Tem mineira no forró

Tem mineira no forró

Mineira, radicada há 11 anos no nordeste, Irah Caldeira canta o forró, e outros ritmos nordestinos, com a alegria e leveza de uma autêntica filha daquelas terras. Para Irah, a música regional não está limitada a um estado e sim a todo o povo brasileiro, entendendo que a cultura de qualquer ponto do país, é patrimônio de toda a nação.

— A essência do meu trabalho é o forró, o que chamamos hoje de forró tradicional ou pé-de-serra, para diferenciar de algumas bandas estilizadas que fazem um trabalho de modismo. Canto acompanhada de uma banda com: sanfona, violão, flauta, percussão, bateria, zabumba, triangulo e baixo. Também chamo para o palco uma companhia de dança popular, para representar o forró, xaxado, baião, coco, ciranda, e tudo mais que costumo cantar em meus shows — conta Irah Caldeira.

Ela procura deixar claro que ama Minas Gerais, e enxerga ali riquezas culturais intensas. Mas que entre todos os ritmos que teve contato, elegeu alguns nordestinos para trabalhar, por um sentimento de amor que não sabe explicar.

— Foi a própria música que me trouxe para o nordeste. Desde menina tenho uma afinidade grande demais com as coisas daqui. Não tenho raízes nordestinas, não sei dizer de onde vem isso, mas o fato é que sempre parei tudo que estava fazendo, quando ouvia Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e outros, tocando no radio lá em casa — lembra.

— Evidentemente o meu trabalho traz influência da música mineira, das modas de viola, tudo que vi na infância, mas identifiquei-me mais com o forró. Não gosto do rótulo ‘música regional’, quando é colocado para limitá-la a um local. Claro que caracteriza uma região, mas brasileiros de outras partes têm direito a ela, desde que a ame e respeite — acrescenta.

Sem saber ainda o que gostaria de fazer na vida, Irah se casou aos 17 anos de idade, e teve 3 filhos.

— Levava os meninos para a escola, cuidava da casa, enfim, a rotina de uma dona-de-casa. Por situações da vida, precisei trabalhar, no caso, gerenciando uma gravadora de anúncios publicitários. Isso me proporcionou um contato novamente com a música. A partir daí passei a cantar em uma banda, fazendo bailes — conta Irah.

Neste momento, a forte tendência pela música nordestina ficou mais intensa em sua vida.

— A primeira vez que cantei na banda, pedi que me deixassem colocar um bloco de forró. Mas na época existia um certo preconceito em relação a ele, era algo ‘visto meio que de lado’, considerado diversão de pobre. E como os bailes eram feitos para um público mais elitizado, houve bastante resistência — comenta.

— Até que um dia o dono da banda me deixou cantar um forró, com condições: ‘você começa cantando, se ninguém levantar e dançar, então passa imediatamente para o bloco dos anos 60’. Mas para sua surpresa, ‘todo mundo’ levantou e dançou. Tive até que repetir (risos). A partir daí não deixei mais de cantar forró, até mesmo quando fazia barzinho em Minas, acompanhada só de um violão — fala Irah Caldeira.

Abraçando o nordeste

A mudança para o nordeste aconteceu por acaso: uma de suas irmãs estava visitando Caruaru, PE, e comentou com algumas pessoas que fez amizades por lá sobre a paixão de sua irmã pela música nordestina.

— Eles acharam engraçado ‘uma mineira cantando forró’. E assim ela acabou conseguindo para mim, uma temporada no shopping de Caruaru, isso em 1998. Logo depois mudei para cá, me fixando em Recibe — conta.

Irah Caldeira tem sete discos gravados: ‘Mistura Brasil’, 1999; ‘o canto do rouxinol’, 2001; ‘Irah Caldeira canta Maciel Melo’, 2004; ‘Entre o calango e o baião’, 2006, calango é um estilo de música mineira; ‘Ao vivo 1’, 2007, o registro dos shows da temporada; e ‘Ao vivo 2’, em 2008.

Este ano já lançou o Dvd ‘Girassol do desejo’, em maio, e o cd ‘Maria das Dores da Luz’, em novembro.

— Este cd é fruto de uma pesquisa que fiz em 2008 sobre as mulheres compositoras do nordeste. No decorrer, percebi que existe uma dificuldade muito grande desta mulher mostrar suas canções, por uma certa timidez, não sabemos precisar exatamente a origem disto . No passado se dizia que o mundo do forró era um universo machista. Hoje já conseguimos reverter esse quadro, no que diz respeito a cantoras, mas na parte das compositoras ainda existe uma grande barreira — relata.

— Pelas pesquisas que fiz, com certeza esse universo da composição ainda é muito masculino. Porém estamos lutando para mudar isso também, porque aqui temos compositoras fantásticas, talentos incríveis, perdido entre muita timidez. São mulheres batalhadoras, inteligentes, com uma sensibilidade imensa para compor, com obras belíssimas, e que ainda dizem ‘ah, eu fiz uma musiquinha aí, não sei se você vai gostar’ — comenta Irah.

— Encontrei compositoras como Selma do Samba, que tinha uma imensidão de músicas prontas e nunca gravadas. Coloquei duas de suas músicas no CD. Também a dona Maria do Horto, que é uma lavadeira do Ceará, uma mulher fantástica, com uma história de vida interessante, uma brasileira trabalhadora, lutadora pela sua sobrevivência e com um talento nato — acrescenta .

Além de Selma do Samba e dona Maria do Horto, o CD tem muitas outras compositoras, de toda parte do nordeste, que nunca tiveram suas músicas gravadas. O disco tem também a participação de Aurinha do Coco, de Pernambuco, que canta um coco com Irah.

Intérprete da mais alta qualidade, Irah também compõe, mas, como as outras compositoras da terra, diz o fazer de forma bem modesta.

— No meu caso é porque prefiro me dedicar mais a arte de interpretar a música, e isso me toma muito tempo. Além disso, gosto de cuidar de tudo que tem a ver com minha carreira, mesmo tendo um pessoal trabalhando comigo, atendo ligações, vou em lojas, respondo a todas as pessoas que me escrevem. Mas, mesmo com pouco tempo, escrevo algumas letras, e estou começando a grava-las agora: coloquei duas no DVD e outra no disco das compositoras nordestinasi — conta.

Irah Caldeira conta que faz shows constantes em Pernambuco e por todo o nordeste, durante todo o ano.

Por aqui, por mais que exista essa coisa da grande mídia e seus modismos descartáveis, tem tido um grande espaço para a música popular cultural, as manifestações do povo. Durante as festas de ‘São João’, chegamos a fazer três apresentações por dia. No carnaval também trabalhamos muito. São os blocos, os caboclinhos, a ciranda, o maracatu, e claro, o forró. É o que chamamos de carnaval cultural, com espaço para todos os segmentos. Fora esses momentos, continuo me apresentando bastante, com shows todos os meses — finaliza Irah Caldeira.

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