Cena de A Palhaçada do plebiscito
Grupo paulista de teatro e cultura popular, a Confraria da Paixão, trabalha em prol de um teatro que alcance a população excluída desse bem cultural. Trabalhando com bonecos, máscaras, palhaços, e tendo uma especial afeição pela literatura de cordel, o coletivo chega aos 11 anos de existência com vários espetáculos, intervenções de rua, oficinas, e uma pesquisa permanente sobre teatro e cultura brasileira, buscando a construção de uma poética popular.
— A Confraria surgiu em março de 2001, em São Paulo, como resultado de anos de reflexão sobre a questão do teatro popular, que eu vinha tendo, voltado para a ideia de trabalhar para pessoas que nunca tiveram acesso ao teatro. Inicialmente criamos uma coisa chamada ‘Manifesto pela brasilidade’, onde colocávamos os objetivos do grupo, e convocamos publicamente pessoas que estivessem interessadas em trabalhar nesta linha — Conta Luiz Monteiro, coordenador do grupo.
— Das que apareceram, 18 pessoas acabaram ficando e participando da nossa primeira reunião no campus aberto da USP, ao ar livre. Por oito meses trabalhamos por lá e também na rua Buenos Aires, no centro de São Paulo, fazendo treinamento com os atores, dentro do grande objetivo do grupo que era encontrar uma poética popular — continua.
Cena de A Palhaçada do plebiscito
— Queríamos trabalhar gêneros teatrais em vias de desaparecimento como: a farsa popular, o teatro de bonecos, o palhaço, a máscara, a comédia e o drama circenses, o melodrama popular. E assim montamos nosso primeiro espetáculo, A farsa do rei que virou boi, ensaiado inteiramente na rua — relata.
A partir daí o grupo passou a se apresentar nas ruas, comunidades, favelas, bairros pobres, escolas, etc.
— Nosso foco são os espetáculos de rua, mas podemos nos apresentar em qualquer outro local. Há dez anos conseguimos nossa sede aqui na Barra Funda, região central de São Paulo. Não tem espaço para nos apresentarmos, mas serve para realizarmos a produção dos espetáculos, ensaios, e oficinas. Temos a nossa videoteca e biblioteca, abertas, por enquanto, somente para os alunos. Mas pretendemos ampliá-la, inclusive a parte de baixo já está em obras — comenta Luiz.
Cena de A Palhaçada do plebiscito
— Ao longo desse tempo construímos 16 espetáculos e várias intervenções de rua. Gostamos de trabalhar com temas que envolvam questões sociais do momento e temos uma afinidade muito grande com a literatura de cordel, por exemplo, sete desses nossos espetáculos foram inspirados, baseados e adaptados da literatura de cordel — fala.
— Temos uma espécie de teatro escola, que prepara os novos atores para a companhia, e fizemos um trabalho social durante três anos na periferia de Santo Amaro, criando cursos e montando espetáculos com grupos de jovens e crianças. Atualmente somos 12 componentes fixos, e dependendo do espetáculo vamos colocando alunos para atuarem também — diz.
Unidos em uma mesma direção
O objetivo principal dos atores da Confraria, segundo Luiz, é trabalhar a cultura popular, a conscientização através da arte.
— Todas as nossas peças são voltadas para o popular. Até o espetáculo baseado em Aristóteles, em 2010, seguiu essa linha, com uma adaptação voltada para o povo. O nome do grupo inclusive diz bem isso: confraria é um nome medieval que indica uma associação de pessoas que têm o mesmo ideal, no nosso caso, essa afinidade é o teatro popular, é paixão por ele — explica.
— As pessoas que procuram a Confraria da Paixão têm uma posição ideológica definida em relação ao próprio país. Nós vivemos em uma nação perversa, onde a distribuição de renda é perversa e os direitos não são para todos. Um país onde a arte, a cultura, não é acessível a todos, a maioria da população é excluída desses bens culturais. Assim, todos nos empenhamos na luta contra essa realidade, remando contra a maré, mas, oferecendo para as pessoas um contraponto ao que está acontecendo — declara.
— Nós e muitos outros grupos daqui de São Paulo, e do Brasil inteiro, trabalhamos dessa forma, levando até as pessoas toda essa riqueza cultural do país, e fazendo uma troca do que tem nesses locais, uma troca de bem cultural que é tão fértil no Brasil. E temos conseguido muitas coisas, muitos momentos emocionantes no nosso trabalho — continua.
Segundo Luiz tudo que a confraria tem conquistado até agora é com o esforço dos atores, sem apoios.
— Temos sobrevivido através das oficinas que realizamos, que inclui teatro, cordel, confecção de cenários e tudo mais que conhecemos, e também cursos diversos. Nossos espetáculos são na maioria das vezes gratuitos — conta Luiz.
— Além disso, cada ator tem seu trabalho, paralelo ao grupo, mas sempre ligado à arte. Dão aulas e fazem outras coisas relacionadas ao teatro, desde que não comprometa o nosso ideal, porque todos concordamos de não nos vendermos para o capitalismo por qualquer motivo que seja — diz.
— Não teria sentido se para podermos realizar nosso trabalho de teatro popular, tivéssemos que nos vender para o capitalismo, isso foge do nosso ideal. Temos uma identidade bem definida e preferimos continuar resistindo — conclui com convicção.
Para contatar o coletivo: www.confrariadapaixao.com.br