Há mais de vinte anos desenvolvendo um trabalho de pesquisa e divulgação do choro, o grupo mineiro Flor de Abacate se apresenta todas as quintas-feiras no tradicional Bar do Bolão e contribui para transformar o local num dos mais tradicionais redutos do choro das noites belo horizontinas. Dando preferência por tocar choros pouco conhecidos e composições próprias, o grupo possui um repertório seleto e de qualidade.
– Nossa primeira formação foi em 1978, como uma brincadeira, um divertimento somente. Éramos estudantes de música e não tínhamos pretensão em levar o choro profissionalmente. Mas, a partir de 1989, resolvemos fazer um trabalho profissional e, por conta disso, iniciamos uma pesquisa extensa sobre o choro existente em todo o Brasil – diz Sílvio 7 Cordas, músico e diretor musical do grupo.
– Pesquisamos vários compositores e começamos a montar o nosso repertório, procurando valorizar músicos pouco conhecidos e composições inéditas. Sempre inserimos nossos próprios arranjos, para dar a nossa característica – fala Sílvio, que é da época da formação do grupo.
– Nosso nome tiramos de um choro famoso, Flor de Abacate, de Álvaro Sandin. É uma composição do século passado e uma das primeiras gravações do Jacob do Bandolim. Normalmente, os grupos de choro têm uma tendência a colocar nomes relacionados a fatos pitorescos ou título de choros (risos) – comenta.
Atualmente, o grupo conta com: Sílvio, violão de 7 cordas, Marcos Flávio, trombone, Túlio Braga, cavaquinho, Ramon Braga, pandeiro, e Rubinho, bandolim. Todos chorões convictos, aproveitam o crescimento de apreciadores do gênero na cidade.
– Minas Gerais tem alguma tradição de músicos de choro devido ao contato com chorões do Rio de Janeiro, onde esse gênero nasceu. Eles sempre vieram para cá tocar e passar de alguma forma o seu saber. Assim, foi contagiando, crescendo e, hoje, já existe grandes nomes do choro aqui em Belo Horizonte – afirma Sílvio.
– Existem muitos projetos que ajudam a fermentá-lo, como: ‘BH Choro’, que participamos ao lado do bandolinista carioca Joel Nascimento e o ‘Choro Livre’. Além das oficinas de cavaquinho, violão, flauta, saxofone, trombone e outros. Também há várias casas que tocam choro na cidade. Posso garantir que um terço das noites belo horizontinas são regadas de choro – afirma Sílvio que também é diretor cultural do Clube do Choro de Belo Horizonte.
– Mas essa efervescência só começou há uns quatro ou cinco anos. Passou a despertar o interesse de músicos universitários, fazendo o gênero crescer e se espalhar por aqui. O povo que ouviu gostou, pediu mais e, hoje, tem choro por toda parte. Tocamos em teatros, praças públicas e tudo mais que aparece. Fora daqui, já nos apresentamos em São Paulo, Brasília e no Espírito Santo, entre outros lugares, onde também temos ministrado oficinas de choro – conta com entusiasmo.
Música e bate-papo no bar do Bolão
– Todas as quintas-feiras nós estamos presentes no Bar do Bolão. É um bar bem tradicional, o reduto mais antigo de choro em Belo Horizonte. Uma casa aconchegante, que tem um churrasco, alguns tira-gostos muito bons, e lá nos juntamos sem nenhum propósito comercial. É uma reunião de músicos que querem tocar, rever os amigos e conversar. E recebemos convidados de toda parte do país – fala com alegria.
– E pelo fato de estarmos sempre presentes no bar, algumas pessoas acham que residimos no local, ou que somos filhos do Bolão, o dono do bar (risos). Nós o consideramos muito e talvez por isso, se cria essa confusão nas pessoas, uma espécie de fantasia de que todo o Flor de Abacate mora lá no casarão e são todos filhos do Bolão. Enfim, o imaginário popular é realmente muito fértil – brinca Sílvio.
– Mas não é nada disso. Só nos encontramos lá nas quintas-feiras, de uma forma alegre e descontraída, como um encontro familiar mesmo, sempre com a presença do Bolão, nos incentivando e se alegrando conosco – explica.
Segundo Sílvio, o mineiro de Diamantina José Raimundo dos Reis, mais conhecido como Bolão, é um veterano chorão, hoje aposentado.
– Ele foi clarinetista por muitos anos, depois passou a tocar violão de 7 cordas. Idealizou o bar e o inaugurou em 1992. Nessa época, ainda não tínhamos tanto contato, mas ele nos convidou para fazer uma audição no bar. Acabamos ficando. Na verdade, como sempre foi bom e continuou sendo, quando percebemos já estávamos tocando todas as quintas-feiras – fala.
– E esse exímio executante de clarinete e de violão, hoje já está com 88 anos e já não tem a destreza de antes, mas possui um grande ouvido, sabendo apreciar muito bem o choro. É uma figura espetacular, é o regente da casa – elogia.
E foi a partir das reuniões no Bolão que o Flor de Abacate construiu seu trabalho, já conhecido Brasil afora, com quatro CDsgravados, já trabalhando no próximo.
– Estamos sempre pensando em ir em frente, procurando um espaço para a nossa música. Normalmente, nosso público-alvo são músicos e apreciadores de choro. A maior parte de nossos discos é de música instrumental, porque o choro tradicional é executado dessa forma. Mas já fizemos alguns trabalhos com choros cantados também – comenta.
– Em todos os nossos discos gostamos de ter pelo menos duas ou três composições autorais, porque dentro da nossa proposta de executar e divulgar o choro, passando por pesquisa de autores, inclui também as dos integrantes do grupo (risos). Dessa forma, é comum aparecer composição minha e de todos os outros, afinal somos todos chorões convictos – finaliza Sílvio 7 Cordas.
O Bar do Bolão está situado na Rua Vila Rica, 637, Padre Eustáquio, Belo Horizonte/MG. O telefone para contatos é (31) 3245-1569. Para contratar o Flor de Abacate: [email protected]