Terrorismo de Estado colombiano viola fronteiras

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Terrorismo de Estado colombiano viola fronteiras

Um operativo militar foi acionado na noite de 1º de março de 2008 para bombardear um suposto acampamento de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia — Exército Popular, localizado a poucos quilômetros da fronteira colombiana, em território do Equador. As pessoas estavam dormindo, à exceção dos três guerrilheiros de sentinela, e 17 delas foram mortas pelas bombas assassinas enviadas pelo imperialismo ianque. Entre os mortos estava Luis Edgar Devia, conhecido como Comandante Raúl Reyes, tido como o segundo na hierarquia de comando das FARC-EP.

Manifestações de repúdio à violência do Estado
colombiano ocorreram em diversas cidade do mundo
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Bruxelas
Bogotá
Londres
La Paz
Otawa

Soldados, abram os olhos
Que estão caindo seus próprios irmãos
A gente humilde que protesta pela má situação
Enquanto um pobre civil é espancado por um pobre uniformizado
Feliz da vida, o rico observa como cresce o barrigão
Mandam o filho alheio para a guerra
Mas eles nunca vão para a guerra
Da pátria, o homem é o principal
E ao homem da pátria o esfarrapam
(de Julián Conrado, cantor assassinado em 1o de março no Equador, junto a outros 16 guerrilheiros das FARC-EP)

Os sinais deixados no local do acampamento indicam que os aviões Super Tucano colombianos despejaram 4 bombas, que atingiram o alvo no sentido sul-norte, indicando que as aeronaves se deslocavam de dentro do território equatoriano para a Colômbia. Em seguida, vários helicópteros continuaram atacando o acampamento e desembarcaram alguns comandos encarregados de executar os feridos, o que foi demonstrado pelas marcas nos cadáveres, que denotavam tiros pelas costas.

A versão de que a ação se deu durante uma perseguição aos guerrilheiros das FARC-EP foi prontamente desmentida pela informação de que todos os mortos não estavam em roupas de combate quando foram mortos, com exceção das três sentinelas que guardavam o acampamento. Isto revela que a ação já estava planejada e que nada se deu como conseqüência de um combate. Tal planejamento se tornou possível com a utilização de modernos aparelhos de seguimento eletrônico, que teriam localizado Raúl Reyes através de seu telefone celular.

Há ainda denúncias de que cerca de dez mexicanos, provavelmente estudantes, estariam também acampados com os guerrilheiros para realizar uma pesquisa universitária sobre as FARC-EP. Em nada o acampamento se assemelhava a uma unidade militar pronta para combater.

Declarações das FARC-EP dão conta de que Raúl Reyes se encontrava em missão para negociar com autoridades francesas a libertação da ex-senadora franco-colombiana Ingrid Bettancourt, sequestrada pelas FARC-EP há mais de 6 anos.

Desde o fim do ano passado as FARC-EP vinham negociando, com a intermediação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a libertação unilateral de alguns reféns, notadamente ex-parlamentares colombianos. Este processo tem desgastado a gerência de Uribe, que vê Chávez ampliar sua influência sobre questões internas de seu país.

Quem era Raúl Reyes?

Raúl Reyes ingressou nas FARC-EP em meados da década de 1970, quando sofreu ameaças de morte e teve vários companheiros assassinados por sua atividade sindical. Era funcionário da Nestlé em sua cidade natal, Florência, considerada a porta de entrada da Amazônia colombiana. Em poucos anos conquistou postos de comando dentro da organização e compunha, desde o início da década de 1990, o secretariado da guerrilha.

Era considerado o porta-voz das FARC-EP, tendo dirigido as conversações com a gerência de Andrés Pastrana — anterior a Uribe — em uma zona desmilitarizada da Colômbia.

É provável que sua esposa tenha sido assassinada também no ataque ao acampamento no Equador. Raúl Reyes tinha três filhos.

Plano Colômbia e a Amazônia

O Plano Colômbia foi deflagrado em outubro de 2000, quando um grande operativo do exército do Estado colombiano atacou unidades guerrilheiras em Putumayo, sul da Colômbia, a principal zona produtora de petróleo do país.
O "combate ao narcotráfico" é a desculpa formal dada pelo governo ianque, mas está fora de questão que o Plano Colômbia é, na verdade, um grande plano de contrainsurgência na América Latina e controle da região amazônica e seus fabulosos recursos naturais.

Um grande cerco estratégico já vinha sendo montado com a instalação de bases militares ianques na América Latina. No próprio Equador, país invadido pelas tropas do Estado colombiano, há a base de Manta, cuja instalação foi negociada e assinada em 1999 por um chanceler equatoriano e um general ianque, ambos com poderes para falar em nome de seus respectivos países. O acordo prevê a cessão da base por dez anos renováveis por períodos de 5 anos.
O fato é que é muito provável que a recente operação contra as FARC-EP tenha sido desencadeada em estreita colaboração entre os exércitos ianque e colombiano. A própria presença da Base de Manta sugere isso. Ademais, apenas dois dias antes da chacina no Equador, o contra-almirante Joseph Nimmich, diretor da Força Tarefa Conjunta Interagencial do Sul dos Estados Unidos, foi recebido no Comando Geral das Forças Militares em Bogotá pelo chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Militares da Colômbia, o almirante David René Moreno. O objetivo oficial da visita teria sido o de "compartilhar informação vital sobre a luta contra o terrorismo".

O lacaio Uribe

Álvaro Uribe Vélez vem executando com esmero insuperável os desígnios que emanam da Casa Branca. Sua entrega ao Plano Colômbia é de dar inveja a outros gerentes semicoloniais que almejam servir sempre melhor ao patrão do norte.
Sua política interna, de terrorismo de Estado e criminalização da pobreza, tem inspirado inclusive a alguns gerentes estaduais do Brasil, como Sérgio Cabral Filho, do Rio de Janeiro e Aécio Neves, de Minas Gerais, que visitaram recentemente a Colômbia para "aprender como se combate o crime organizado".

São inúmeras as denúncias que ligam a família de Uribe ao Cartel de Cali, aquele que era chefiado por Pablo Escobar, o mais famoso traficante de seu tempo. Uribe, um fantoche dos ianques, fomentou e acobertou as atividades dos paramilitares. Estes grupo de mercenários, bem ao gosto do USA, circulam livremente pelas ruas e campos da Colômbia.

Imediatamente após a ação que resultou na morte de Reyes e outros 16 membros das FARC-EP, o governo ianque declarou seu apoio incondicional às ações de "combate ao terrorismo" realizadas por Uribe. Os pré-candidatos à Casa Branca, claro, também declararam seu apoio.

Mas o povo da Colômbia não pensa assim. No dia 6 de março uma enorme manifestação com mais de um milhão de pessoas encheu as ruas de Bogotá em protesto contra o assassinato de Raul Reyes e demais vítimas do terrorismo de Estado colombiano. Em várias outras cidades da Colômbia também houve manifestações, assim como em diversas localidades do mundo, como Bruxelas, Cairo, Paris, Nova Iorque, Montevidéu e muitas outras.

Conflitos fronteiriços

A invasão do território do Equador é mais um fato a entrar na conta das provocações do imperialismo, visando desencadear conflitos na região e desestabilizar ainda mais os frágeis e subservientes Estados semicoloniais latino-americanos. A eventualidade de um conflito entre países da América Latina justificaria uma intervenção militar ianque a pretexto de "restaurar a democracia" ou outra coisa do gênero, a fim de se assenhorear definitivamente das riquezas estratégicas para a manutenção de sua hegemonia.

As fronteiras entre Equador, Colômbia e Venezuela estão envoltas em contendas entre os três países desde a separação da Grande Colômbia, que reunia também o Panamá — arrancado à Colômbia pelo imperialismo para controlar o canal do Panamá. As fronteiras definitivas entre a Colômbia e a Venezuela foram demarcadas definitivamente apenas na década de 1960, mas ainda há reclamações por uma arbitragem internacional da disputa. Além disso, a Venezuela também reivindica uma grande faixa do território da Guiana.

Mas o fato é que ocorreu um flagrante desrespeito às leis internacionais que dizem que o território de um país é inviolável. Sabe-se, no entanto, que as "sagradas leis" não se aplicam a todos, tendo o imperialismo, principalmente ianque, se dado já o direito de não reconhecer fronteira nenhuma, a não ser que lhe interesse.

O vil monopólio da imprensa

Prosseguindo em seu papel de demonização e ataque da direita contra os governos de Hugo Chávez, Fidel Castro e outros, o monopólio dos meios de comunicação mundial comemorou o assassinato do líder das FARC-EP e lançou as mais furiosas mentiras sobre o grupo guerrilheiro.

De Raúl Reyes, dizem que era um frio assassino, terrorista, traficante e outras coisas mais. É como tratam todos os militantes populares, todos que se engajam no processo revolucionário. Obviamente o monopólio de imprensa não fala que nos últimos anos houve 15.000 assassinatos na Colômbia, todos praticados pelas forças militares do Estado e paramilitares, dentre eles mais de 2.550 dirigentes sindicais e 1.700 indígenas. Tratam como uma democracia um regime fascista que pratica o terrorismo de Estado contra seu povo.

A luta do povo colombiano pela sua independência e direito a autodeterminação nem sequer é mencionada, porque para a imprensa lacaia é um absurdo um povo se levantar contra a dominação imperialista. Tratam de impingir a todos a pecha de criminosos, e ao Estado a obrigação de caçá-los e matá-los.

Alguns, como o "colunista" Augusto Nunes, do Jornal do Brasil, chegam a reconhecer que realmente houve a violação do território equatoriano, mas esse pequeno "descuido", prossegue, é irrelevante perto do grande serviço prestado a humanidade por Uribe ao livrá-la deste celerado que era Raúl Reyes. E outros xingamentos deste nível foram facilmente encontrados nos telejornais e nas páginas dos jornalões reacionários do Brasil.

A revista Veja — um dos mais reacionários veículos do monopólio da imprensa —, na sua edição de 12 de março, destila todo seu ódio e se esforça por vincular Chávez à guerrilha colombiana, tratando-o como terrorista internacional. Até o PT é censurado pela revista — "guardiã da ética na política" — por participar do Foro de São Paulo, um aglomerado oportunista que aceita as FARC como membro. Em geral, a publicação solta fogos e rojões pelo que considera um duríssimo golpe nas FARC-EP.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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