Professor Jose Maria Sison
Consultor Geral da Liga Internacional da Luta dos Povos — ILPS
De Rode Hoed, Amsterdam
Sinto-me contente por ter sido convidado pelo Comitê Internacional de Coordenação da Liga Internacional da Luta dos Povos (ILPS ) para falar sobre a globalização imperialista e o terrorismo. É uma tarefa gratificante discutir um tópico de importância crucial e urgente como este.
Da maneira com que o tópico é apresentado, presumo haver um profundo interesse na relação entre a globalização imperialista e o terrorismo. Proponho discutir que o terrorismo econômico caracteriza o capitalismo em seus vários estágios de desenvolvimento e que o imperialismo significa guerra e terrorismo.
Se o dinheiro, de acordo com Angier, “vem para o mundo com uma mancha de sangue congênita na face”, o capital vem pingando, de cada poro, sangue e sujeira da cabeça aos pés.
O terrorismo econômico aumenta em brutalidade no estágio mais alto e final do capitalismo — no capitalismo monopolista ou moderno imperialismo. A extração da mais-valia dos trabalhadores aumenta em intensidade na sociedade capitalista. E a crise de superprodução torna-se mais terrível para o povo trabalhador.
No entanto, antes que o proletariado se torne forte o suficiente para tomar o poder político e construir o socialismo, a burguesia monopolista tenta suavizar a crise econômica exportando bens e capital excedentes, sujeitando os povos e nações oprimidas à superexploração. As colônias, semicolônias, países dependentes, se tornam a fonte mais barata de trabalho e as matérias primas, os campos de maior renda de investimento.
Os povos e nações oprimidos sofrem as mais brutais formas de exploração. Recebem sanções econômicas e militares sempre que as colônias adquirem uma independência superficial e se transformam em semicolônias ou países dependentes. As massas trabalhadoras, então, são submetidas aos métodos neocoloniais de superexploração, com os imperialistas exigindo que os regimes marionetes realizem os ditames do capitalismo monopolista.
Embora o neocolonialismo aparente constituir um absoluto controle econômico e financeiro, os imperialistas sempre precisam usar a pressão política e a força militar impondo às neocolônias a submissão aos termos da superexploração. Desta forma, eles impõem acordos militares bilaterais e multilaterais para ter os instrumentos e impor os acordos econômicos e ditames das agências multilaterais como o FMI, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio.
A crise de superprodução, os deficits de comércio e o crescimento do débito resultam em piores condições de vida e de salários. O desemprego, os salários, o empobrecimento e as privações pioram nas semicolônias e nos países dependentes. A maioria do povo, nesses lugares, vive com menos de um dólar por mês.
Enganosamente, o cerco imperialista é chamado de globalização do "livre mercado". Este embuste político da burguesia monopolista, sob o viés político keynesiano, serve para culpar os trabalhadores pela inflação e pela estagnação econômica. Também considera inflacionário qualquer gasto social feito pelo estado capitalista.
O mito do "livre mercado" (na verdade, capitalismo monopolista) tenta convencer que o crescimento resulta da privatização dos bens públicos, da criação de maiores recursos financeiros para as companhias monopolistas — gordas de contratos estatais —, corroendo ou eliminando os direitos duramente adquiridos pelos trabalhadores, ou eliminando a proteção às mulheres e crianças, descumprindo garantias sociais.
A crise ianque arrasta todo o sistema à mais terrível depressão
O USA mergulhou em profunda depressão, como resultado da superprodução de bens de alta tecnologia, do rompimento da "bolha financeira" e do colapso da "nova economia". Esta "nova economia" foi previamente criada como uma economia crescente sem inflação ou com baixa inflação. Para manter a economia em equilíbrio, o Federal Bank do USA teria, simplesmente, que ajustar e reajustar as taxas de juros.
A crise econômica do USA mergulhou todo o sistema capitalista mundial na pior espécie de depressão desde o fim da II Guerra Mundial. Todos os centros globais do capitalismo estão em recessão. O resto do mundo, dependente dos pedidos por matérias primas e semimanufaturas dos países imperialistas, vive em um estado de acelerada depressão.
Mesmo antes dos ataques de 11 de setembro ao World Trade Center e ao Pentágono, a administração Bush propusera o aumento da produção militar para solucionar a atual crise econômica ianque e o sistema capitalista mundial. Na véspera dos ataques, o USA proveu as empresas monopolistas de grandes cortes, de impostos e de contratos militares.
Mas a abordagem do USA em relação à produção militar de alta tecnologia não resolverá a crise econômica, seja no USA ou em todo o mundo. Agravará a crise, a histeria bélica, e colocará todo o planeta sob a ameaça de novas guerras de agressão promovidas por ele e por outros países imperialistas.
O imperialismo significa guerra e terrorismo
De todas as forças violentas surgidas até hoje, foi o imperialismo quem cometeu os maiores crimes contra a Humanidade — das guerras interimperialistas às chamadas guerras limitadas e os regimes de terror.
Como resultado de sua agressão pela partilha do mundo, as potências imperialistas produziram intensas e terríveis guerras globais, como a I e II Guerras Mundiais, resultando na morte de milhões de pessoas. Os interesses coloniais conflitantes e os altos orçamentos bélicos levaram à I Guerra Mundial. As insuportáveis imposições feitas aos perdedores e a ascensão do fascismo levaram à II Guerra.
Até o início da Guerra Fria, em 1948, o USA ostentou o registro infame de ter assassinado 1,4 milhões de filipinos, de 1899 a 1916, na conquista e pacificação das Filipinas. Tinham também sobre si a notoriedade do uso da bomba atômica sobre populações civis de Hiroshima e Nagasaki, além do extermínio de 240 mil japoneses.
Desde o início da Guerra Fria, o USA foi responsável pela matança de, pelo menos, 12 milhões de pessoas, através de guerras de agressão e massacres orquestrados por seus lacaios reacionários.
O USA matou 4,6 milhões de coreanos na Guerra da Coréia — de 1950-53. Também mataram de 6 a 7 milhões na guerra de agressão contra o Vietnã e o resto da Indochina. Instigados pelos ianques, os seus lacaios reacionários mataram mais de um milhão de indonésios em 1965 e mais de dois milhões de pessoas em outros lugares.
Após terem derrubado o Xá, o USA instigou o Iraque a fazer uma guerra prolongada, desfechando uma flagrante vingança ianque contra o Irã. Patrocinaram o fundamentalismo islâmico no Afeganistão com a intenção de levantar o povo contra as forças soviéticas e contra o regime apoiado pela (ex) União Soviética. Implementaram o fanatismo religioso anticomunista para motivar os contra-revolucionários e ativar bombardeios sobre o povo da Nicarágua durante o governo sandinista.
Através de regimes lacaios, o USA patrocinou todos os possíveis atos de terrorismo, o que inclui prisões e detenções ilegais, torturas, assassinatos, incêndios, rapina, evacuação forçada e assim por diante. Milhões de pessoas na Ásia, África e América Latina sofreram com esses atos de terrorismo.
Não podemos nos esquecer do tributo humano exigido pelos regimes terroristas de apoio ao USA como os de Chiang Kaishek, em Taiwan; Ngo Dinh Diem, no Vietnã; Suharto, na Indonésia; Marcos, nas Filipinas; Videla, na Argentina; Pinochet, no Chile; Fujimori, no Peru; Mobutu, no Congo, etc.
Quando o USA emergiu da Guerra Fria como a única superpotência, os imperialistas e seus propagandistas decretaram que a paz e a civilidade reinariam. Mas, na verdade, o USA se tornou cada vez mais arrogante e sedento de sangue, se engajando em atos flagrantes de intimidação, interferência, intervenção e agressão. Nos últimos 12 anos, desencadeou três guerras de agressão em larga escala — as do Iraque, Iugoslávia e Afeganistão — e no processo lucraram com espólios, como os recursos petrolíferos e contratos militares, enquanto os povos sofreram terrivelmente com o terror do imperialismo em todas essas guerras de agressão.
O que faz tais guerras serem extremamente abomináveis é a covardia no uso do poder aéreo e de outras armas de alta tecnologia para bombardear e massacrar a população civil, destruir estruturas civis, incluindo barragens, usinas elétricas, hospitais, creches, escolas, fábricas, edifícios de escritórios, igrejas e meios de comunicação.
O USA e seus aliados imperialistas são responsáveis pela ruína econômica e social dos países, como resultado dos investimentos externos, da austeridade de medidas que perturbam a produção e o consumo. Além disso, instiga os conflitos étnicos e religiosos, gerando rivalidades e massacres civis, com o objetivo de desviar o povo da via revolucionária, permitindo que ele irradie sua hegemonia.
O USA é o agressor e terrorista número um da Humanidade. Não importa o quanto seja, ocasionalmente, chocante a atividade de pequenos grupos privados de terroristas; todos eles desaparecem perante a sombra do superterrorismo ianque.
O USA está oprimindo o povo em sua própria fronteira, especialmente os imigrantes da Ásia, África e América Latina e aqueles que pertencem à fé islâmica. Promulgaram o Patriot Act fascista, sob o disfarce de antiterrorismo, impondo a outros países o modelo de legislação anti-democrática e medidas draconianas.
O USA está açulando a repressão dos países dominados a fazer (e fazendo) prisões arbitrárias, detenções incomunicáveis e sem acusações, cortes militares contra civis, assassinatos ou rapto de líderes antiimperialistas para serem julgados em tribunais controlados por eles mesmos. Foi concedida permissão à C.I.A. para assassinar líderes antiimperialistas no estrangeiro.
O que pode fazer a ILPS
O USA declarou guerra ao Irã, Iraque e Coréia do Norte ao condenarem tais países como "eixos do mal". Assim, também, apontaram outros 12 por estarem "abrigando terroristas", ameaçando os governos desses países, caso não estivessem dispostos a se livrar dos "terroristas".
No momento, mil tropas ianques permanecem baseadas em Luzon, Visayas e Mindanao, todas nas Filipinas. O pretexto é que essas tropas estão treinando homens e oficiais filipinos para lutarem nas zonas de combate de Basilan e Jolo, contra um pequeno grupo: Abu Sayyaf — uma criação da C.I.A. com a colaboração de alguns oficiais filipinos, lacaios que, no início dos anos 90, se voltaram contra a Frente Moro de Libertação Nacional.
O objetivo real e principal da presença militar do USA nas Filipinas é participar ativamente no combate contra o Novo Exército Popular, os exércitos de Bangsa — moro, e criar bases militares no sul das Filipinas com o intuito de se estabelecer no centro de Brunei, Indonésia, Malásia e Filipinas. Além de exercitar o controle sobre o petróleo e outros recursos naturais, como as rotas do comércio internacional na região. Os países mencionados são grandes produtores de petróleo e as bacias de Cotabato e Palawan, em Mindago, são conhecidas por suas ricas reservas de petróleo.
Por causa do tráfico de artefatos de guerra, do aumento de produção bélica e atos de agressão ianque, as enormes massas deverão estar vigilantes, resolutas e militantes na oposição ao imperialismo. Elas não devem se intimidar ou se confundir pela grande desordem, tumulto e guerra geradas pelo imperialismo. Ao contrário, deverão entender tais manifestações como sinal de desespero do imperialismo e tirar vantagem dessas condições, tornando-as favoráveis para o avanço da causa revolucionária.
A Liga Internacional da Luta dos Povos deve fazer o melhor que puder para levantar, organizar e mobilizar as massas a lutarem contra a globalização imperialista, contra a guerra e o terrorismo conduzidos pelo USA. A ILPS necessita defender e promover os direitos e interesses do povo, como descrito nos 18 pontos do seu Estatuto. Precisa lutar pela libertação nacional e social do povo e, para cumprir este propósito, terá que atrair mais organizações, engajar-se na sua educação política, conduzir campanhas e ligar-se às outras forças destinadas a construir uma vasta rede de solidariedade antiimperialista e uma frente única internacional.