A cidade de Itabira, Região Metropolitana de Belo Horizonte, é o berço da Vale do Rio Doce, recentemente rebatizada como Vale. O município mineiro é carinhosamente chamado pela sua população como "cidade da poesia" por ser também a terra natal do ilustre poeta Carlos Drummond de Andrade, e é também conhecida como "cidade do ferro", reconhecida assim desde a origem do seu nome na língua tupi (ita – pedra, bira – que brilha), devido à alta concentração de minério de ferro em sua formação geológica.
E a Vale, nascida há mais de meio século no entorno de uma mina de minério de ferro de Itabira até se tornar a maior mineradora, um gigantesco monopólio privado com mais de 100 mil trabalhadores, explorações em 30 países e receita bruta de R$ 21 bilhões, iniciou uma onda massiva de demissões atingindo brutalmente o povo daquela cidade.
No fim do ano passado, a Vale anunciou a demissão de 1.300 trabalhadores, a maioria de funções administrativas. Em Itabira, 230 empregos diretos e indiretos foram cortados. Na maioria funcionários terceirizados. O comércio local paralisou as vendas e a população foi às ruas protestar.
A Vale anunciou uma proposta indecorosa, rapidamente aceita pelas centrais governistas, para que os trabalhadores recebessem metade do salário e benefícios, como assistência médica, seguro de vida, previdência complementar, cartão de alimentação, reembolso de gastos com creches, escolas e material escolar.
Dez sindicatos que representam cerca de 21.400 trabalhadores em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, no Rio de Janeiro e no Pará assinaram prontamente o lesivo acordo.
No entanto, os trabalhadores de Itabira se recusaram em assinar a retirada dos seus direitos. A sua resistência não tardou a ser ouvida e recebeu a adesão dos seus companheiros trabalhadores da Vale em Congonhas – MG. Os dois sindicatos que representam 4.500 trabalhadores acionaram a justiça contra os termos do acordo, exigindo a manutenção dos empregos e de todos os benefícios.
"Essa discussão de crise econômica não cola, o assunto para a Vale não é dinheiro, isso ela tem de sobra", declarou o eletricista Paulo Soares de Souza, presidente do Metabase de Itabira e Região em comunicado do sindicato e acrescentou: "A questão é política: há um acordo do Roger Agnelli (presidente da Vale) com a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) para impor a flexibilização da legislação trabalhista no país. A discussão que devemos ter é política".