No último dia 24 de agosto foram localizados no México os corpos de 72 imigrantes de toda a América Latina assassinados perto da fronteira com o USA. Segundo o noticiário, todos morreram porque se recusaram a trabalhar para a empresa capitalista de compra e venda de drogas, negócio altamente lucrativo que no México ora alcança alto grau de concorrência para atender à demanda na grande potência vizinha.
72 imigrantes foram assassinados por bandoleiros na fronteira
As vítimas do crime no México eram do Brasil, Equador, El Salvador, Guatemala e Honduras. Eram pessoas que, como tantas outras em meio ao padecimento das massas latinoamericanas pauperizadas, arriscaram-se na travessia da fronteira mexicana com o território ianque em busca de trabalho e de meios de ajudar suas famílias, vítimas da precarização cada vez mais agravada das condições de vida das classes populares nas semicolônias.
Entretanto, ao contrário do que o USA, o monopólio internacional dos meios de comunicação e a própria gerência mexicana tentam fazer crer, a chacina de imigrantes no México é antes uma consequência das políticas migratórias geridas desde o covil do imperialismo do que propriamente da guerra entre os cartéis de drogas. Estas políticas, racistas, xenófobas e hipócritas porque são concebidas para azeitar a exploração de trabalhadores latinos pelos industriais ianques, criam as condições para que os imigrantes ditos “ilegais” fiquem vulneráveis a extorsões, agressões, explorações, ameaças e toda sorte de barbaridades antes e depois de atravessarem a fronteira — se chegarem a atravessar.
A seleção capitalista de imigrantes na divisa entre o México e o USA faz da imigração clandestina um mercado que movimenta US$ 3 bilhões por ano na região. É dinheiro repartido entre cartéis criminosos, “coiotes” (gente que cobra pequenas fortunas para guiar a entrada ilegal no USA), “cônsules” (intermediários entre as pessoas interessadas em ir para o USA e os “coiotes”) e policiais e agentes de fronteira corruptos. Obama, que se diz amigo dos imigrantes, só vem agravando essa situação.
Vinte mil imigrantes sequestrados por ano
O mesmo Obama que demagogicamente entrou com um processo contra o estado do Arizona por conta da draconiana lei anti-imigrantes promulgada pela oligarquia política daquela jurisdição — a que criminaliza a imigração ilegal — assinou em agosto uma lei para militarizar a fronteira do USA com o México.
A lei prevê a liberação de US$ 600 milhões para “reforçar a fronteira com o México”, o que inclui o envio para a lá de mais 1.500 agentes e a compra de aviões-espiões não tripulados Predator, do tipo que é utilizado pelos ianques no Afeganistão e no Paquistão, a fim de acirrar a repressão aos imigrantes que entram no USA sem permissão.
Se no Arizona os estrangeiros desprovidos da documentação exigida pela burocracia para viver e trabalhar são agora enquadrados como criminosos comuns, na fronteira eles são considerados inimigos. Não todos, é claro. Só o contingente que sobra do lado latino da divisa após aquela ininterrupta peneira de mão-de-obra barata regulada segundo os interesses dos industriais ianques, nos moldes das feiras de escravos coloniais.
É Obama dando continuidade ao legado racista de Bush, que construiu o famigerado muro entre o USA e o México. Recentemente, o títere do império, Felipe Calderón, “presidente” do México, anunciou que pretende construir um outro muro, desta vez na fronteira do seu país com a Guatemala, sob o pretexto de combater o contrabando de mercadorias ilegais, mas verdadeiramente para erguer mais um entreposto do draconiano processo de seleção de trabalhadores latino-americanos pelo USA — processo no qual os traficantes de drogas mexicanos cada vez mais parecem funcionar como uma fase eliminatória adicional.
Estatísticas oficiais dão conta de que por ano 20 mil imigrantes latinoamericanos são sequestrados por cartéis criminosos mexicanos e obrigados a pagar resgates de até US$ 5 mil cada um. Muitos são assassinados para intimidar os outros a pagarem.