvolver seu trabalho.
— Temos como parte do nosso trabalho começar na hora combinada ou divulgada. O início de cada apresentação depende do espetáculo que vamos fazer. Não temos uma tradição ou forma estabelecida de iniciar o espetáculo. As apresentações são recheadas de surpresas, que é o que move os nossos espetáculos. Contamos com o estímulo vindo do público e isso ajuda na relação de confiança e proximidade com o espectador — declara.
— As pessoas que participam são consideradas como atores fundamentais para o desenvolvimento do espetáculo. Quando conseguimos, abrimos o microfone e deixamos o público questionar e debater o que acabou de assistir. Durante a apresentação, se tem alguém que quer fazer algum tipo de protesto ou algo do tipo, o deixamos à vontade para fazê-lo, pois a nossa arte por si só já é política. Então, se é política para nós artistas, que seja política para o público — acrescenta.
— Não obrigamos o público assistir os nossos espetáculos. Não criamos uma relação de deslumbre e sim uma relação de troca e de afeto com que nos assistem. E o pessoal que assiste arte de rua é muito honesto, franco e imediato. Se não comunicamos a verdade, ele vira as costas e vai embora — continua.
André conta que diretamente ainda não teve problemas com o poder público, por se apresentarem nas ruas, porém, indiretamente já aconteceram vários casos.
— O mais recente foi na temporada desse novo espetáculo. Solicitamos a autorização para uma apresentação na Subprefeitura do bairro de Campo Grande, para nos apresentar no Calçadão de Campo Grande, e já de cara fomos informados que lá não pode ter mais nenhuma apresentação. O que acontece é que o espaço público hoje é terra de ninguém. Está subdividido por secretarias, subprefeituras, regiões administrativas e outros órgãos que não se comunicam e não tem diálogo entre si — expõe.
— Contudo, estamos preparando um novo espetáculo, para estrear em outubro próximo, que se chama Poropopó. Não temos apoio e vamos montar com recursos próprios. No espetáculo, vamos resgatar a tradição da cultura oral circense com números clássicos da palhaçaria. Também estamos reestreando o primeiro espetáculo da companhia, que montamos em 2002, com uma temporada no Parque das Ruínas, no bairro de Santa Teresa, sempre aos domingos, às 16hs — avisa.
— E já estamos nos preparando agora para comemorar os nossos dez anos de existência, em 2012, com a montagem de dois novos espetáculos e esta remontagem. Atualmente, o grupo é composto por dez pessoas, sendo cinco fundadores ou que atuam a pelo menos seis anos, e os outros que chegaram este ano. É uma galera que, depois de uma oficina que fizemos, ficou por perto e que já está trabalhando na companhia — conclui André.
Para entrar em contato com a companhia teatral Será o Benidito?! ou saber sua agenda: www.seraobenidito.com.br